Paquistão quer 'varrer' terroristas

Premiê do país, Nawaz Sharif, visita cidade atingida por ataque que deixou 72 mortos na Páscoa e promete vingança

Rodrigo Craveiro



Brasília – O premiê paquistanês, Nawaz Sharif, prometeu que seu governo não vai descansar até que tenha vingado “a última gota de sangue dos compatriotas”.
“Aqueles que fomentam o terrorismo, o ódio sectário e o extremismo não poderão fugir e enfrentarão a Justiça”, avisou, enquanto visitava a cidade de Lahore, alvo de um sangrento ataque durante a Páscoa. “Nossa meta não é apenas eliminar a infraestrutura do terror, mas também a mentalidade extremista, que afeta o nosso modo de vida. (…) Nós devemos levar essa guerra às portas dos grupos terroristas. Deus permita, nós vamos varrê-los”, acrescentou o chefe de governo, que cancelou uma visita oficial ao Reino Unido.

No último domingo, um atentado suicida contra o Parque Gulshan-e-Iqbal, na cidade de Lahore, deixou 72 mortos, incluindo 29 crianças, e 233 feridos — o local estava lotado de cristãos, que celebravam a data. Imran Maqbook, porta-voz dos serviços administrativos de Lahore, confirmou à agência France-Presse que a explosão matou entre 10 e 15 cristãos. O massacre foi reivindicado pela Jamaat-ul-Ahrar, uma facção jihadista pouco conhecida, fundada dois anos atrás por dissidentes do Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP), provenientes de quatro dos sete distritos tribais ao longo da fronteira entre Paquistão e Afeganistão. “Executamos o ataque de Lahore e os cristãos eram o nosso alvo”, disse o porta-voz, Ehsanullah Ehsan, antes de ameaçar ações contra escolas e universidades.
O papa Francisco pediu, ontem, às autoridades paquistanesas que façam todo o possível para velar pela segurança da população, especialmente das minorias cristãs. “Ontem, no Paquistão, a Santa Páscoa foi ensanguentada por um atentado execrável. (…) Uma vez mais, a violência e o ódio conduzem apenas ao sofrimento e à destruição.”

Segundo o jornal paquistanês The Express Tribune, as forças de segurança do país realizaram uma operação conjunta em 250 casas de Peshawar e detiveram 144 suspeitos, além de apreenderem armas. Em Hayatabad, 62 homens foram presos, entre eles nove afegãos. O homem-bomba de Lahore se explodiu numa área do parque onde várias crianças brincavam. Especialistas admitiram à reportagem que o ataque de domingo se insere no contexto da disputa entre os extremistas por influência e poder. “A Jamaat-ul-Ahrar compete com outras facções jihadistas violentas pela supremacia e pelo controle do Paquistão. Os jihadistas lutam pelo poder e pela autoridade”, afirmou Farhana Qazi, autora de Secrets of the Valley: A personal journey to the war in Kashmir between India and Pakistan e natural de Lahore.

LONGO PRAZO De acordo com a escritora, a intenção era alvejar o principal grupo de minoria religiosa no Paquistão. “Os cristãos formam cerca de 3% dos paquistaneses. A Jamaat-ul-Ahrar havia atacado outras minorias antes, como xiitas. A meta dela é desestabilizar o Paquistão e forjar um Estado Islâmico”, comentou. Qazi acredita que a promessa de Sharif de eliminar o terrorismo será um esforço de longo prazo, o qual vai dispender tempo, recursos e mão de obra. “Os serviços de segurança empreendem uma caçada aos militantes no Punjab, o que é um sinal positivo.
O sucesso da guerra antiterror dependerá de uma maior coordenação e de melhor inteligência.”

Também de Lahore, o jornalista Raza Ahmad Rumi — analista sobre terrorismo pelo Ithaca College e sobrevivente de uma tentativa de assassinato cometida pelo Talibã em março de 2014 — explica que a reivindicação do atentado de domingo foi feita em alinhamento às práticas anteriores da Jamaat-ul-Ahrar de atingir não muçulmanos. “O TTP compreende pelo menos 30 pequenos grupos, dissidentes do Talibã afegão, além de organizações sectárias, como a Lashkar-e-Jhangvi (LeJ). Essas pequenas facções têm que ser derrotadas, e seus militantes, reintegrados à sociedade”, observa. “A infraestrutura terrorista do Paquistão tem décadas. Seriam necessários anos para o governo destruí-la e eliminá-la por completo.” Rumi diz que o governo de Sharif tenta implementar um plano de ação nacional contra o terrorismo. “Mas o programa é lento na reforma das instituições, como o combate a seminários religiosos de preparação de militantes, e na mudança do sistema educacional.”.