O grupo Estado Islâmico (EI) ordenou nesta quinta-feira que os civis fujam da cidade de Palmira, cercada pelas forças do regime sírio, enquanto o secretário de Estado americano, John Kerry, está em Moscou para discutir os esforços diplomáticos para acabar com o conflito na Síria.
O chefe da diplomacia americana se reunia com o seu colega russo, Sergei Lavrov, antes de uma reunião à noite com o presidente Vladimir Putin.
Essas discussões ocorrem enquanto o EI ocupa, mais do que nunca, o centro das preocupações internacionais, dois dias após os ataques em Bruxelas reivindicados pelo grupo extremista.
Paralelamente, Bagdá anunciou nesta quinta-feira o lançamento de uma ofensiva para retomar o controle de Mossul, a "capital" dos extremistas no Iraque.
Em Moscou, americanos e russos devem discutir os avanços da primeira rodada das negociações inter-sírias sob os auspícios da ONU, que se encerra nesta quinta-feira, em Genebra, sem qualquer progresso substancial.
As discussões sobre uma "transição" política na Síria seguem centradas no destino do presidente Bashar Al-Assad.
Washington e a oposição síria exigem a sua partida, enquanto Moscou o apoia e argumenta que apenas o povo sírio pode decidir seu destino.
A delegação americana continua, no entanto, cautelosa sobre o resultado de sua visita à Rússia e insiste que seu objetivo é avaliar a verdadeira posição de Putin, mais do que convencê-lo a mudar de opinião.
'Libertação próxima'
Depois de lançar, em 7 de março, uma ofensiva para reconquistar Palmira (centro), as forças pró-regime estão agora posicionadas a oeste desta cidade tomada pelos extremistas há quase um ano.
O grupo jihadista ordenou que os últimos 15.000 civis em Palmira fujam da cidade, devido ao avanço das forças pró-governo, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"Os extremistas pediram por alto-falante para que os civis deixem a cidade, porque os combates já chegaram aos subúrbios", indicou a ONG, que garante que as forças pró-governo avançam em várias frentes pelo oeste.
De acordo com a mesma fonte, a progressão é mais lenta do que o esperado devido às bombas plantadas pelo EI nos campos próximos a cidade.
Uma fonte da segurança síria já havia indicado que o exército está às portas desta cidade histórica.
O EI enviou reforços para a cidade, de acordo com OSDH, que informou que 40 jihadistas e 8 combatentes pró-regime morreram nas últimas 24 horas nos combates.
Apelidada de "Pérola do Deserto", a antiga cidade de Palmira - de mais de 2.000 anos - é um Patrimônio Mundial da Humanidade.
O diretor de Antiguidades da Síria, Maamoun Abdelkarim, indicou nesta quinta-feira à AFP que dois dos maiores tesouros arqueológicos que o EI destruiu com explosivos, os templos de Bel e Baal-Shamin, serão reconstruídos sob a supervisão do Unesco depois da "libertação próxima" de Palmira.
A reconquista de Palmira permitiria às forças pró-governo avançar no deserto sírio, até a fronteira com o Iraque, localizada mais a leste e nas mãos dos jihadistas.
Quebrar o gelo
Em Genebra, os dez dias de negociações indiretas conduzidas pelo enviado da ONU Staffan de Mistura serviram para quebrar o gelo entre a oposição e o regime.
De acordo com uma fonte próxima à delegação do regime, De Mistura estabeleceu "dez pontos de convergência".
Antes de uma pausa nas negociações, as partes procuravam nesta quinta-feira chegar a um acordo sobre a data da próxima rodada.
Representantes de Damasco querem retornar a Genebra apenas após as eleições legislativas que o regime planeja organizar em 13 de abril.
A oposição considera estas eleições "ilegítimas" e apela a uma retomada das negociações em dez dias.
De acordo com o roteiro estabelecido pela ONU, estas negociações indiretas devem permitir a criação de um órgão de transição no prazo de seis meses, que irá redigir uma nova constituição e realizar eleições dentro de 18 meses.
O conflito sírio, que já fez mais de 270.000 mortos e milhões de deslocados, propiciou um terreno fértil ao EI, que tem preocupado toda a comunidade internacional.
"O que aconteceu em Bruxelas e Istambul, mas que pode acontecer em qualquer lugar, nos faz lembrar da urgência de encontrar uma solução na Síria", afirmou De Mistura, referindo-se aos recentes ataques reivindicados pelo grupo jihadista na Bélgica e na Turquia.