O exército sírio, apoiado pela Rússia, infligiu uma derrota esmagadora neste domingo ao grupo Estado Islâmico (EI), ao recuperar o controle da cidade de Palmira, e prometeu expulsar a organização extremista de seus principais redutos na Síria. Esta é a vitória mais importante do regime sírio contra o EI desde a intervenção militar, no final de setembro de 2015, no conflito sírio da Rússia, aliada incondicional do presidente Bashar al-Assad.
Após a reconquista de Palmira, restará apenas a cidade de Al-Alianiyé, localizada 60 km ao sul, para as forças pró-regime recuperarem o controle do deserto sírio e poder avançar em direção à fronteira com o Iraque, em grande parte controlada pelos jihadistas. Discursando para um grupo de deputados franceses em visita a Damasco, Assad chamou de "importante façanha a libertação de Palmira". Trata-se de "uma nova prova da eficácia da estratégia do exército e de seus aliados na guerra contra o terrorismo, em comparação com a falta de seriedade da coalizão liderada pelos Estados Unidos" contra o EI, alfinetou.
O presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou por telefone Assad, que agradeceu a ajuda da Rússia, segundo um porta-voz do Kremlin. "O exército cumpriu sua missão em Palmira, onde restaurou a segurança", indicou o comando militar em um comunicado anunciando a retomada da cidade histórica de mais de 2 mil anos, localizada no centro da Síria.
Os 20 dias de combates custaram a vida de 400 jihadistas, "o maior número de mortos para o EI em uma única batalha desde o seu surgimento" no conflito sírio em 2013, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). Do lado oposto, 188 combatentes pró-regime pereceram. A televisão estatal síria exibiu imagens de destruição dentro do museu de Palmira, teatro de uma terrível batalha, com cabeças de estátuas no chão, coberto de detritos, e uma grande cratera no teto.
Segundo uma fonte militar, as unidades especiais do exército começaram a desarmar as bombas e minas deixadas pelos extremistas na cidade antiga. Em Amã, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, expressou sua satisfação com a libertação de Palmira e exortou "o mundo inteiro a proteger e preservar este patrimônio da humanidade". O chefe sírio de Antiguidades, Mamoun Abdelkarim, disse à AFP que "a paisagem geral está em bom estado" e que Palmira "voltará a ser como antes".
Raqa e Deir Ezzor os próximos objetivos
Apoiados pela aviação e as forças especiais russas, bem como pelo Hezbollah libanês e milícias, os soldados sírios lançaram em 7 de março a ofensiva para recuperar Palmira, que caiu nas mãos do EI em maio de 2015.Na cidade, os extremistas destruíram parte das suas ruínas históricas, classificadas como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco.
Após esta importante vitória, o comando sírio afirmou que "Palmira será a base a partir da qual irá expandir as operações militares contra o grupo terrorista em várias frentes, incluindo Deir Ezzor (leste) e Raqa (norte)", os dois principais redutos do EI na Síria. O objetivo é "apertar o cerco aos terroristas, para cortar suas linhas de abastecimento e retomar os territórios sob seu controle, acabando, por fim, com sua existência" na Síria, garantiu.
Uma fonte militar indicou que os jihadistas "recuaram" de Palmira para Sokhné, mais a leste, assim como para Raqa e Deir Ezzor.
"Os jihadistas receberam a ordem de se retirar de Palmira por seu comando em Raqa (norte)", capital do auto-proclamado "califado" do EI na Síria, informou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH. Mas ainda resta "um punhado de jihadistas que querem continuar a luta".
Neste sentido, os combates prosseguem na área próxima ao aeroporto militar, no sudeste da cidade, segundo o OSDH, enquanto a quase totalidade dos habitantes fugiram da cidade antes da entrada do exército em Palmira.
Responsável por inúmeras atrocidades nas regiões sob seu controle e vasta destruição do patrimônio do país, o EI privou Palmira de seus mais belos templos, o de Bêl e Baalshamin, destruídos com explosivos. Também reduziu a pó torres funerárias e o célebre Arco do Triunfo.
Grande derrota
A perda de Palmira é a segunda grande derrota do EI na Síria após a registrada em janeiro de 2015 em Kobani (norte), de onde os jihadistas foram expulsos pelas forças curdas apoiadas pela coalizão internacional liderada por Washington.
Do outro lado da fronteira, no vizinho Iraque, o EI também é alvo de uma grande ofensiva do exército, que busca retomar o controle de sua fortaleza de Mossul, a segunda maior cidade do país, localizada no norte, com o apoio da aviação da coalizão internacional e de milícias locais.
As grandes potências estão determinadas a acabar com o EI, um grupo ultrarradical que reivindicou na terça-feira passada os atentados em Bruxelas (31 mortos e 340 feridos), quatro meses após cometer os piores ataques em território francês, em Paris (130 mortes).
Palmira era uma das principais batalhas em curso na Síria, onde uma trégua entrou em vigor há um mês entre os rebeldes e o regime, o que lhe permitiu concentrar seus esforços na luta contra os jihadistas que estão excluídos desta trégua.
Aproveitando a pausa nas hostilidades, uma primeira rodada de negociações indiretas foi realizada em Genebra entre o regime e a oposição, sob a égide das Nações Unidas. O objetivo é encontrar uma solução para um conflito que, em cinco anos, fez mais de 270.000 mortos e que provocou uma profunda crise migratória com a fuga de milhões de sírios.
A ONU espera uma segunda rodada de discussões nos dias 9 e 10 de abril.