O escândalo dos motores a diesel do grupo Volkswagen ganhou proporções sem precedentes nesta terça-feira, depois que a montadora alemã admitiu que 11 milhões de veículos em todo o mundo foram equipados com o software que frauda o resultado de testes de emissões de poluentes.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos abriu uma investigação penal contra a montadora alemã, que admitiu ter fraudado os testes de quase 500.000 automóveis a diesel vendidos no país, segundo informou à AFP uma fonte próxima ao caso.
O escândalo veio a público na sexta-feira e a empresa alemã suspendeu as vendas de todos os veículos a diesel nos Estados Unidos, o que pode custar 18 bilhões de dólares à montadora.
A espiral do escândalo atinge vários países do mundo. A Itália anunciou que vai iniciar uma investigação, a França pediu uma apuração europeia e a Coreia do Sul convocou dirigentes da VW para esclarecimentos.
O governo alemão ordenou um controle minucioso de todos os modelos da marca Volkswagen.
Pelo segundo dia consecutivo, as ações da Volkswagen despencaram na Bolsa de Frankfurt. Às 13h10 GMT (10h10 de brasília) perdia 18%, a 108,40 euros. Em dois dias, caiu 35%, eliminando 25 bilhões de euros de capitalização.
A Volkswagen reconheceu que "investigações internas mostraram que o software em questão também estava presente em outros veículos a diesel" da montadora, e não apenas em carros VW e Audi, como era a suspeita até então, mas também Skoda, Seat e Porsche.
A fraude, que visava burlar os testes de emissões com um software de detecção, envolve os motores a diesel modelo EA189, o que representa "um volume total de cerca de 11 milhões de veículos no mundo", de acordo com a montadora.
"Transparência total"
Em Berlim, a chanceler Angela Merkel chamou o peso pesado da indústria alemã, orgulho nacional com estreitos laços com a capital, a agir com "total transparência" sobre este caso.
Nos Estados Unidos, o diretor-executivo da Volkswagen America, Michael Horn, admitiu que "nossa companhia foi desonesta com a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) e com o comitê de Recursos do Ar da Califórnia, com todos vocês (...) 'ferramos tudo".
Horn prometeu "consertar as coisas com o governo, com o público, com nossos clientes, nossos empregados e também, mais importante, com nossos distribuidores".
A Comissão Europeia considerou "prematuro" adotar "medidas de vigilância imediatas" na Europa após as revelações sobre os controles de emissão de poluentes fraudados.
A Volkswagen, que poderia ter de pagar até 18 bilhões de dólares em multas apenas nos Estados Unidos, sem contar os custos de eventuais processos judiciais, reservará 6,5 bilhões de euros de suas contas do terceiro trimestre (julho-setembro) como precaução. A medida deve provocar um rombo considerável no lucro anual da gigante automobilística, que teve 200 bilhões de euros em receitas em 2014 e tem 600.000 funcionários no mundo todo.
De acordo com a imprensa alemã, os membros mais influentes do Conselho Fiscal devem se reunir na quarta-feira em Wolfsburg (norte), sede da empresa, na presença do CEO, Martin Winterkorn.
O jornal Tagesspiegel informou que Winterkorn perdeu a confiança do órgão de fiscalização e seria afastado do cargo na sexta-feira em uma reunião do Conselho de Supervisão, em favor do chefe da Porsche, Matthias Müller.
Empregos ameaçados?
Originalmente, a agenda da reunião de sexta-feira seria sobre a extensão do contrato de Winterkorn até o final de 2018.
Olaf Lies, ministro da Economia do estado regional da Baixa Saxônia, acionista da Volkswagen a 20% e membro do Conselho Fiscal, advertiu nesta terça-feira que "está claro" que cabeças devem rolar neste caso.
"Determinaremos quem sabia o quê, quem tomou as decisões", disse ele.
Algumas pessoas na Alemanha já começam a se preocupar com o descrédito que pode afetar o "made in Germany" e o prejuízo para a indústria como um todo, pilar da economia e um fator essencial do sucesso na exportação.
"Outros exportadores poderiam sofrer com este escândalo", considerou Marcel Fratzscher, presidente do instituto de pesquisa DIW, entrevistado pelo jornal Bild.
E, segundo ele, "empregos estão ameaçados na Volkswagen e seus fornecedores". A indústria automotiva empregava cerca de 800.000 pessoas na Alemanha no ano passado (excluindo temporários).
No Salão do Automóvel IAA em Frankfurt, grande evento do setor, a Volkswagen retirou todos os modelos a diesel de seu estande nesta terça-feira.