O líder socialista espanhol Pedro Sánchez recebeu nesta quarta-feira duras críticas, especialmente da esquerda, durante o debate de investidura em um parlamento transformado pela entrada de partidos emergentes como Podemos, que se preparava para votar de forma muito ampla "não" a sua candidatura.
Sánchez, ex-professor de economia de 44 anos, eleito secretário-geral do Partido Socialista Trabalhista Espanhol (PSOE) nas primárias há menos de dois anos, foi encarregado em fevereiro pelo rei de tentar formar um governo.
Com 90 deputados, seu partido ficou em segundo lugar nas eleições legislativas de dezembro, mas o líder da primeira força, o chefe do governo em fim de mandato, Mariano Rajoy, do conservador Partido Popular (PP, 123 deputados), recusou-se a tentar a investidura por falta de apoio.
Esta eleição histórica terminou com décadas de bipartidarismo PP-PSOE, com a entrada de duas formações alimentadas pela indignação popular com as políticas de austeridade draconianas e com a multiplicação de escândalos de corrupção: Podemos (esquerda radical, 65 deputados) e Ciudadanos (centro-direita, 40).
Após um mês de negociações, Sánchez só obteve o apoio do Ciudadanos, com o qual está longe de somar os 176 votos necessários para a sua investidura nesta quarta-feira, condenada, portanto, ao fracasso.
A sua "candidatura é fictícia, irreal", declarou Rajoy.
E, "especialmente porque procura liquidar o que foi feito na Espanha ao longo de quatro anos, que serviu, entre outras coisas, para que este país fosse resgatado, não caísse em uma situação de falência", acrescentou, lembrando que a crise de 2008 eclodiu sob o governo socialista anterior.
A Espanha saiu no final de 2014 de cinco anos de recessão ou crescimento zero e sua economia cresceu 3,2% em 2015. No entanto, o desemprego, um dos grandes dramas sociais do país, ainda é de 20,9%.
'Cocktails de diferentes sabores'
Os ataques mais duros a Sánchez vieram da esquerda.
Em seu primeiro discurso no Congresso dos Deputados, o líder do Podemos, Pablo Iglesias, um cientista político de 37 anos que subiu ao palco com uma camisa branca simples sem gravata, criticou Sanchez por sua "capitulação" às políticas liberais dos Ciudadanos.
"Reivindique a política como a arte de mudar as coisas, e não como a arte de concordar com que tudo siga igual", exclamou em um discurso tenso. E ele o acusou de fazer "cocktails de diferentes sabores", em referência às várias propostas apresentadas pelo socialista à esquerda e à direita em seu esforço para conseguir o máximo de apoio.
Considerando que o acordo com o Ciudadanos era "contrário" ao que estava sendo negociado com Podemos, o partido de esquerda radical se retirou uma semana atrás da mesa de diálogo. A formação segue com outras menores de esquerda.
"Estamos aqui pelo povo e para o povo", disse Iglesias, declarando-se orgulhoso de pertencer, como muitos de seus deputados, ao movimento dos "Indignados".
E recordando a ditadura de Franco (1939-1975), quando "ser socialista levava à cadeia e não ao conselho de grandes empresas", pediu a Sánchez: "negocie com a gente, pare de obedecer aos oligarcas".
Sánchez, no entanto, defendeu a natureza "social" do seu programa e pediu que votem "sim" a sua candidatura ou, pelo menos, abstenham-se.
O líder socialista passará por uma segunda votação na sexta-feira, na qual já não necessitará de uma maioria absoluta, mas uma maioria simples. Se ninguém mudar sua posição, também não deverá ter sucesso.
Se, no prazo de dois meses, nem ele nem outro candidato conseguir ser investido primeiro-ministro, a Espanha convocará novas eleições, a princípio em 26 de junho.
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