A França anunciou nesta quinta-feira a morte do suposto cérebro dos atentados de Paris, o jihadista belga AbdelHamid Abaaoud, durante a operação policial de quarta-feira em Saint-Denis.
Neste contexto de tensão, as dúvidas sobre o retorno do jihadista belgo-marroquino à Europa evidenciam as falhas dos serviços de inteligência do continente.
Seis dias após os ataques maias mortais já realizado em território francês, o corpo de Abaaoud, crivado de balas durante a operação, foi formalmente identificado pela polícia, segundo um comunicado do procurador François Molins, responsável pelo caso.
Na quarta-feira, uma grande operação policial foi lançada contra um apartamento de Saint-Denis, na periferia norte de Paris, depois que uma testemunha indicou que AbdelHamid Abaaoud, que supostamente estaria na Síria, estava, na verdade, na França.
Além de ser o suposto mentor da chacina da última sexta-feira, Abaaoud esteve envolvido em quatro de seis atentados frustrados este ano na França, segundo o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve.
"Seis atentados foram evitados ou desbaratados pelos serviços franceses desde a primavera (hemisfério norte) de 2015, e Abaaoud estava implicado em quatro deles", afirmou Cazeneuve.
Conhecido como Abou Omar al-Baljiki ("o belga", em árabe), o jihadista de 28 anos ativamente procurado era uma das figuras francófonas do Estado Islâmico (EI), a organização que reivindicou os piores atentados já cometidos na França, deixando 129 mortos e 332 feridos.
Pequeno delinquente que se radicalizou e foi para a Síria em 2013, Abaaoud apareceu nas primeiras páginas dos jornais belgas no começo de 2014, depois de ter levado para a Síria seu irmão, Younes, de 13 anos.
Em fevereiro, alardeava ter entrado e saído da Europa para preparar atentados na Bélgica, frustrados pela polícia.
Seu destino permaneceu incerto até agora, quando estavam sendo identificados os corpos mutilados de duas pessoas mortas no ataque de Saint-Denis.
Agora, rondam as dúvidas sobre como este homem, alvo de um mandado de prisão europeu e internacional entrou na França.
"Nenhuma informação de países europeus sobre sua presença (...) nos foi comunicada", lamentou o ministro do Interior , Bernard Cazeneuve.
Oito pessoas também foram presas durante a operação, cujas identidades ainda não foram divulgadas.
Continuar 'prudente'
Após a identificação de Abaaoud, os investigadores tentam reconhecer os restos mortais da segunda pessoa encontrada morta no apartamento de Saint-Denis. Os policiais que trabalham no caso acreditam trata-se de uma mulher que detonou seu cinturão de explosivos e que seria Hasna Ait Boulahcen, prima do mentor dos ataques.
A casa da mãe desta mulher de 26 anos, que se radicalizou há seis meses segundo familiares, foi revistada nesta quinta-feira.
A busca continua por Salah Abdeslam, 26 anos, outro suspeito-chave que metralhou em 13 de novembro os terraços dos cafés e restaurantes parisienses, ao lado do irmão Brahim Abdeslam, que detonou os explosivos que levava em frente a um bar.
Ele está sendo muito procurado após fugir de Paris no sábado. Dois supostos cúmplices desta fuga foram presos em Bruxelas e condenados por "atentado terrorista". Outro jihadista, não identificado, também estaria foragido.
Na Bélgica, seis mandados de busca foram lançados na quinta-feira na região de Bruxelas no "círculo imediato" de Bilal Hadfi, 20 anos, um dos kamikazes de Paris.
O anúncio da morte de Abaaoud, "o belga" ocorre num momento tenso, já que os deputados franceses autorizaram nesta quinta-feira o governo a bloquear, dentro do estado de emergência decretado, os sites e redes sociais que fazem apologia ao terrorismo.
O ministro do Interior pediu nesta para que a Europa "se organize no âmbito da luta contra o terrorismo", compartilhando informações de forma eficaz e adotando, nomeadamente, um registo comum dos passageiros dos transportes aéreos.
"A Europa que tanto amamos e construímos deve fazer de tudo para derrotar o terrorismo", disse o ministro Cazeneuve.
Risco químico
Diante de um plenário lotado, Manuel Valls falou sobre o risco de ataque por "arma química ou biológica", enquanto o governo permitiu que a farmácia das forças armadas distribua um antídoto para armas biológicas aos serviços de emergência civis da França.
"O risco não está excluído", comentou em entrevista a uma rádio um ex-alto funcionário dos serviços de inteligência, Alain Rodier. No entanto, este tipo de produto (sarin ou gás mostarda) é "um trabalho extremamente difícil, muito menos eficaz como se poderia pensar", explicou.
"O primeiro-ministro está falando numa hipótese para o futuro", disse posteriormente à AFP uma fonte próxima ao primeiro-ministro. "Os especialistas em Oriente Médio sabem que o Daech (acrônimo em árabe para o Estado Islâmico) procura e usa armas químicas. Não considerar esta hipótese seria um erro", explicou a mesma fonte.
A Câmara dos Deputados da França aprovou nesta quinta-feira a prorrogação por três meses do estado de emergência instaurado no país. O projeto de lei, que será apresentado na sexta-feira ao Senado, apresenta algumas mudanças a um texto que data de 1955.
A votação da Assembleia Nacional foi quase unânime.
Além disso, a França propôs ao Conselho de Seguranã da ONU uma resolução prevendo "todas as medidas necessárias" para combater o EI.
Quanto ao presidente François Hollande, ele ordenou a "intensificação" dos ataques contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque, anunciou a presidência francesa nesta quinta-feira à noite.
O chefe de Estado "deu as instruções necessárias para a intensificação das operações militares na luta contra o Daech (acrônimo em árabe de EI) na Síria e no Iraque", escreveu a presidência em um comunicado divulgado após um Conselho de Defesa.