O escritor francês Mathias Enard, de 43 anos, recebeu nesta terça-feira o Prêmio Goncourt, a mais prestigiosa premiação da literatura francesa, por seu romance "Boussole" ("Bússola"), uma erudita e densa reflexão que combate os preconceitos contra o Oriente.
"Estou muito surpreso e feliz", declarou o agraciado à imprensa.
Enard vive boa parte do tempo em Barcelona e disse que deseja "continuar escrevendo livros".
"Boussole" tem uma narrativa com elementos de ensaio e poesia, que reflete sobre as relações entre Oriente e Ocidente, longe dos clichês do "choque de civilizações".
"Com seu fraseado musical, (o livro) transmite amor pelo Oriente e por seus tesouros a preservar", afirmou o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, acrescentando que "é uma bússola para nossa época".
Fascinado pela cultura oriental, Enard é um intelectual poliglota que fala árabe e persa, espanhol e catalão, entre outros idiomas.
Depois do anúncio do Goncourt, o autor disse à imprensa que seu romance é "muito acessível".
Um dos objetivos do livro, explicou, é lutar contra a imagem simplista de um Oriente muçulmano e inimigo, mostrando, em contrapartida, tudo o que proporcionou ao Ocidente.
"Nós, os europeus, vemos (as atrocidades cometidas na Síria e em outras partes do Oriente Médio) com o horror da alteridade, mas essa alteridade é igualmente horrorosa para um iraquiano, ou para um iemenita (...) Aquele que identificamos nessas atrozes decapitações como 'o outro', 'o distinto', 'oriental', é igualmente 'outro', diferente' e 'oriental' para um árabe, um turco, ou um iraniano", ressaltou.
O prêmio foi divulgado após as deliberações dos membros da "Academia Goncourt". Esse grupo de literatos se reuniu, como sempre, no restaurante Drouant, no centro de Paris. E é lá que o anúncio acontece, tradicionalmente.
Também anunciado depois do almoço de escritores, o prêmio Renaudot foi para a francesa Delphine de Vigan, por seu romance "D'après une histoire vraie" (em tradução livre: "Segundo uma história real").