Washington, 23 - O republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton conseguiram vitórias importantes nas primárias partidárias da terça-feira, ao derrotar seus rivais no Arizona. Em um dia marcado pelos atentados em Bruxelas, os dois aproveitaram para criticar as visões dos rivais em política externa e do combate ao extremismo islâmico.
Trump e Hillary conseguiram vitórias no Estado do Arizona, que concedia mais delegados na disputa do dia anterior. O senador democrata Bernie Sanders, porém, obteve vitórias no caucus de Utah e no de Idaho, enquanto o republicano Ted Cruz ganhou no caucus de Utah.
Com o êxito no Arizona, porém, Trump e Hillary mantêm uma vantagem confortável na corrida por delegados que indicarão o candidato oficial de cada partido, nas convenções nacionais de julho.
Na Europa, o Estado Islâmico reivindicou a autoria de ataques em Bruxelas que deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos. Diante disso, o tema esteve presente nas declarações dos pré-candidatos. "Não se trata apenas de escolher um presidente, mas de eleger um comandante-em-chefe", disse Hillary em Seattle, ao condenar Trump nominalmente e denunciar o apoio do empresário a táticas de tortura e por sua retórica linha-dura em relação aos muçulmanos. "A última coisa que precisamos é de líderes que incitem mais medo."
Trump, por sua vez, chamou a ex-secretária de Estado de "Incompetente Hillary", em uma entrevista à rede Fox News, ao comentar a participação dela no governo do presidente Barack Obama. "A Incompetente Hillary não sabe sobre o que está falando", disse o magnata. "Ela não tem a menor ideia."
O dia de votações nas primárias foi marcado por participação intensa no eleitorado dos dois partidos. No Arizona, em alguns locais os eleitores esperaram duas horas ou mais para participar.
Entre os republicanos, Cruz condenou a inexperiência de Trump em política externa. "O que está em jogo é muito alto para se aprender durante o trabalho", afirmou. O senador ultraconservador pelo Texas divulgou comunicado após os ataques em Bruxelas, no qual dizia que era hora das forças de segurança patrulharem bairros muçulmanos "antes que eles se tornem radicalizados", sem dar mais detalhes.
Com a vitória no Arizona, Trump obteve pouco menos da metade dos delegados republicanos decididos até agora. Se mantiver esse patamar, ainda não estará confirmado como o nome a ser escolhido na convenção nacional. No total, Trump conseguiu 739 delegados e Cruz, 465. São necessários 1.237 delegados para conseguir a nomeação republicana. No lado democrata, Hillary possui 1.214 delegados e o senador Bernie Sanders, 901. Além disso, a pré-candidata tem um apoio bem maior entre os chamados superdelegados, lideranças partidárias que não dependem da votação popular para escolher seu pré-candidato.
Trump avança
Trump chegou às primárias de terça-feira depois de uma ameaçada velada formulada ao Partido Republicano sobre eventuais "distúrbios" caso a convenção partidária não reconheça a liderança que o bilionário conquistou desde o início da campanha. Suas promessas de construir um muro na fronteira com o México e deportar 11 milhões de pessoas sem documentos, pilares de sua campanha, foram importantes no Arizona, um estado onde o debate sobre a imigração clandestina é crucial.
O empresário de Nova York continua dominando a disputa republicana e se aproxima dos 1.237 delegados necessários para obter a indicação do partido: ele acumula 744, segundo a CNN. Cruz tem 461 e Kasich 145.
Caso nenhum pré-candidato alcance a meta de 1.237, os delegados votarão na convenção para escolher o candidato que representará os republicanos na eleição presidencial de novembro.
Esta é a aposta do centrista Kasich: "Ninguém, ninguém chegará à convenção com delegados suficiente", afirmou no domingo.
Ao anunciar apoio a Cruz, Bush afirmou que "pelo bem de nosso partido e de nosso país, devemos superar a vulgaridade e as divisões que Donald Trump provoca" ou "certamente perderemos a oportunidade de derrotar a indicada democrata, que provavelmente será Hillary Clinton".
Clinton adiante
Os triunfos de Sanders, os primeiros do pré-candidato em duas semanas, podem ter pouca utilidade na longa disputa pela indicação partidária.
Após a terça-feira, Hillary Clinton teria mais de 1.700 delegados, contra 930 de Sanders, incluindo os superdelegados, segundo as estimativas da CNN. Um pré-candidato precisa de 2.383 delegados para conquistar a candidatura democrata na convenção de julho na Filadélfia.
Desta maneira, Sanders precisa manter ou melhorar o ritmo de terça-feira no restante das primária, que prosseguem até junho, se deseja obter a nomeação do Partido Democrata.
A missão complicada já foi percebida entre os democratas e algumas vozes começaram a sugerir que chegou o momento de Sanders conceder a vitória e pensar na unidade do partido. "Ele deveria olhar os números e tirar suas conclusões", disse a senadora democrata Barbara Mikulski.