Se as previsões forem cumpridas, o Senado votará a favor do processo de impeachment de Dilma Rousseff, a ex-guerrilheira esquerdista de 68 anos que em 2011 se tornou a primeira mulher presidente do Brasil.
Mas como uma presidente que chegou a ter 77% de popularidade no início de seu primeiro mandato chegou a este processo, com apenas 10% de aprovação, segundo as últimas pesquisas?
Estes são os oito momentos-chave da crise política que se intensificou nos últimos dois meses e que deixou o governo de Dilma à beira do abismo.
-- Dilma cada vez mais sozinha --
No fim de março a crise ganha força quando a direção do PMDB, aliado chave do poder, aprova a ruptura com o governo de Dilma Rousseff. Esta decisão gera uma reação em cadeia de outras forças aliadas e o destino da presidente é selado: dois partidos centristas da coalizão governamental, o PP e o PRB, apoiam a destituição da presidente. O PSD e o PTB, outros ex-aliados, tomam a mesma decisão.
-- Cai a economia, cai a popularidade --
A maior economia da América Latina está em recessão desde o segundo trimestre de 2015 com um coquetel que combina aumento da inflação e do desemprego com uma profunda deterioração das contas públicas. A atividade se contrai 3,8% em 2015, a crise é desencadeada e isso impacta na popularidade de Dilma, que exibe altíssimos níveis de reprovação e desconfiança. Seu apoio desaba.
-- "Fora Dilma!" --
Desde março de 2015, cinco meses depois de sua reeleição, opositores a Dilma convocaram várias manifestações pedindo sua saída do poder ou protestando contra a corrupção, associada principalmente ao Partido dos Trabalhadores (PT). No dia 13 de março deste ano três milhões de manifestantes saem às ruas em cidades de todo o país ao grito de "Fora Dilma!".
-- Lula é acordado pela polícia --
O dia 4 de março começou cedo para o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva (2003-2010), o padrinho político de Dilma, quando ele é levado à força para ser interrogado pela Polícia Federal por supostos vínculos com o esquema de corrupção da Petrobras. A operação ocorre um dia após a divulgação pela imprensa do acordo de delação premiada do senador Delcídio do Amaral, que envolveu Lula e Dilma em casos de corrupção.
-- Dilma na mira? --
"Mensalão", "Lava Jato" (...) Nos últimos meses, uma enxurrada de acusações de corrupção contra a elite política atinge o país. Mas a presidente não é alvo de nenhuma acusação ou investigação judicial por corrupção. A acusação para iniciar o impeachment contra Dilma no Congresso envolve as chamadas "pedaladas fiscais", ou seja, maquiou sistematicamente o déficit orçamentário, o que, segundo seus opositores, agravou a crise econômica do país.
-- Uma jogada audaz: Lula é nomeado ministro --
Dilma nomeia Lula como ministro-chefe da Casa Civil no dia 16 de março. Horas depois, o juiz Sérgio Moro, que investiga o escândalo da Petrobras, libera a gravação de uma conversa entre Dilma e Lula considerada pela oposição e por juristas uma prova de que a nomeação buscava livrá-lo da justiça ordinária e de uma eventual ordem de prisão. Ocorrem manifestações de indignação nas ruas, enquanto pouco depois um juiz do STF suspende sua nomeação. Até hoje o caso segue parado.
Segundo os principais meios de comunicação, a Procuradoria-Geral da República pediu autorização para abrir uma investigação contra Dilma por suposta obstrução da Justiça ao nomear Lula em seu gabinete.
-- Derrota na Câmara dos Deputados; sai Cunha --
A Câmara de Deputados aprova o impeachment por uma maioria de mais de dois terços no dia 17 de abril e o assunto passa ao Senado. O processo na Câmara é liderado pelo controverso Eduardo Cunha que, no entanto, foi suspenso de seu cargo no dia 5 de maio pelo Supremo, atendendo a um pedido da Procuradoria-Geral da República, que o acusa de usar seu cargo em interesse próprio para se proteger de investigações por corrupção.
-- "Nunca renunciarei" --
A presidente, uma ex-guerrilheira detida e torturada pela ditadura militar, proclama que nunca renunciará. Denuncia reiteradamente uma tentativa de golpe de Estado contra ela e insiste na ilegalidade de sua destituição, afirmando que está apoiada pelos 54 milhões de votos com os quais foi eleita em 2014.