O Conselho de Segurança das Nações Unidas acertaram, nesta quarta-feira, preparar medidas adicionais contra a Coreia do Norte, após o anúncio do quarto teste nuclear realizado pelo país.
O órgão de 15 membros, do qual faz parte a China, aliada de Pyongyang, "condenou energicamente" o teste nuclear e o qualificou de uma "clara ameaça para a paz e a segurança internacional".
O embaixador uruguaio Elbio Rosselli, que preside o Conselho este mês, lembrou que o organismo tinha alertado que tomaria "significativas medidas adicionais" se Pyongyang violasse as resoluções da ONU, realizando testes atômicos.
"Em linha com este compromisso e em vista da gravidade desta violação, os membros do Conselho de Segurança começarão a trabalhar imediatamente sobre estas medidas em uma nova resolução do Conselho de Segurança", disse Rosselli.
O diplomata não especificou se a nova medida estenderá as sanções contra a Coreia do Norte, mas outros enviados confirmaram que a adição de novos nomes à lista de sanções está sendo considerada.
"Eu o condeno de forma inequívoca e peço à RPDC (Coreia do Norte) que cesse qualquer outra atividade nuclear", disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, aos jornalistas antes da reunião do Conselho de Segurança.
Após uma entrevista por telefone com o ministro sul-coreano, Han Min-Koo, o secretário americano da Defesa, Ashton Carter "reafirmou o compromisso firme dos Estados Unidos de defender (a Coreia do Sul), que contempla todos os aspectos da política de dissuasão" de que Washington dispõe, destacou o Pentágono em um comunicado.
O teste dessa bomba de hidrogênio seria mais potente do que os testes nucleares precedentes.
"O primeiro teste de bomba de hidrogênio da República foi realizada com sucesso às 10h (23h30 de terça, horário de Brasília)", anunciou a televisão oficial norte-coreana.
O país se soma, assim, "aos Estados nucleares avançados", reforçou o apresentador, acrescentando que a bomba testada era uma "miniatura".
Países vizinhos, como Coreia do Sul e Japão, assim como França e Reino Unido condenaram o teste. A Casa Branca prometeu uma reação apropriada às "provocações" norte-coreanas, mas declarou que a evidência "não é consistente" com uma explosão de bomba H.
"As análises iniciais não são consistentes com a reivindicação da Coreia do Norte" de que fez um teste bem sucedido com uma bomba de hidrogênio, disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnst.
Principal aliada da Coreia do Norte, a China disse "se opor firmemente" ao teste.
Nas regiões chinesas mais próximas ao centro de testes nucleares norte-coreano, vários prédios foram evacuados depois que os habitantes "sentiram claramente os abalos", indicou a imprensa oficial.
O anúncio desse teste de uma bomba H é uma surpresa. Pyongyang afirma que foi ordenado, pessoalmente, pelo dirigente norte-coreano Kim Jong-un, dois dias antes de seu aniversário.
Cada um dos três testes nucleares anteriores da Coreia do Norte (outubro de 2006, maio de 2009 e fevereiro de 2013) derivou no reforço de sanções internacionais, principalmente no setor financeiro e contra empresas vinculadas à atividade nuclear, ou balística norte-coreana.
Ceticismo dos especialistas
O anúncio do teste nuclear foi recebido com grande ceticismo por especialista ao mesmo tempo em que suscitou críticas imediatas no mundo.
A Casa Branca rejeitou a afirmação norte-coreana de que realizou com sucesso o primeiro teste de uma bomba de hidrogênio, ao destacar que "as análises iniciais não são consistentes com a reivindicação da Coreia do Norte" de que realizou um teste bem sucedido com uma bomba de hidrogênio, disse o porta-voz do Executivo americano, Josh Earnst.
"Os dados sismológicos sugerem que a explosão foi consideravelmente menos forte do que se esperaria de um teste de bomba H", declarou, por sua vez, o especialista australiano em Política Nuclear Crispin Rovere.
"À primeira vista, parece que realizaram um teste nuclear com êxito, mas não conseguiram realizar a segunda etapa, a da explosão de hidrogênio", completou.
"Se, de verdade, fosse uma bomba H, os níveis na escala Richter (de sismo) precisaram ter sido 100 vezes mais potentes, até chegar a sete, ou mais", indicou o especialista em Defesa Bruce Bennett, da Rand Corporation, advertindo para o perigo de radiação na zona próxima às instalações nucleares.
As primeiras suspeitas sobre um novo teste norte-coreano foram feitas por sismólogos que detectaram um sismo de magnitude 5,1 perto da principal instalação de testes nucleares da Coreia do Norte, no nordeste do país.
A organização responsável pela aplicação do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares, com sede em Viena, declarou ter detectado uma atividade sísmica "incomum" na Coreia do Norte.
A maioria dos especialistas acreditava em que Pyongyang ainda precisaria de anos para desenvolver uma bomba termonuclear, mas estavam divididos sobre a capacidade norte-coreana de miniaturizar a arma atômica, uma etapa decisiva na produção de ogivas nucleares.
Uma bomba de hidrogênio, ou termonuclear, utiliza a técnica da fusão nuclear e produz uma explosão muito mais potente do que uma deflagração por fissão, gerada apenas por urânio ou plutônio.
Seja, ou não, uma bomba H, esse quarto teste nuclear norte-coreano constitui uma afronta flagrante para inimigos e aliados do regime de Pyongyang, ao qual tinham advertido seriamente contra a continuação do programa nuclear.
Impulso em favor de sanções
O fato de que as sanções internacionais não tenham impedido a Coreia do Norte de seguir adiante e realizar um novo teste reforça a probabilidade de sanções mais duras.
O embaixador russo na ONU, Vitali Tchurkin, convidou membros do Conselho a "manter a calma" e disse esperar que se chegue a uma "resposta apropriada", sem dar mais detalhes sobre ela.
"Vamos trabalhar com outros em uma resolução sobre as sanções adicionais", disse aos jornalistas o embaixador britânico no órgão, Matthew Rycroft.
Em 2014, o presidente americano, Barack Obama, classificou a Coreia do Norte como "Estado pária" e prometeu sanções mais duras, em caso de novo teste nuclear.
Já Pequim busca a retomada do diálogo a seis - entre as Coreias do Norte e do Sul, China, Estados Unidos, Rússia e Japão - sobre o programa nuclear norte-coreano, em ponto morto desde 2008.
Os especialistas estimam que Pyongyang tem, hoje, plutônio para fabricar até seis bombas. Desconhecem se o regime utilizou urânio, ou plutônio, em seu teste de 2013.