A Volkswagen admitiu nesta terça-feira ter equipado onze milhões de carros em todo o mundo com um software de manipulação de dados de emissões de poluentes, um escândalo que voltou a derrubar as ações da gigante alemã na Bolsa.
O índice Dax 30 de Frankfurt caiu 3,80%, puxada pelas ações da Volkswagen, que despencaram 19,82%, após uma desvalorização de quase 18% na segunda-feira.
Assim, em dois dias, a desvalorização dos papéis da maior fabricante do mundo chegou a 35% em relação a sexta-feira, quando estourou o escândalo.
O caso foi descoberto nos Estados Unidos, que nesta terça-feira anunciou a abertura de uma investigação penal.
"Cerca de 11 milhões de veículos no mundo todo foram equipados com um programa de informática para fraudar os resultados dos controles de poluição", admitiu a companhia em comunicado.
"Novas investigações internas demostram que esse software foi instalado em outros veículos a diesel do grupo", apontou. Isso poderia indicar que softwares fraudulentos detectados em modelos das marcas VW e Audi nos Estados Unidos poderiam estar presentes em outras filiais, que conta com marcas como Seat, Skoda e Porsche.
A Volkswagen anunciou também que gastará 6,5 bilhões de euros no terceiro trimestre do ano para enfrentar as primeiras consequências do caso. Isso levará a empresa a ajustar suas metas de lucro para 2015, segundo informou.
Desculpas do presidente
O presidente da montadora alemã Volkswagen, Martin Winterkorn, disse nesta terça-feira "sentir muito" pela "falta" cometida pelo grupo, que equipou 11 milhões de veículos a diesel com um software que burlava os teste de emissões de poluentes.
"Eu estou infinitamente desolado por termos decepcionado a confiança de milhões de pessoas em todo o mundo", declarou Winterkorn em um vídeo divulgado no site da Volkswagen.
"Apresento profundas desculpas aos nossos clientes, autoridades e a opinião pública por esta falta", acrescentou o executivo, que diz não ter neste momento "as respostas para todas as questões".
Segundo o jornal Handelsblatt, Winterkorn terá que prestar contas do caso em uma reunião de uma parte do Conselho de Vigilância prevista para quarta-feira.
A princípio, na próxima sexta-feira, a Volkswagen prolongará o mandato de Winterkorn até o final de 2018, mas analistas questionam se essa decisão será mantida após o escândalo.
Merkel exige 'transparência total'
A chefe do governo alemão Angela Merkel exigiu "transparência total" para esclarecer o caso que compromete a credibilidade de uma empresa identificada com a excelência da indústria alemã.
A espiral do escândalo ultrapassou fronteiras.
Nos Estados Unidos, onde a agência californiana de proteção do meio ambiente (Carb) já investigava o caso, a divisão de recursos naturais do Departamento de Justiça decidiu abrir um processo penal contra a empresa.
Itália e França anunciaram a abertura de investigações, enquanto as autoridades sul-coreanas convocaram diretores do grupo para exigir explicações.
As autoridades americanas revelaram na última sexta-feira que 482.000 veículos das marcas Volkswagen e Audi, fabricados entre 2009 e 2015 e vendido nos EUA foram equipados com um software que detectava automaticamente os controles de contaminação com o objetivo de fraudar os resultados.
A Volkswagen suspendeu desde então a venda de carros a diesel no mercado norte-americano.
A companhia, que conta com 590.000 funcionários em todo o mundo, pode ser condenado a uma multa de até 18 bilhões de dólares. A esse valor somam-se os custos da retirada desses veículos do mercado e as indenizações por eventuais processos públicos e privadas.