A americana Harper Lee, escritora do romance "O Sol é para todos", com o qual recebeu um prêmio Pulitzer e que a alçou à fama mundial, morreu aos 89 anos, confirmou nesta sexta-feira a prefeitura de sua cidade natal no estado do Alabama.
A morte foi confirmada por um porta-voz da prefeitura da cidade de Monroeville, Alabama (sudeste dos Estados Unidos), onde a autora do livro considerado uma obra-prima do século XX passou seus últimos anos reclusa e sem fazer declarações.
Harper Lee "morreu em paz durante a noite", informou a editora de Lee, HarperCollins.
"O Sol é para Todos", que expôs as injustiças raciais no sul dos Estados Unidos, era a única obra da autora até julho de 2015, quando foi editado de maneira surpresa seu segundo romance, "Vá e coloque um vigia", que tornou-se um acontecimento editorial mundial e bateu recordes de vendas.
"O mundo sabe que Harper Lee era uma escritora brilhante, mas muitos sabem que era uma mulher extraordinária de grande alegria, humildade e amabilidade. Viveu sua vida como quis, cercada de livros e das pessoas que amava", disse o presidente da HarperCollins, Michael Morrison, em comunicado.
"O mundo perdeu uma mente brilhante e uma grande escritora", escreveu Spencer Madrie, dono de Ol'Curiosities and Book Shoppe, pequena livraria independente em Monroeville, depois de saber da morte de Harper Lee.
"A partir de agora faltará um pedaço de Monroeville e no mundo pela ausência de Harper Lee", acrescentou Madrie no site da livraria.
Os preparativos para o funeral da escritora ainda não foram anunciados, segundo o jornal Alabama Al.com, que foi o primeiro a relatar a morte.
- Janela para o racismo -
Lee abandonou sua pequena cidade natal no sudeste rural dos Estados Unidos e foi em 1949 para Nova York, onde trabalhou em sua carreira como escritora.
Em julho de 1960 publicou o romance "O sol é para todos", que imediatamente tornou-se um sucesso de vendas e crítica.
O romance conta a história de um homem negro acusado injustamente de estuprar uma mulher branca, e os esforços de um advogado, Atticus Finch, que desafia o racismo de sua comunidade para defendê-lo.
Para escrever o livro, que vendeu 30 milhões de cópias em inglês e foi traduzido para mais de 40 idiomas, Lee se baseou nas experiências de sua infância.
No ano seguinte ganhou o Pulitzer e meio século mais tarde a obra continua sendo uma das mais emblemáticas da literatura americana do século passado, além de ser leitura obrigatória nas escolas americanas e de outras partes do mundo.
A adaptação para o cinema do romance chegou às telonas em dezembro de 1962, e também foi um sucesso de público - aumentando ainda mais a fama da autora, que sempre fugiu das câmeras e preferiu uma vida austera e em família.
- Acontecimento editorial -
Viveu entre Monroeville e Nova York, mas depois que começou a ter problemas de saúde e sua irmã Alice também adoeceu, voltou definitivamente para sua cidade natal.
Em 2015 o mundo se surpreendeu com a edição de seu segundo romance, "Vá e coloque um vigia", que põe em cena vinte anos depois os mesmos personagens de "O sol é para todos" e é narrado pela pequena filha do advogado, Scout, agora adulta.
Curiosamente, esta segunda parte foi escrita anos anos 1950, antes do grande sucesso de Lee. Seu editor, fascinado pelos flashbacks da infância de Scout, pediu à autora que o reescrevesse - fazendo surgir, dois anos e meio depois, o livro que a consagrou.
"Vá e coloque um vigia" liderou as vendas de livros nos Estados Unidos em 2015, com 1,6 milhões de cópias vendidas.