Diante de embaixadores e representantes dos 180 países acreditados na Santa Sé, o Papa - filhos de imigrantes - dedicou boa parte de seu discurso anual ao tema da migração, um fenômeno "consistente e imponente".
Francisco exortou a Europa a seguir acolhendo refugiados e a se manter como um "farol de humanidade", apesar das ameaças terroristas, e citou a situação "dramática" que existe na fronteira entre Estados Unidos e México, ao se dirigir ao corpo diplomático do Vaticano.
"Diante da magnitude dos fluxos e de seus inevitáveis problemas associados surgem muitas questões sobre as possibilidades reais de acolhida e adaptação das pessoas envolvendo a mudança da estrutura cultural e social dos países receptores, assim como sobre um novo desenho de alguns equilíbrios geopolíticos regionais".
"São igualmente relevantes os temores sobre a segurança, exasperados pela ameaça do terrorismo internacional, mas a Europa não deve perder "os valores e princípios de humanidade, de respeito pela dignidade de toda pessoa" e "de solidariedade recíproca", ainda que o atual fluxo migratório possa se converter por vezes em "uma carga difícil de suportar".
Apesar das dificuldades, o Papa convocou a ouvir a "voz de milhares de pessoas que choram fugindo de guerras espantosas, de perseguições e de violações dos direitos humanos, ou da instabilidade política ou social, que torna impossível a vida na própria pátria".
"É o grito de quantos são obrigados a fugir para evitar as indescritíveis barbáries cometidas contra pessoas indefesas, como as crianças e os deficientes, ou o martírio pelo simples fato de sua fé religiosa", disse o Papa.
Francisco lembrou que, embora o fenômeno migratório gere "um grande desafio cultural, que não pode ficar sem resposta", "a acolhida pode ser uma ocasião propícia para uma nova compreensão e abertura de mente, tanto para quem é acolhido" quanto para a comunidade que o acolhe.
O papa citou as numerosas causas que provocam as migrações, da fome à pobreza, passando pelas guerras, e denunciou o tráfico de seres humanos, o comércio de armas e a corrupção, para recordar as numerosas crianças que morreram na travessia do Meditarrâneo.
"Temos consciência de que é necessário estabelecer planos a médio e longo prazo que não se limitem a uma simples resposta de emergência".
"É indispensável que se inicie um diálogo franco e respeitoso entre todos os países envolvidos no problema - de origem, trânsito ou recepção - para que, com maior audácia criativa, se busquem soluções novas e sustentáveis".
As declarações do Papa são feitas em um contexto de grande debate em toda a Europa sobre a migração, no qual se misturam o temor de que os recém-chegados não se integrem aos países de acolhida com o medo de que entre eles se camuflem jihadistas procedentes de Síria e de outros países muçulmanos.
No terceiro discurso de seu pontificado diante do corpo diplomático, o papa Francisco pediu uma "ação política conjunta" para "conter a propagação do extremismo e do fundamentalismo que produzem tantas vítimas na Síria e na Líbia, no Iraque e no Iêmen".
Além disso, também teve palavras para elogiar avanços, como os registrados nas eleições na República Centro-Africana ou os esforços diplomáticos na Síria, na Líbia e no Chipre.
A Santa Sé mantém relações diplomáticas com 180 países, além dos quais se somam a União Europeia, a Ordem Soberana Militar de Malta e uma missão específica para o Estado da Palestina.
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