O papa Francisco anunciou nesta quinta-feira que criará uma comissão para estudar a possibilidade de autorizar que as mulheres atuem como diáconos e administrem alguns sacramentos, como o batismo e matrimônios.
O anúncio do papa foi feito em um encontro na Sala Paulo VI do Vaticano diante de 900 líderes de congregações religiosas femininas de todo o mundo.
O Papa respondeu afirmativamente a uma das religiosas, que lhe perguntou se já não era tempo de criar uma comissão para estudar a questão, segundo fontes vaticanas.
"Eu acho que sim, que seria bom para fazer com que a Igreja esclareça este ponto.
Questionado pela AFP, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, não quis confirmar esta informação, à espera de detalhes sobre as declarações do Papa.
Na Igreja Católica, os diáconos podem fazer o sermão na missa, celebrar batismos, casamentos e funerais. No entanto, apenas os sacerdotes podem celebrar a Eucaristia ou confessar fiéis.
Há muito tempo, o diaconato é uma etapa para o sacerdócio, mas o Concílio Vaticano II restaurou o diaconato permanente, acessível a homens casados, que muitas vezes compensam a falta de sacerdotes ou ajudam quando eles estão sobrecarregados.
A discussão sobre o papel da mulher dentro da Igreja Católica é antiga, e há anos as mulheres pedem que a instituição acompanhe as mudanças na sociedade.
Uma desigualdade evidente
Embora o número de mulheres religiosas seja muito maior que o dos seus homólogos masculinos, as mulheres católicas sentem que não são consultadas e que suas opiniões não são levadas em conta.
De acordo com o Anuário Pontifício, em 2014 havia cerca de 415.000 sacerdotes e membros de ordens religiosas no mundo todo, e mais de 700.000 freiras.
Vários estudos já revelaram que nos primeiros séculos do cristianismo existiam 'diaconisas" - questão abordada pelo próprio pontífice durante o encontro com as religiosas.
"Quem foram essas mulheres diáconos? Tinham ordenação? Isso não está muito claro. Qual foi o papel dessas 'diaconisas'?", questionou Francisco.
Durante o último Sínodo dos Bispos sobre a família, em outubro, o canadense Paul-André Durocher propôs que as mulheres possam ser diáconos, abrindo o debate e provocando aplausos dos presentes.
O papa Francisco já expressou em várias ocasiões o seu desejo de resolver a grande desigualdade existente entre homens e mulheres na Igreja, embora tenha tomado poucas medidas concretas para combater o problema.
"O papa sente que o tempo passa e que tem que tomar decisões corajosas mesmo que a maioria da hierarquia da Igreja não esteja pronta para essas mudanças", disse a AFP o especialista em assuntos do Vaticano Marco Politi, autor do livro "Francisco entre os lobos".
"É o método Bergoglio.
"Acredito que dentro de um ano provavelmente conheceremos o resultado da comissão", diz Politi, que considera que o papa argentino não se limita a falar, senão que age.
O pontífice argentino já descartou claramente que as mulheres possam ser padres, explicando que seus antecessores, especialmente João Paulo II, já haviam discutido exaustivamente esta proposta antes de rejeitá-la.
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