Grande intelectual italiano, o escritor Umberto Eco, que morreu na noite de sexta-feira aos 84 anos, era um estudioso, linguista e filósofo, que alcançou a fama em todo o mundo com um romance medieval e erudito, "O nome a rosa".
Filósofo de formação, ficou famoso tarde, quando estava próximo de completar cinquenta anos, tendo conseguido um enorme feito com seu primeiro romance, publicado em 1980. "O nome da Rosa" vendeu milhões de cópias e foi traduzido para 43 idiomas.
O livro foi adaptado para o cinema, em 1986, pelo francês Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery no papel do monge franciscano Guillaume de Baskerville, o ex-inquisidor encarregado de investigar a morte suspeita de uma freira em uma abadia do norte da Itália.
Salpicado com latin, o suspense deste renomado semiólogo foi ainda alvo de edições piratas, incluindo uma em árabe sob o título de "Sexo no convento".
Outra consequência, significativa para a mercado editorial italiano, "O nome da rosa reviveu o romance na Itália e a literatura italiana no exterior. Os escritores italianos voltaram a ser traduzidos", ressalta o escritor e crítico italiano Alain Elkann.
Eco, neto de um editor da pequena burguesia, contou que começou a escrever aos dez anos de idade histórias que ele mesmo editava.
Nascido em Alessandria, no norte da Itália, em 5 de janeiro de 1932, Umberto Eco estudou Filosofia na Universidade de Turim e dedicou sua tese ao "problema estético em Tomás de Aquino".
Este especialista em história medieval, que traduziu Nerval em italiano e que conhecia de cor Cyrano de Bergerac, também trabalhou para a rádio-televisão pública italiana RAI, uma oportunidade que lhe serviu para estudar o tratamento da cultura pela imprensa.
Poliglota, casado com uma alemã, Eco lecionou em várias universidades, especialmente em Bolonha (norte), onde ocupou a cadeira da semiótica até outubro de 2007, quando se aposentou.
Eco explicou que demorou para embarcar no gênero da ficção porque "considerava a escritura romanesca como uma brincadeira de criança que ele não levava a sério".
Homem de esquerda
Depois de "O nome da rosa", ele ofereceu aos seus leitores "O Pêndulo de Foucault" (1988), "A Ilha do Dia Anterior" (1994) e "A Misteriosa Chama da Rainha Loana" (2004). Seu mais recente romance, "Número zero", publicado em 2014, é um thriller contemporâneo centrado no mundo da imprensa.
Ele também é o autor de dezenas de ensaios sobre temas tão diversos como a estética medieval, a poética de Joyce, a memória vegetal, James Bond, a história da beleza ou da feiura.
"A beleza se situa dentro de certos limites, enquanto a feiura é infinita, de modo mais complexo, mais variado, mais divertido", explicou em uma entrevista em 2007, acrescentando que sempre "teve afeição por monstros".
Afirmando que "escrevia para se divertir", Il Professore - de olhos maliciosos e uma barba branca - também era bibliófilo e possuía mais de 30.000 títulos, incluindo edições raras.
"Eco era o primeiro da turma, muito inteligente, muito erudito. Ele encarnou a figura do intelectual europeu. Sentia-se tão a vontade em Paris ou Berlim quanto em Nova York ou no Rio de Janeiro", afirma Alain Elkann.
Militante de esquerda, Eco não foi um escritor trancado em sua torre de marfim, sua abertura não o impediu de ter um olhar crítico para com a evolução da sociedade moderna.
Após a vitória eleitoral de Silvio Berlusconi em 2008, dedicou um artigo ao retorno do espírito dos anos 40, lamentando "ouvir discursos semelhantes aos da 'defesa da raça', que não só atacava os judeus, mas também ciganos, marroquinos e estrangeiros em geral".
Sua última luta foi conduzida juntamente com outros escritores, incluindo Sandro Veronesi (Chaos calma), para proteger o pluralismo das editoras na Itália após a aquisição da RCS Libri pela Mondadori, propriedade da família Berlusconi.
Umberto Eco e outros grandes nomes da literatura italiana decidiram então se juntar a uma editora nova e independente batizada "La nave di Teseo" (o navio de Teseo, o mítico rei de Atenas), liderada por Elisabetta Sgarbi, ex-diretora da Bompiani, florão do grupo RCS, editora na Itália de Umberto Eco, mas também do francês Michel Houellebecq.