Um mundo em choque. O ano de 2015 foi marcado por tensões que até então poderiam ser inimagináveis para otimistas das mais diversas nacionalidades. Paris, conhecida como Cidade Luz por atrair as mentes mais brilhantes de diversos setores – principalmente da arte e da cultura – no decorrer dos últimos séculos, se transformou no alvo de alguns dos principais ataques terroristas da história. O ano começou com o atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo. Os terroristas deixaram um rastro de 17 mortos na capital da França. Pelo mundo se espalhou a frase Je suis Charlie (eu sou Charlie). Apoio, comoção e repúdio aos ataques. E quando os franceses começavam a se preparar para se despedir do ano, em 13 de novembro, foram obrigados a presenciar o maior atentado da existência do país. Até hoje choram a perda das 130 pessoas, a maioria na casa de shows Bataclan. Flores e velas tomaram conta das calçadas. Os franceses choraram. E o mundo ficou paralisado diante do tamanho da tragédia.
O Estado Islâmico (EI) assumiu os ataques. E uma nova era de fortes ofensivas contra o grupo jihadista, que já assombra a Síria e outras regiões do Oriente Médio e expulsa de lá pessoas de bem que não aguentam mais o massacre, foi iniciada. O terrorismo alimenta a crise dos refugiados, que já passam de 1 milhão na Europa e não param de chegar.
A fotógrafa mineira Vanessa Geraldeli chegou a Paris em 24 de maio. Animada com as perspectivas de dar início a uma vida nova, foi recepcionada por um clima de “tranquilidade”, apesar de observar um policiamento forte nas ruas. “Observei também que, mesmo sabendo que a França é um alvo em potencial de terroristas, os franceses não esperavam tamanho ataque”, afirma. Para ela, muitos não acreditavam nos alertas de que entre os refugiados estavam entrando extremistas e radicais islâmicos. Agora, ela observa que há uma divisão clara entre a solidariedade e o medo com relação àqueles que chegam da Síria e de outros locais massacrados pelo terror no Oriente Médio.
LUTO
Logo após os ataques, tudo mudou. “Por alguns dias, a cidade estava bem mais vazia, muitos deixaram de andar de metrô e optaram por andar de carro, algumas linhas do trem subterrâneo estavam praticamente vazias em horário de grande movimento, o policiamento triplicou e a população viveu dias muito tensos e de luto”, lembra Vanessa, que está em Varginha, no Sul de Minas, para passar as festas de fim de ano com a família e retorna à França em fevereiro. Após uma semana, mais ou menos, ela conta que tudo foi melhorando e as pessoas voltaram gradativamente à vida normal. “Mesmo diante do medo, eu me sentia razoavelmente segura, pois o esquema de segurança armado estava fortíssimo e muitos policiais à paisana se misturavam às pessoas nas ruas. Isso traz tranquilidade a todos.” Apesar disso, ela observa que o risco de novos ataques é sempre presente, mesmo com o maior controle das fronteiras, do apoio os demais países da Europa e os fortes investimentos para a prevenção de novos ataques.
Nestes dias do fim de ano, o policiamento foi reforçado. Para o Natal, um contingente de 120 mil agentes foi para as ruas. Os esforços continuam para a virada do ano. O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, disse, na semana passada, que a ameaça terrorista continua alta. E as investigações e caça aos responsáveis pelos atentados de 13 de novembro não foram interrompidas. No dia 24, foi preso na Bélgica, mais um suspeito relacionado ao ataque do mês passado. O homem detido pela polícia belga (o nono no país) teria mantido contatos telefônicos com a prima do suposto organizador dos atentados, Abdelhamid Abaaoud.
Cazeneuve, em discurso realizado em Toulouse depois de a polícia ter dado fim a um suposto plano de atentado em Orleans, fez um balanço do estado de urgência, decretado logo após os atentados de novembro em Paris. Desde o fatídico dia 13, 3.414 pessoas já foram impedidas de entrar na França por ameaça à segurança nacional. Também foram realizadas 2.898 buscas, com 346 interpelações, 297 prisões temporárias, e 51 pessoas estão presas. E enquanto as cicatrizes da Cidade Luz estiverem abertas, a ideia é não baixar a guarda.
