A Arábia Saudita convocou o embaixador do Irã para protestar contra declarações "agressivas" de Teerã, após a execução, neste sábado, do clérigo xiita Nimr Baqer al-Nimr - anunciou o Ministério das Relações Exteriores de Riad.
O Ministério "enviou ao embaixador iraniano (...) uma carta de protesto referente às declarações iranianas agressivas a respeito das sentenças legais aplicadas hoje (sábado) contra terroristas no reino", de acordo com a nota publicada pela agência oficial de notícias SPA.
Riad responsabilizou o governo iraniano "pela proteção" das missões diplomáticas sauditas em seu território.
O reino também acusou o Irã - um país "sem vergonha" - de apoiar o "terrorismo" e de prejudicar a estabilidade regional, declarou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em nota enviada à SPA.
"O regime iraniano é o último regime do mundo a poder acusar os outros de apoiar o terrorismo, na medida em que o próprio Irã apoia o terrorismo", completou o porta-voz.
Nesse clima de tensão bilateral, a embaixada da Arábia Saudita em Teerã foi atacada neste sábado à noite por manifestantes em fúria, após a morte de Al-Nimr, noticiou a agência de notícias Isna.
Coquetéis molotov foram lançados contra embaixada, que foi invadida pelos manifestantes. O grupo já foi retirado pela Polícia da missão diplomática, completou a agência Isna.
Al-Nimr, que por mais de uma década estudou Teologia no Irã, fazia parte de um grupo de 47 xiitas e sunitas executados neste sábado por "terrorismo".
O Ministério das Relações Exteriores do Irã, uma potência xiita com relações tensas com a Arábia Saudita, prometeu que Riad pagará "um preço alto" pela morte del Al-Nimr.
Em nota divulgada hoje, o porta-voz do Departamento de Estado americano, John Kirby, considerou que a execução de Al-Nimr ameaça "exacerbar as tensões sectárias, no momento em que se deve acalmá-las".
"Os Estados Unidos pedem ao governo da Arábia Saudita que permita que a oposição se expresse pacificamente", acrescentou o porta-voz da diplomacia americana.
No comunicado, Kirby ressalta a "particular preocupação" do governo americano com a execução do líder religioso, a qual deflagrou indignação de comunidades muçulmanas xiitas ao redor do mundo - incluindo a do Irã - e de organizações de direitos humanos.
O xeque Nimr Baqer al-Nimr, de 56 anos, é um crítico feroz da dinastia Al-Saud, no poder.
Em 2011, ele liderou um movimento de protesto no leste do país, onde vive grande parte da minoria xiita, uma comunidade que se sente marginalizada no reino.
Em outubro de 2014, o líder xiita foi condenado à morte por "rebelião", "desobediência ao soberano" e "porte de armas" por um tribunal de Riad especializado em casos de terrorismo.