O papa Francisco ressaltou nesta segunda-feira o "esforço e sacrifício" da Igreja Católica para levar sua mensagem a todos os cantos de Cuba, em uma missa campal em Holguín (leste). "Sei com que esforço e sacrifício a Igreja Católica em Cuba trabalha para levar a todos, incluindo nos locais mais distantes, a presença de Cristo", declarou o Papa ante a multidão reunida na Praça da Revolução Calixto García de Holguín, na segunda missa de sua visita à ilha.
"Uma menção especial merecem as chamadas 'casas de missão' ante a escassez de templos e de sacerdotes, pois permitem a tantas pessoas que tenham seu espaço de oração, de escuta da Palavra (de Deus), de catequese e de uma vida em comunidade", acrescentou pontífice. Esta localidade do sudeste da ilha é famosa por sua cruz emblemática de cinco metros erguida em 1790 no alto de uma colina e por ser a região natal dos irmãos Castro.
Após perder espaço após a revolução comunista de 1959, a Igreja Católica tem recuperado espaço na sociedade cubana nos últimos anos e se transformou em um importante interlocutor do governo de Raúl Castro, que substituiu seu irmão Fidel em 2006 e que assistiu a missa. Como parte do inédito diálogo iniciado em 2010 entre os bispos católicos e o presidente cubano, o governo começou em 2013 a devolver à Igreja imóveis nacionalizados há meio século, quando Fidel impôs o ateísmo na Constituição. Mas em 1992, Cuba passou a ser um país laico e sem discriminação de religião.
"As autoridades do país sabem muito bem que a Igreja não pede para si, mas que solicita aquilo que necessita para cumprir a missão que Jesus encomendou", declarou na missa papal o bispo de Holguín, Emilio Araguren. "A Igreja está convencida de que o Evangelho pode fazer que cada cubano tenha um rosto mais bondoso e mais humano, já que a fé em Jesus Cristo alimenta a vivência na virtude", acrescentou. A missa coincidiu com a festividade católica de São Mateus, um dos quatro evangelistas, que teve sua história de conversão ao cristianismo destacada por Francisco.
O papa chegou à praça após percorrer 14 km em 'papamóvel' desde o aeroporto de Holguín. Várias horas antes da missa, a praça central já estava lotada de fieis da região e de outras províncias. "Viemos vê-lo porque o amamos por tudo o que ele fez pela paz e por Cuba", declarou à AFP Norales Mendoza, um vigia de 45 anos que passou nove horas na estrada.
A província de Holguin é também a primeira área onde Cristóvão Colombo desembarcou em 1492, e foi em sua baía que teria aparecido em 1612 a imagem flutuante da Virgem da Caridade de El Cobre, padroeira de Cuba. Na parte da tarde, o Papa visitará Santiago de Cuba, o maior porto do leste, conhecido durante a revolução cubana como a "cidade heroica", porque foi onde Fidel Castro anunciou publicamente, em 1º de janeiro de 1959, o sucesso da sua revolução.
À noite, o papa se reunirá com os bispos e visitará o Santuário Nacional no povoado de El Cobre, a 27 km da cidade de Santiago de Cuba, templo mais venerado em Cuba, nação de sincretismo religioso e mestiçagem.
Missa final
Visivelmente cansado, sofrendo com o calor abafado, Francisco participou no domingo de vários encontros com fieis, religiosos, a juventude, o presidente Raúl Castro e seu irmão Fidel. O encontro com o "líder máximo", que liderou Cuba durante meio século (1959-2008), foi discreto como aquele entre Fidel Castro e o papa Bento XVI em 2012, e permitiu que os dois homens conversassem em um ambiente "familiar e informal" sobre problemas mundiais, começando com o meio ambiente. À noite, claramente exausto, Francisco falou mais rapidamente do que o normal aos jovens cubanos reunidos em frente à catedral, falando da cultura do diálogo e pedindo para que "sonhassem" em um futuro melhor para o qual poderão contribuir.
Pouco antes, aos religiosos cubanos, com rosto sério e marcado pela irritação, falou com virulência contra uma igreja mundana e exaltou a pobreza e misericórdia. Desde sua chegada a Cuba, o papa Francisco tem tido cuidado para não ofender as autoridades locais, uma vez que sua visita é focada no diálogo. Alguns círculos da oposição queixaram-se de que o papa, como Bento XVI antes dele, não concordou em receber uma delegação de dissidentes.
O porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, disse a jornalistas na noite de domingo que o Vaticano tinha estabelecido contatos com dissidentes, mas que nenhum encontro estava programado.