Milhares de pessoas protestavam nesta sábado, em diferentes cidades ao redor do mundo, para reivindicar um acordo ambicioso contra a mudança climática, às vésperas da Conferência de Paris, a COP21, organizada sob um forte esquema de segurança após os atentados de 13 de novembro.
Depois da primeira passeata, realizada sexta-feira na cidade australiana de Melbourne, cerca de 3.000 estudantes, ativistas e religiosos foram às ruas nas Filipinas para exigir a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. O arquipélago tem-se tornado cada vez mais alvo de devastadores tufões, um dos efeitos da mudança climática.
"Protejam nossa casa comum" e "Justiça climática" eram alguns dos slogans nos cartazes dos manifestantes nas ruas de Manila.
"Queremos enviar uma mensagem ao resto do mundo, em particular aos líderes do planeta que participam da Conferência sobre o Clima: nossa sobrevivência não é negociável", afirmou Denise Fontanilla, porta-voz do Movimento dos Povos Asiáticos sobre a dívida e o desenvolvimento.
Em Bangladesh, um dos países mais pobres da Ásia ameaçado por inundações, cerca de 5.000 pessoas pediram ação imediata. Em Brisbane, na Austrália, e na Nova Zelândia, vários ativistas também protestaram.
Milhares de manifestantes são esperados em diferentes atos em outras cidades asiáticas, assim como em Johannesburgo e em Edimburgo. Para domingo, foram convocadas mobilizações em Seul, Londres, Madri, Rio de Janeiro e Nova York, entre outras cidades.
Depois dos atentados de 13 de novembro, a França decretou estado de emergência, reforçou o controle de suas fronteiras e deslocou forças de segurança para pontos sensíveis.
Cerca de 10.000 homens das forças de segurança foram enviados para Paris para proteger a COP21. Desse efetivo, 2.800 agentes estarão estacionados no local da conferência, organizada no parque de exposições aeronáuticas Le Bourget.
O governo proibiu manifestações em Paris e em outras cidades da França. O Ministério do Interior relatou que 24 ativistas foram colocados em prisão domiciliar até 12 de dezembro.
Em nota, a coalizão Clima 21, que reúne 130 organizações, criticou os "claros abusos" do estado de exceção.
"Não frearemos o aquecimento global renunciando às nossas liberdades", de acordo com o comunicado.
Apesar das restrições, hoje, cerca de 400 ambientalistas instalaram tampos de mesa e cavaletes diante das grades do Palácio de Versalhes para "festejar" com um banquete, símbolo - segundo eles - da "grande farsa" que é a COP21.
Com tratores, caminhonetes e 200 ciclistas de colete amarelo fluorescente, o comboio saiu de Notre-Dame-des-Landes (oeste), onde um projeto de aeroporto é alvo de críticas de ativistas do meio ambiente.
Na chegada, os manifestantes serviram sopa de abóbora, beterraba e grão de bico, diante de turistas surpresos e de um grande número de policiais.
Outro protesto aconteceu nos arredores de Paris, em Saint Denis (norte), reunindo centenas de católicos, budistas, muçulmanos e protestantes. O grupo divulgou uma mensagem ecumênica de ação coordenada a favor da "justiça climática".
COP21 começa na segunda
A partir da próxima segunda, 30 de novembro, cerca de 150 chefes de Estado e de Governo vão participar da cúpula do clima em Le Bourget, ao norte de Paris. O evento reunirá pelo menos 40.000 participantes, entre eles 10.000 delegados de 195 países, além de cientistas, observadores, jornalistas e visitantes.
Barack Obama (Estados Unidos), Xi Jinping (China), Angela Merkel (Alemanha), Dilma Rousseff e Enrique Peña Nieto (México) estão entre os líderes esperados.
O objetivo da conferência é limitar o aquecimento a 2ºC em relação à era pré-industrial, reduzindo as emissões poluentes que causam a mudança climática.
Sinal de que o tempo urge para alcançar um acordo antes do fim da conferência em 11 de dezembro, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, convocou os delegados a se reunirem a partir de domingo, um dia antes do previsto, para começar a preparar as negociações.
Em entrevista coletiva após a entrega da chave da "cidade verde" à principal autoridade da ONU para o Clima, Christiana Figueres, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, anunciou que 183 dos 195 países participantes apresentaram seus compromissos nacionais de redução dos gases causadores do efeito estufa.
"As condições para que (a COP21) seja um sucesso estão reunidas, mas nada está garantido de antemão", advertiu.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, disse estar "otimista de que se chegará a um acordo", ao contrário do que aconteceu na cúpula de Copenhague, encerrada como um fracasso retumbante em 2009.
Nesse sentido, Ban pediu aos líderes mundiais que "se ponham de acordo em um meio termo, os acordos perfeitos não existem nesse mundo".
Christiana Figueres citou a participação da América Latina, destacando-se como um modelo. Segundo ela, a região apresenta "toda uma diversidade de tamanhos e de maturidade de economias, de tendências políticas".
"Sua participação é muito importante, porque uma conversa construtiva na região habilita uma conversa construtiva no resto do mundo".
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