Trump, o politicamente incorreto, a um passo da candidatura republicana

AFP

Donald Trump teve sua revanche.

Menos de um ano depois de sua entrada bombástica na corrida em direção à Casa Branca, o multimilionário americano se converteu no candidato natural do Partido Republicano para as presidenciais de novembro, capitalizando tanto a admiração quanto a revolta do eleitorado.

Há 11 meses, ninguém considerava que ele tinha chance, mas com suas declarações chocantes Trump mudou o rumo da campanha, lançou pelos ares o politicamente correto e se impôs como o candidato republicano indiscutível, apesar da oposição de seu próprio partido.

O extravagante magnata de 69 anos, que fez sua fortuna na construção, nunca ocupou um cargo público. Até anunciar sua candidatura, seu nome era apenas sinônimo de torres e cassinos, casamentos e divórcios de celebridades, e "O Aprendiz", o reality-show do qual era apresentador.

Mas este populista que já havia cogitado uma corrida à Casa Branca se revelou um animal político formidável, dono de um ego superdimensionado, tão evidente quanto sua inverossímil cabeleira loura.

Ousa falar sobre tudo, e diz o que quer. Com um instinto temido, atinge onde mais dói. Não hesita.

Insulta mulheres, mexicanos, muçulmanos e, no entanto, sua aparente honestidade crua, desafio à correção política e um desdém à classe política, o mantêm no topo das pesquisas desde que lançou sua candidatura, em junho passado.

Se for eleito à Casa Branca, promete construir um muro na fronteira mexicana, que deverá ser pago pelo México, para combater a imigração ilegal. Também quer expulsar dos Estados Unidos os 11 milhões de imigrantes ilegais, em sua maioria de origem latino-americana.

- Fechado para muçulmanos -

Diante do terrorismo, fala em proibir a entrada dos muçulmanos nos Estados Unidos. Afirma que "destruirá" o grupo jihadista Estado Islâmico e "tomará seu petróleo".

O presidente russo, Vladimir Putin, é um líder, afirma elogiosamente. O "conceito de aquecimento global foi criado pelos chineses", denuncia.

É carismático, brutal e imagina que é o salvador dos Estados Unidos, segundo ele um país moribundo que se tornou piada do mundo.

Milhares de americanos, afetados pela globalização e que se sentem traídos pelas elites políticas, comparecem aos seus comícios.

Impecavelmente vestido, Trump chega em seu Boeing 757, rotulado em letras gigantes com seu nome.

Denuncia os "idiotas" que dirigem o país, atiça os medos e promete "tornar os Estados Unidos grande de novo", seu slogan de campanha.

Em toda parte lança insultos aos seus rivais: Ted Cruz é um tipo "desagradável", que "não cai bem a ninguém", um mentiroso que flerta com Wall Street. Jeb Bush é "realmente patético" e "falso".

Hillary Clinton, convidada ao seu casamento, "mente como uma louca", afirma sem rodeios, e chegou, inclusive, a fazer menções grosseiras a ela. Bernie Sanders é um "desastre".

Mestre da hipérbole, joga com estatísticas e suas promessas geralmente carecem de planos concretos. Mas sempre sai ganhando: suas declarações belicosas garantem a ele uma enorme cobertura midiática com a qual os outros candidatos só sonham.

Incapaz de encontrar uma alternativa a Trump, a liderança do partido terminou por apoiar sua candidatura após sua clara vitória na terça-feira em Indiana ante Ted Cruz, que abandonou a campanha.

"Oportunista político", "charlatão", "egocêntrico", denunciaram recentemente as alas conservadoras em um número especial da revista "National Review". É uma "ameaça".

Luta livre e modelos

Nascido em Nova York, foi o quarto de cinco filhos de um importante promotor imobiliário nova-iorquino. Depois de estudar comércio, se uniu à empresa familiar em 1968. Seu pai o ajudou no início com um "pequeno empréstimo de um milhão de dólares".

Sua fortuna é alvo de debate. Trump divulgou que tem mais de 10 bilhões de dólares, mas a revista Forbes insiste que é menos da metade.

Sua carreira teve tropeços, incluindo dezenas de processos judiciais sobre seus negócios. Entre 1991 e 2009, quatro de seus cassinos e hotéis faliram.

Fã de luta livre, escreveu livros populares sobre negócios e até 2015 foi coproprietário dos concursos Miss Universo e Miss Estados Unidos.

Inscrito como democrata até 1986 e republicano até 1999, desde então Trump oscilou entre os dois partidos, e inclusive foi independente por um tempo.

Abandonou suas velhas posturas liberais sobre as armas e o aborto, e agora abraça a extrema-direita do Partido Republicano.

Trump tem cinco filhos, três com sua primeira esposa, a ex-modelo tcheca Ivana, da qual se divorciou em 1992; uma filha com sua segunda esposa, a atriz Marla Maples, e um filho com sua esposa atual, Melania, uma ex-modelo eslovena. Tem sete netos.

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