O presidente americano, Barack Obama, chegou neste domingo a Cuba, onde marcará a história com uma visita de três dia a um dos últimos bastiões do socialismo, que deseja virar a página depois de mais de cinco décadas de forte antagonismo.
Obama chegou às 20H25 GMT ao aeroporto José Martí de Havana, acompanhado de sua esposa, Michelle, e suas duas filhas.
"Qué bolá, Cuba?", escreveu em seu Twitter em referência ao típico cumprimento cubano, equivalente a "Como está?".
Obama é o primeiro presidente dos Estados Unidos a pisar na ilha em 88 anos.
A visita, que se estenderá até terça, quando Obama viajará para a Argentina, também servirá para que o presidente americano reforce a imagem de um Estados Unidos diferente à de um país que por décadas promoveu intervenções e considerou a América Latina seu quintal.
E no último ano de sua segunda presidência, Obama quer assegurar-se de que seus avanços em Cuba não revertam, seja quem for a assumir a Casa Branca no próximo ano.
- Detenção de opositores -
Um gesto para tentar reforçar a nova relação será a reunião prevista para terça-feira em Havana com um grupo de dissidentes, o que até pouco tempo seria impensável. .
Foi informado que o presidente também abordará o tema dos direitos humanos em sua reunião com Raúl Castro, na segunda-feira. Cuba, por sua vez, decidiu transmitir ao vivo o discurso de Obama ao povo cubano.
No entanto, a atenção do chefe de Estado americano à dissidência cubana pode ser comprometida pela detenção, pouco antes de sua chegada, de dezenas de opositores do grupo Damas de Branco.
Como costumam fazer todos os domingos, manifestantes se concentraram perto de uma igreja para protestar por direitos humanos.
Danilo Maldonado e Berta Soler, líder das Damas de Branco, están entre os detidos que foram encurralados e arrastados em direção a veículos por agentes de segurança e grupos a favor do governo.
"Obama está sendo cúmplice de um governo, de uma ditadura", disse Maldonado à AFP uma hora antes de ser detido.
- Abertura apesar do embargo -
Embora não possa anular o embargo econômico contra Cuba, vigente desde 1962, por se tratar de uma atribuição do Congresso com maioria da oposição republicana, Obama sinalizou positivamente nesse sentido e, com seus poderes presidenciais, decretou uma série de medidas de alívio às restrições.
A suspensão do embargo, pedida todo ano pelas Nações Unidas, é também a principal demanda de Cuba, que atribui à medida boa parte de seus dramas econômicos.
Segundo Obama, décadas com essa mesma política em relação à ilha demonstraram pouca eficácia.
Além disso, as empresas americanas estão ávidas por fazer negócios no país. No sábado, a rede de hotelaria Starwood (Meridien, W, Westin e Sheraton) anunciou um acordo com as autoridades cubanas para abrir dois hotéis de luxo em Havana antes do final do ano.
O portal Airbnb também obteve autorização dos Estados Unidos para ampliar suas operações Cuba, segundo anunciou neste domingo.
- Algo grande -
Em Havana Velha, o charmoso bairro colonial da capital por onde Obama passeará e se reunirá com o cardeal Jaime Ortega, está impecável para recebê-lo.
Nas adjacências dos prédios com paredes descascadas, os cubanos foram à missa neste Domingo de Ramos, que marca o início da Semana Santa.
"Esta tarde estará aqui. É algo grande. Nunca pensei que veria isso. Tem que ajudar a mudar. Eu sou negro e ele é um presidente negro. Eu gostaria de vê-lo", comentou à AFP Ramiro López, aposentado de 71 anos.
- Sem mudar o essencial -
Pelo lado cubano, garante-se que não haverá debate com Obama sobre a situação interna.
"Ninguém poderia pretender que, para avançar à normalização de relações, Cuba tenha que renunciar a qualquer um de princípios", enfatizou o chanceler Bruno Rodríguez, lembrando que "ainda há grandes diferenças" entre os dois governos.
Segundo a Casa Branca, está descartado um encontro de Obama com o líder Fidel Castro, afastado do poder desde 2006 por motivos de saúde.
Obama visitará Cuba a um mês para o Congresso do Partido Comunista, único em Cuba e que decide a cúpula do governo.
Raúl e Fidel Castro receberam o presidente venezuelano Nicolás Maduro, em um sinal de solidariedade com um governo muito questionado por Washington.
Embora no plano político as diferenças entre os dois governos sejam inquestionáveis, Obama e Raúl Castro encontraram o cenário ideal para mostrar as coincidências entre os dois países: a partida de beisebol entre a seleção de Cuba e o Tampa Bay das Grandes Ligas, que será assistida pelos dois na terça-feira no Estádio Latino-americano.
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