Em um salão lotado de alunas de escolas de ensino médio públicas e privadas, Michelle Obama conseguiu, com seu carisma, que as adolescentes deixassem seus celulares de lado por alguns momentos e prestassem atenção em suas palavras.
"Eu me sinto como se estivesse na minha casa, porque cresci em um bairro como este, um lugar onde as pessoas tinham de lutar para manter suas famílias", comparou ela, em uma das salas do Centro Metropolitano de Desenho, uma ilha de modernidade em Barracas, na esquecida zona sul da capital argentina. A primeira-dama convidou as jovens a acreditarem em sua capacidade e a cultivarem mais o intelecto do que sua aparência.
A conversa é parte do programa "Let the Girls Learn" ("Deixem as meninas aprenderem") lançado por Washington há um ano para promover a educação de "62 milhões de crianças que estão fora da escola no mundo todo".
GENTE COMO A GENTE De vestido azul, salto alto e usando um tom mais intimista, Michelle contou que, em sua infância, "sonhava com ir à melhor universidade e ser advogada, ter um trabalho importante e ser líder na comunidade". "Mas, quando comecei a escola, teve gente de fora da minha casa que não acreditava na minha capacidade de alcançar meus sonhos, professores que achavam que eu não era inteligente o suficiente e apoiavam os garotos, embora as meninas tivessem as melhores notas", contou.
A primeira-dama também pediu que não se deixem ser julgadas pela aparência. "Quando cresci, encontrei homens que, na rua, me viam segundo a minha aparência, como se fosse um objeto em vez de um ser humano com sentimentos", afirmou. Ela admitiu que as pressões sociais fizeram-na fraquejar, mas que decidiu "não ouvir as vozes que me menosprezavam, decidi ouvir minha própria voz e as dos que acreditavam em mim".
Graduada em direito na prestigiosa Universidade Harvard, ela falou de si mesma como um exemplo do que a força de vontade pode conseguir. "Quero o mesmo para vocês. Insisto para que tenham a melhor educação que puderem, seus cérebros são muito importantes. Não deixem que as subestimem", encorajou.
Michelle Obama pediu às jovens argentinas que sejam líderes em suas famílias, em sua comunidade e na sociedade. Sem citá-la diretamente, referiu-se à Cristina Kirchner (2007/2015) como presidente mulher, "um marco que meu país nunca conseguiu", admitiu. "Precisamos de mais líderes mulheres nas empresas e que criem suas próprias empresas; líderes mulheres nos laboratórios fazendo novas descobertas que derrubem o mito de que a ciência e a matemática são coisas de homem", afirmou.
No que foi sua estreia em público como primeira-dama argentina, Juliana Awada apresentou Michelle Obama como alguém que lhe deu "vários conselhos", que lhe serviram de "inspiração". "Você não estuda para ser primeira-dama", desculpou-se Juliana, empresária do setor têxtil e sem título universitário.
No fim da conversa, Michelle foi ovacionada pelas garotas e dedicou quase o mesmo tempo para tirar fotos e fazer "selfies" com dezenas delas. "Michelle, Michelle", gritavam as jovens, com os celulares em punho. "Ela me pareceu muito inteligente. Me emocionou o que ela nos disse e poder vê-la tão de perto", disse Maia Bircz, de 17 anos, que deseja se graduar em direito. A menos de um quilômetro desse espaço de modernidade, fica a Villa 21, uma das várias favelas de Buenos Aires.