Migrantes em fuga
Na semana passada, a Organização Internacional para as Migrações (IOM) confirmou que 1.005.504 refugiados alcançaram este ano a Europa, 971.289 por meio do mar, em travessias que custaram a vida de 3.692 imigrantes. A foto do menino sírio Aylan Kurdi, de três anos, morto após naufrágio na praia turca de Ali Hoca, se transformou no retrato do drama.
Sangue derramado na Síria
A guerra civil na Síria já dura mais de dois anos e meio e deixou mais de 2 milhões de refugiados, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). O número de mortos no conflito passa de 100 mil. Relatório das Nações Unidos classifica a guerra síria de “grande tragédia do século 21. A Síria ainda é o principal reduto do Estado Islâmico no mundo.
Papa nos EUA e em Cuba
O papa Francisco visitou Cuba e os Estados Unidos em setembro. A viagem começou em Cuba, onde passou pelas cidades de Havana, Holguín e Santiago. A viagem pelos dois países teve uma ligação simbólica, já que EUA e Cuba, adversários de longa data, iniciaram uma abertura nas relações bilaterais com mediação do Papa Francisco. A histórica retomada das relações diplomáticas entre EUA e Cuba, teve seu ápice em julho, com a abertura das embaixadas nos dois países.
Tensão à flor da pele
A tensão racial foi forte, neste ano, nos Estados Unidos. Em Baltimore, a morte de Freddie Gray, um jovem negro de 25 anos, em 19 de abril, uma semana após ser detido, desencadeou uma série de protestos. O toque de recolher também foi uma das saídas para a tentativa do controle da situação.
Com armas nas mãos
Tiroteios em escolas e outros locais públicos dos Estados Unidos também marcaram o ano de 2015. De acordo com um grupo de estudo sobe posse de armas dos Congresso dos EUA, até 2 de dezembro, ocorreram 355 tiroteios em massa no país (com mais de quatro feridos, incluindo o atirador). Em 2 de dezembro, três pessoas armadas entraram num edifício em San Bernardino, na Califórnia, mataram 14 pessoas e deixaram 21 feridas, segundo informações da polícia. Em 1º de outubro, um atirador invadiu a Umpqua Community College, faculdade comunitária no estado do Oregon, matou nove pessoas e se suicidou. Eventos como estes acenderam o debate sobre o porte de armas nos EUA.
Aviões despedaçados
O ano foi marcado por grandes acidentes aéreos. Em 24 de março, caiu o Airbus A320 da companhia aérea alemã Germanwings, com 150 pessoas a bordo nos Alpes Franceses. Em 31 de outubro, o avião da companhia áerea russa KogalimAvia, mais conhecida como Metrojet, caiu na península do Sinai, no Egito, e deixou 224 mortos, segundo o governo egípcio. O voo saiu de uma cidade no litoral do Egito e seguia para São Petersburgo, na Rússia. Outros grave acidentes do ano envolveu uma aeronave militar na Indonésia, numa queda que deixou 141 mortos em 30 de junho.
Terra que treme e mata
Um forte terremoto de magnitude 7,8 estremeceu o Nepal em 25 de abril, deixando cerca de 1,8 mil mortos e 5 mil feridos, segundo a agência Reuters. A força do terremoto foi sentida também em Bangladesh, Índia, China, Paquistão e no Monte Everest, onde uma avalanche provocada pelo abalo deixou pelo menos 17 mortos. No dia 16 de setembro o Chile enfrentou um terremoto de magnitude 8,3, o terceiro maior sismo nos últimos cinco anos. A catástrofe deixou 15 mortos e mais de 14 mil pessoas desabrigadas e milhares de casas destruídas, ou com danos significativos, de acordo com relatos do Escritório Nacional de Emergências (ONEMI).