O sucessor de Joseph Blatter será escolhido nesta sexta-feira, em Zurique, mas além da questão de saber quem levará a melhor entre os dois favoritos, o xeque Salman e Gianni Infantino, o que está em jogo é a capacidade do vencedor de tirar a Fifa da maior crise desde sua criação, em 1904.
Há nove meses, a organização que rege o futebol mundial vem sendo abalada por uma tsunami de escândalos, com dirigentes presos e revelações bombásticas das investigações lideradas pela Suíça e os Estados Unidos.
O desafio do novo presidente será fazer com que a palavra Fifa possa ser pronunciada sem remeter necessariamente a problemas de corrupção. Uma tarefa das mais árduas, quando ainda pairam dúvidas sobre atribuição das sedes das próximas Copas do Mundo, na Rússia, em 2018, e no Catar, em 2022.
O sul-africano Tokyo Sexwale, um dos cinco candidatos, com chances quase nulas de ser eleito, resume a situação desta forma: "estamos aqui pela Fifa, uma casa danificada, que prepara de reparos".
O Príncipe jordaniano Ali, outro que deve ser mero coadjuvante na eleição, depois de levar Blatter ao segundo turno em maio do ano passado, deixou claro que "é preciso restaurar a confiança na Fifa".
O quinto candidato é o francês Jérôme Champagne, que já foi secretário-adjunto da Fifa, tampouco deve ter condições de se intrometer no duelo Salman-Infantino.
O novo presidente será eleito pelas 209 federações membros da entidade, que têm direito a um voto cada uma. Ou seja, o Brasil, pentacampeão mundial, tem o mesmo peso de Djibouti, último país do ranking da Fifa.
Na verdade, é possível que apenas 207 federações participem da votação, já que Indonésia e Kuwait foram suspensos por causa da interferência dos seus governos com as instâncias dirigentes do futebol local. A decisão de excluir ou não os dois países da escolha do novo presidente será tomada na manhã de quarta-feira.
A votação deve começar por volta de 14h00 no horário local (10h00 no horário de Brasília).
Quando o futebol vira assunto de polícia
Resgatar a imagem da Fifa será a principal missão do sucessor de Blatter, que abandonou o cargo no dia 2 de junho de 2015, pondo fim a 17 anos de reinado.
Quatro dias antes, o suíço de 19 anos tinha sido reeleito para um quinto mandato, mas precisou se afastar e convocar novas eleição diante da pressão internacional depois do terremoto do dia 27 de maio.
Naquele dia, sete altos dirigentes da Fifa que estavam em Zurique para participar do congresso eletivo foram presos num hotel de luxo.
Entre eles, o brasileiro José Maria Marín, ex-presidente da CBF, que foi extraditado para os Estados Unidos em novembro, e cumpre hoje prisão domiciliar em Nova York, enquanto aguarda o julgamento.
Os cartolas são acusados de receber milhões de dólares em propinas, na negociação dos direitos de transmissão de competições como a Copa América, entre outras.
Desde então, o noticiário esportivo vem dando muitas vezes mais destaque a novas prisões, extradições ou acusações de todo tipo do que no talento dos craques nas quatro linhas.
O esquema de corrupção é tamanho que o diretor da Receita Federal dos Estados Unidos, Richard Weber, chegou a chamá-lo de "Copa do Mundo da fraude".
Dezenas de jornalistas estão de plantão nesta semana na frente do hotel de luxo Baur au Lac, onde aconteceram as últimas detenções, e a justiça americana deve acompanhar com a atenção a eleição de sexta-feira
Platini apoia Infantino
As previsões foram confirmadas na quarta-feira com um levantamento efetuado pela AFP, que procurou todas as federações com direito de voto: Infantino e Salman lideram com folga as intenções de voto, e os outros três praticamente não foram citados.
Criticado por organizações de defesa dos direitos humanos por ser acusado de envolvimento na repressão no seu país, o Bahrein, durante a primavera árabe, em 2011, o xeque tem como principal trunfo o apoio da África, que reúne o maior número de federações nacionais (54).
"A Fifa se encontra numa encruzilhada", afirmou Infantino nesta quinta-feira. Pela primeira vez na campanha, o secretário-geral da Uefa teve o apoio oficial de Michel Platini, presidente da confederação europeia, que era o grande favorito da eleição, antes de se retirar por ser suspenso pela comissão de ética da Fifa.
"Trabalhei durante nove anos com Gianni. É um cara que trabalha muito, tenho total confiança nele", declarou o ex-craque francês numa entrevista que será publicada na sexta-feira no jornal L'Equipe.
Platini ficou fora do páreo por conta de um pagamento controverso de 1,8 milhões de euros que recebeu de Blatter em 2011.
Ambos alegam que se trata da remuneração de um trabalho de consultoria realizado pelo francês de 1998 a 2002, mas existem suspeitas de que o suíço tenha feito esse depósito para garantir que o eterno camisa 10 da Juventus desistisse de se candidatar na eleição de 2011.
Blatter e Platini foram suspensos por oito anos em dezembro, e a pena foi reduzida para seis anos pela câmara de apelação da Fifa na quarta-feira.