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Estado de Minas

Irmãos de sangue têm papel importante na ação de extremistas


postado em 23/03/2016 11:31

As células extremistas contam com muitos irmãos de sangue em suas fileiras, a exemplo dos autores de atentados recentes na Europa e Estados Unidos, e isso, segundo psiquiatas e psicólogos especializados, acontece por razões lógicas e táticas.

Os irmãos Khalid e Ibrahim El Bakraoui em Bruxelas na terça-feira, os irmãos Merah em 2012, em Toulouse, no sudeste da França, os irmãos Kouachi no ataque contra a revista Charlie Hebdo em Paris, os irmãos Tsarnaev no ataque a bomba contra a maratona de Boston em 2013: nos últimos anos, muitos irmãos de sangue tornaram-se irmãos de armas para semear o terror entre aqueles que consideram ser "inimigos do Islã".

E nos processos judiciais abertos, principalmente na França e na Bélgica, em razão da partida ou retorno de áreas controladas pelo grupo Estado Islâmico na Síria e no Iraque, os sobrenomes idênticos, muitas vezes em grupos de três ou quatro, são numerosos.

"É um fenômeno muito natural", explica à AFP o psiquiatra e ex-agente da CIA Marc Sageman, um dos primeiros a ressaltar, em um livro de 2003, o fenômeno.

"A identidade social é desenvolvida pela primeira vez conversando com membros da família. E as pessoas mais próximas são, em primeiro lugar, os irmãos e amigos de infância".

"Isto é o que eu chamo de ativação da identidade social. É uma questão de proximidade. É por isso que existem grupos jihadistas com muitos irmãos, por vezes irmãs, amigos de bairro. Eles crescem juntos. Eles reclamam, inventam uma identidade de defensores do Islã agredido, de mulheres e crianças mortos em ataques aéreos. Eles se radicalizam, reforçam-se mutuamente", afirma.

Confrontados com a monitorização rigorosa estabelecida depois de 11 de setembro de 2001 em mesquitas e lugares de culto, estes pequenos grupos familiares, impossíveis de serem infiltrados do lado externo, fecham-se em si mesmos, aprendem rapidamente as técnicas de dissimulação.

"É uma questão de confiança", acrescenta Marc Sageman. "Você se apoia em um parente, é natural. E quando se trata de treinar alguém com você, o alvo mais lógico é o seu irmão mais novo ou mais velho. É o mesmo fenômeno com as gangues de rua. Não há necessidade de lavagem cerebral, de doutrinação".

Bula de radicalização

Patrick Amoyel, psicanalista e professor de psicopatologia em Nice, no sudeste da França, trabalha em uma associação chamada Entr'autres na radicalização de jovens atraídos pelas teses extremistas. Em contato com as famílias, ele notou a presença de muitos irmãos.

"Dentro das famílias, a influência funciona nos dois sentidos", afirma à AFP. "Eles se fecham rapidamente em uma espécie de confusão psíquica. Há algo de um pouco louco, um pouco irracional nestes processos. Uma tomada de risco um pouco adolescente, mesmo que nem sempre sejam adolescentes".

Psicólogo na associação Entr'Autres, Amélie Boukhobza acrescenta: "ocorre muitas vezes que o mais jovem, que tem mais a provar, um lugar no mundo a encontrar, que influencia o mais velho. O mais velho não é necessariamente o ascendente".

Uma vez que esta bolha de radicalização começa a inflar, muitas vezes sem o conhecimento de outros membros da família que constatam simplesmente que dois ou três irmãos se aproximaram e sussurram entre si, ela adquire consistência e resistência a qualquer teste.

"Isto pode ampliar aos círculos de amigos próximos, com por exemplo o melhor amigo que se casa com a irmã, e isso cria células muito homogêneas e confusas do ponto de vista psicológico e emocional", acrescenta Patrick Amoyel.

"A este nível, ocorre a consolidação emocional mútua, que é muito forte, difícil de quebrar. Temos visto isso com uma certa frequência. E isso não é provocado por nenhuma das doenças mentais, não é da ordem psicótica ou psico-patológica".

"Essa situação gira em círculos, um influencia o outro e vice-versa", disse ele, citando "um desejo de passar o limite, seguir em direção a rebelião absoluta. E isso pode acabar em ação terrorista".


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