"Não é verdade", afirma, aos prantos, o irmão de um dos jihadistas que detonou um cinturão de explosivos no Bataclan depois de abrir fogo contra o público. Como ele, os parentes dos autores dos atentados de Paris enfrentam o desespero e a vergonha.
No sábado, dia 14 de novembro, este homem, pai de família e morador de Bondoufle (periferia sul de Paris), passou quase 24 horas diante da TV, acompanhando o noticiário dos ataques da véspera.
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Novo suspeito é indiciado na Bélgica por participação nos atentados de ParisPolícia divulga foto de terceiro homem-bomba dos atentados de Paris para identificá-loForagido dos atentados de Paris não ''chegou até o fim'', diz irmão"É uma coisa de maluco, um delírio", respondeu, tentando conter as lágrimas. "Com quem eu posso falar para saber exatamente?", perguntou a um jornalista da AFP. Sua esposa, angustiada, afirma de repente: "Estou começando a ficar realmente preocupada...". O marido a interrompe: "Era capaz de estar lá como público e morreu".
"Que relação tinha conosco? Estávamos distanciados há vários anos. Eu quero proteger meus filhos", responde a mulher. O homem fica sozinho.
"Não tenho vontade de contar qualquer coisa para ela e provocar uma crise cardíaca". Pouco depois, durante a noite, ele se apresentou ao lado da esposa à polícia, que o deteve para um interrogatório e o liberou pouco depois.
O homem não recebeu nenhuma acusação, mas desde sua liberação vive trancado em casa, onde responde a jornalistas de todo o mundo. Sobre Omar Mostefaï, apenas uma comentário: "Ele virou um monstro".
Filho, "apesar de tudo"
O mesmo espanto tomou conta dos pais, irmãos e irmãs dos outros jihadistas. Alguns já imaginavam, como a mãe de Bilal Hadfi (primeiro homem na foto), de 20 anos, um dos homens-bomba dos arredores do Stade de France. Ela havia chamado o filho de "panela de pressão" em uma entrevista ao jornal La Libre Belgique. "Tinha a impressão de que iria explodir de um dia para outro".
Outros mantinham a esperança de recuperar os radicais, como a família de Samy Amimour, que tentou de todas as maneiras repatriar o jovem de 28 anos, que viajou para a Síria em 2013.
A família de Hasna Aitboulahcen optou pela distância dos atos da jovem prima do homem apontado como o mentor dos atentados, Abdelhamid Abaaoud. Os dois morreram na quarta-feira passada em uma operação policial em um edifício de Saint-Denis no qual estavam escondidos.
"Não temos nada a ver com estes acontecimentos, nem de longe, nem de perto. Não temos porque nos justificar", declarou à AFP um de seus irmãos. Independente da atitude, todos são obrigados a enfrentar a necessidade de chorar por seus parentes, apesar das atrocidades.
"Pensamos efetivamente nas vítimas, em suas famílias", declarou Mohamed Abdeslam, irmão de dois jihadistas. Um detonou um cinturão de explosivos preso ao corpo em um café parisiense depois de atirar contra os clientes e o outro virou o fugitivo mais procurado da Europa. "Mas vocês devem compreender também que temos uma família, temos uma mãe e que ele é seu filho, apesar de tudo", completou.
"Não chegou até o fim"
O irmão do foragido Salah Abdeslam disse que o jihadista não "chegou até o fim" durante os ataques em Paris. "É mais do que uma especulação, é minha convicção. Salah é muito inteligente, acredito que no último minuto decidiu voltar atrás", afirmou Mohamed Abdeslam, que voltou a pedir que seu irmão mais novo se entregue, em entrevista à RTBF.