Escalada verbal desperta temor de confronto militar direto Rússia-Turquia

AFP

A escalada verbal dos últimos dias entre a Turquia e a Rússia desperta o temor de um confronto militar entre os dois países, que já lutam indiretamente na Síria, onde Moscou apoia o regime de Damasco e Ancara, grupos rebeldes.

Os interesses dos dois países já divergiram no passado, como no século XVI, com as primeiras guerras russo-turcas.

Mais recentemente, em 1853, a guerra da Crimeia opôs a Rússia ao Império Otomano, que contava com o apoio de Grã-Bretanha e França.

O início, em setembro, dos bombardeios aéreos da Rússia na Síria e os disparos de artilharia turca contra combatentes curdos sírios originaram um novo enfrentamento indireto na complexa guerra civil travada no país do Oriente Médio.

No terreno, grupos rebeldes, apoiados pela Turquia, tentam atualmente conter o avanço das tropas sírias apoiadas pela Rússia. Os russos também apoiam os curdos sírios.

Os Estados Unidos também ajudaram os curdos da Síria, que estão na linha de frente do combate contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que controla parte de Síria e Iraque.

Ao contrário, Ancara afirmou que as milícias curdas sírias (Unidades de Proteção do Povo, YPG), vinculadas ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), são uma "organização terrorista" e uma "ameaça", assim como o grupo EI.

Por enquanto, a guerra entre a Rússia e a Turquia é verbal.

Assim, a Rússia denuncia "ações agressivas" da Turquia na Síria e a acusa de dar "apoio indireto ao terrorismo internacional".

Na terça-feira, o premiê turco, Ahmet Davutoglu, respondeu, acusando a Rússia de bombardeios "bárbaros" e "covardes" e advertiu que se continuar, haverá "uma resposta muito resoluta".

O clima de hostilidade entre os dois países data de fins de novembro, quando a aviação turca abateu um caça russo perto da fronteira síria, afirmando que a aeronave tinha violado seu espaço aéreo, o que Moscou desmentiu.

O incidente, em que morreu um dos pilotos russos, desencadeou uma grave crise diplomática bilateral. A Rússia adotou represálias econômicas contra a Turquia, que afetam principalmente os setores do turismo, da energia, da construção e da agricultura.

"Estamos na ante-sala de um enfrentamento. Ninguém planeja atacar o outro, mas com tal concentração militar no terreno e interesses tão divergentes, a casualidade pode ser determinante", resumiu o analista Alexander Konovalov.

Para o especialista militar Alexander Goltz, "embora apoie oficialmente Ancara, a Otan tenta a todo custo impedir que os turcos cometam ações imprudentes na Síria".

Sendo assim, os Estados Unidos exortaram Rússia e Turquia a "conversarem diretamente" e a "tomarem medidas para evitar qualquer escalada no conflito".

Em declarações difundidas pela agência Interfax, o secretário-geral da Organização do Tratado da Segurança Coletiva (OSTC), uma aliança integrada pela Rússia e as ex-repúblicas soviéticas, advertiu que "podemos passar a uma nova etapa, muito perigosa, a do enfrentamento armado direto entre países da região".

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