Riad/Dubai – A execução de um líder religioso xiita condenado por envolvimento com o terrorismo na Arábia Saudita despertou uma série de protestos entre os seguidores dessa vertente muçulmana, minoritária no país e no conjunto do mundo islâmico, mas majoritária no Irã, no Iraque e no Líbano. Enquanto autoridades iranianas alertavam a monarquia sunita sobre o “alto preço” a pagar pela aplicação da pena capital contra o xeque Nimr al-Nimr, de 56 anos, manifestações foram observadas nas ruas de comunidades xiitas da Arábia Saudita e do vizinho Barein.
Al-Nimr foi um dos 47 prisioneiros executados ontem em diversas cidades sauditas. O recurso crescente à pena capital no país tem motivado críticas de organizações pró-direitos humanos. No ano passado, a monarquia sunita executou 153 condenados, segundo balanço feito pela agência de notícias France-Presse, com base em dados oficiais. Em 2014, o total foi de 87.
Logo após o anuncio da morte de Al-Nimr, a chancelaria iraniana criticou Riad por “apoiar terroristas, enquanto executa e reprime os críticos dentro do país”, e alertou que os sauditas pagariam um “alto preço” pela execução. A agência de notícias Irna reportou que o vice-chanceler Hossein Amir Abdollahian considerou a aplicação da pena contra o líder xiita uma violação das leis internacionais, além de um ato “irresponsável” e “desumano”. Uma imagem sugerindo que as execuções conduzidas pela Arábia Saudita eram iguais às realizadas pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI) foram publicadas no site oficial do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do regime islâmico de Teerã.
Ataque à embaixada saudita tem 40 detidos
Nesse clima de tensão bilateral, a embaixada da Arábia Saudita em Teerã foi atacada neste sábado à noite por manifestantes em fúria, após a morte de Al-Nimr, noticiou a agência de notícias Isna. Coquetéis molotov foram lançados contra embaixada, que foi invadida pelos manifestantes.
Quarenta pessoas foram presas após o ataque, anunciou neste domingo o procurador da capital iraniana citado pela agência de notícias Isna. "Até agora, 40 pessoas que entraram na embaixada foram identificadas e presas. A investigação está em curso para identificar outros responsáveis por este incidente", declarou o procurador, Abbas Jafari Dolatabadi.
Em paralelo aos protestos de Teerã, o conselho xiita libanês considerou a execução um “erro grave”, enquanto o movimento Hezbollah (Partido de Deus, pró-iraniano) classificou a morte de Al-Nimr “um assassinato”. Segundo a rede britânica BBC, atos contra a aplicação da pena imposta ao líder religioso realizadas no Barein culminaram em confronto entre manifestantes e as forças de segurança. No Iraque, o principal clérigo xiita, o grão-aiatolá Moqtada Al-Sadr, convocou “demonstrações de raiva”, mas pediu que as manifestações fossem pacíficas.
Protestos também foram observados na província de Qatif, Lste da Arábia Saudita, que concentra grande parte da comunidade xiita. Al-Nimr era um proeminente líder que criticava Riad por marginalizar as minorias religiosas no país, majoritariamente sunita. Em 2011, o clérigo apoiou um movimento revolucionário que surgiu no Leste do território saudita, região rica em petróleo. No ano seguinte, a prisão do líder religioso resultou em protestos que deixaram três mortos. No momento da prisão, Al-Nimir foi baleado na perna pela polícia.
Apesar de o clérigo insistir em que nunca convocou atos de violência nem empunhou armas, ele não negava as acusações políticas. A família de Al-Nimr foi considerada culpada de diversos crimes, incluindo o de buscar intervenção estrangeira na Arábia Saudita.
'Julgamento justo' Apesar de organizações humanitárias, como a Anistia Internacional, criticarem o aumento no número de execuções no reino e denunciarem a presença de presos políticos no corredor da morte, o Ministério do Interior afirmou que os sentenciados tiveram “julgamento justo, com respeito integral, sob as leis criminais do islã”. Segundo Riad, as 47 execuções estavam relacionadas a crimes de “terrorismo contra pessoas inocentes, propriedades e forças de segurança”, além de “disseminação da desordem e exposição da segurança nacional a ameaças de segurança”.