O conservador Mauricio Macri, defensor da economia de mercado, anunciou uma "mudança de época" na Argentina depois de derrotar no segundo turno da eleição presidencial o candidato do governo, o peronista Daniel Scioli, e acabar com 12 anos de kirchnerismo.
"É um dia histórico. Uma mudança de época. Um tempo que não pode deter-se em revanches ou ajustes de contas. Construir uma Argentina com pobreza zero, derrotar o narcotráfico e melhorar a qualidade democrática", afirmou para milhares de simpatizantes, em uma verdadeira festa de comemoração.
A diferença final de menos de 3% mostrou uma disputa muito acirrada, na qual Macri obteve 51,4% dos votos, contra 48,5% de Scioli, após a apuração de 99% das urnas.
A presidente Cristina Kirchner ligou para Macri para felicitá-lo e os dois concordaram com uma reunião na terça-feira na residência oficial de Olivos, segundo o canal C5N.
"Felicito a Macri por sua vitória", afirmou Scioli ao admitir a derrota. Vários simpatizantes estavam reunidos na Praça de Maio e não demonstraram surpresa com o resultado, antecipado pelas pesquisas.
Macri, um engenheiro de 56 anos, foi eleito para um mandato de quatro anos e na primeira metade do período será obrigado a estabelecer alianças no Congresso, onde o kirchnerismo tem maioria absoluta no Senado e é a primeira força na Câmara dos Deputados.
O 'macrismo' prometeu liberar o mercado de câmbios, estimular a iniciativa privada, reordenar o Estado, retomar vínculos abalados com as grandes potências desenvolvidas e resolver a questão da dívida em litígio judicial com fundos especulativos em Nova York.
Também antecipou que pedirá a aplicação da cláusula democrática e a suspensão da Venezuela do Mercosul por ter presos políticos, em sua opinião. Macri citou a detenção do político Leopoldo López, cuja esposa, Lilian Tintori, celebrou a vitória do opositor argentino.
Na sede da campanha de Macri o clima era de euforia com a vitória da aliança 'Cambiemos' (Mudemos), forjada com os radicais da UCR (social-democratas).
"Isto é história", disse Marcos Peña, chefe de campanha de Macri e um dos mentores do Pro (Propuesta Republicana), o partido do novo chefe de Estado.
O presidente eleito vai suceder Cristina Kirchner, que governa o país desde 2007 e é viúva do falecido presidente Néstor Kirchner (2003-2007). A Argentina teve 12 anos de kirchnerismo no poder.
O índice de participação chegou a 78% dos mais 32 milhões de eleitores no segundo turno, o primeiro da história argentina.
Macri assumirá o poder em 10 de dezembro.
Rejeição ao kirchnerismo
As comemorações chegaram ao tradicional Obelisco de Buenos Aires, onde eleitores de Macri festejaram com garrafas de champanhe. Macri capitalizou o voto de rejeição ao kirchnerismo e sua força eleitoral está nas grandes cidades do centro do país.
Esta é a primeira vez um líder da direita liberal chega ao poder pelas urnas em eleições livres, sem o apoio de uma ditadura, fraudes ou candidatos proscritos.
Em sua vida democrática, a Argentina apenas teve no poder a alternância entre o Partido Justicialista (PJ, peronista) e a UCR.
Scioli (58 anos) é um ex-campeão mundial de motonáutica e filho de um comerciante que estabeleceu uma aliança tática com Kirchner, mas sem o seu estilo de confronto.
Depois de votar em Rio Gallegos, 2.500 km ao sul de Buenos Aires, na província de Santa Cruz (Patagônia), Cristina Kirchner defendeu os 12 anos de kirchnerismo no poder, citando a "estabilidade econômica e social".
Mas o atual governo deixa uma economia com sinais de crescimento frágil, de 2,2% no primeiro semestre, uma inflação superior a 20% e reservas reduzidas no Banco Central.
O consumo é sustentado com programas de incentivos e ajustes de salários em negociações livres sindicatos-empresas.
Os Kirchner decidiram estatizar novamente empresas de serviços e nacionalizar o setor de petróleo. Também definiram 93% da dívida em 'default' desde 2001.
Mas 7% dos credores, os fundos especulativos (abutres), representam um duro litígio em Nova York.
Em 12 anos, foram criados 5 milhões de empregos, estimulou-se a ciência e a tecnologia, e milhares de pessoas recebem subsídios e aposentadorias especiais do governo.
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