As forças de segurança francesas usaram gás lacrimogêneo neste domingo em Paris para conter centenas de manifestantes violentos, muitos deles mascarados, durante uma manifestação na véspera da conferência sobre o aquecimento global que acabou em 289 detidos.
O protesto foi convocado contra a proibição de se manifestar durante a reunião mundial sobre o clima.
Após várias horas de tensão, a polícia anunciou a detenção de 289 pessoas, incluindo 174 colocadas em prisão provisória.
A manifestação "foi um pouco violenta em alguns momentos, mas a controlamos perfeitamente", declarou o chefe de polícia Michel Cadot, acrescentando que não há feridos.
Cadot atribuiu os incidentes a "pequenos grupos violentos que enfrentaram as forças da ordem com projéteis, velas e até uma bola de bocha".
Segundo o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, os atos violentos, em particular o lançamento de projéteis cometidos por alguns manifestantes, devem ser denunciados "com a maior firmeza" e, de modo algum, podem ser confundidos com "manifestações de boa fé".
Com base no estado de emergência decretado após os atentados em Paris, "as reuniões estáticas e as correntes humanas estão autorizadas, mas não as manifestações", recordou Cazeneuve.
Os manifestantes se reuniram perto da Praça da República, convocados por pequenos grupos "AntiCop21", contrários à conferência do clima da ONU em Paris.
Aos gritos de "Ouçam nossas vozes! Estamos aqui!" e "Estado de emergência, Estado policial, não vão tirar nosso direito de manifestação", os ativistas "AntiCOP21" seguiram para a Praça da República, centro da capital.
Alguns jogaram sapatos e garrafas nos agentes. Outros chegaram a jogar uma barreira de metal contra a polícia, que reagiu com gás lacrimogêneo e avançou contra os manifestantes.
O presidente francês, François Hollande, criticou a ação "escandalosa" de "elementos perturbadores", que provocaram uma série de incidentes neste domingo, na Praça da República, em Paris.
"Sabíamos que havia elementos perturbadores, que não têm nada a ver com os defensores do meio ambiente", denunciou Hollande, que está em Bruxelas para a cúpula entre União Europeia e Turquia.
Ele denunciou episódios "lamentáveis, eu diria mesmo escandalosos".
Paris se encontra em estado de emergência desde os atentados jihadistas de 13 de novembro, que deixaram 130 mortos. As manifestações foram proibidas na cidade.
Ao mesmo tempo, mobilizações em todo o mundo e uma corrente humana em Paris, perto dos locais dos atentados do 13 de novembro, exigiram neste domingo a adoção de um acordo contra o aquecimento global por parte dos 195 países que participam das negociações da COP21.
Milhares de pessoas de todas as idades deram as mãos ao longo de 2 km na avenida Voltaire, na zona leste de Paris, deixando um espaço de 100 metros diante da casa de espetáculos Bataclan. O estabelecimento sofreu o mais letal dos ataques que deixaram 130 mortos na fatídica sexta-feira 13.
"Por um clima de paz!", pediam vários cartazes perto do Bataclan.
As manifestações em Paris aconteceram sob um rígido esquema de vigilância policial e apesar da proibição, atualmente em vigor, da realização de atos públicos na região de Paris.
Quase 10.000 homens das forças de segurança foram enviados para a capital para proteger a cidade durante a Conferência da ONU. Desse efetivo, 2.800 agentes ficarão na sede da COP21, organizada no parque de exposições aeronáuticas Le Bourget.
Para simbolizar a grande marcha que não pôde acontecer, os ativistas deixaram milhares de sapatos na Praça da República e fizeram um cerco à estátua central para tentar evitar que manifestantes mais radicais usassem velas e outros objetos em homenagem às vítimas como "projéteis".
Segundo os organizadores, quase quatro toneladas de sapatos foram deixados no local, que se transformou em um memorial das vítimas.
As mobilizações pelo clima vão da Austrália, onde milhares de pessoas saíram às ruas, até o México, incluindo várias cidades de todos os continentes.
O objetivo é exigir medidas que impeçam transformações irreversíveis, como secas devastadoras e a elevação do nível dos oceanos. Segundo os estudos de referência, essas mudanças vão ocorrer ao longo deste século, inevitavelmente, se as emissões de gases causadores do efeito estufa se mantiverem em seu nível atual.
COP21 começa na segunda-feira
A partir desta segunda-feira, 30 de novembro, 159 chefes de Estado e de Governo vão participar da cúpula do clima em Le Bourget, ao norte de Paris. O evento reunirá pelo menos 40.000 participantes, entre eles 10.000 delegados de 195 países, além de cientistas, observadores, jornalistas e visitantes.
Barack Obama (Estados Unidos), Xi Jinping (China), Angela Merkel (Alemanha), Dilma Rousseff e Enrique Peña Nieto (México) estão entre os líderes esperados.
O objetivo da conferência é limitar o aquecimento a 2ºC em relação à era pré-industrial, reduzindo as emissões poluentes que causam a mudança climática.