O papa Francisco anunciou nesta quinta-feira que criará uma comissão para estudar a possibilidade de autorizar que as mulheres atuem como diáconos e administrem alguns sacramentos, como o batismo e matrimônios.
O anúncio do papa foi feito em um encontro na Sala Paulo VI do Vaticano diante de 900 líderes de congregações religiosas femininas de todo o mundo.
O Papa respondeu afirmativamente a uma das religiosas, que lhe perguntou se já não era tempo de criar uma comissão para estudar a questão, segundo fontes vaticanas.
"Eu acho que sim, que seria bom para fazer com que a Igreja esclareça este ponto. Concordo. Vou falar para fazerem algo nesse sentido. Aceito, me parece útil ter uma comissão para esclarecer", disse Jorge Bergoglio, em comentários divulgados pelas agências italianas.
Questionado pela AFP, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, não quis confirmar esta informação, à espera de detalhes sobre as declarações do Papa.
Na Igreja Católica, os diáconos podem fazer o sermão na missa, celebrar batismos, casamentos e funerais. No entanto, apenas os sacerdotes podem celebrar a Eucaristia ou confessar fiéis.
Há muito tempo, o diaconato é uma etapa para o sacerdócio, mas o Concílio Vaticano II restaurou o diaconato permanente, acessível a homens casados, que muitas vezes compensam a falta de sacerdotes ou ajudam quando eles estão sobrecarregados.
A discussão sobre o papel da mulher dentro da Igreja Católica é antiga, e há anos as mulheres pedem que a instituição acompanhe as mudanças na sociedade.
Uma desigualdade evidente
Embora o número de mulheres religiosas seja muito maior que o dos seus homólogos masculinos, as mulheres católicas sentem que não são consultadas e que suas opiniões não são levadas em conta.
De acordo com o Anuário Pontifício, em 2014 havia cerca de 415.000 sacerdotes e membros de ordens religiosas no mundo todo, e mais de 700.000 freiras.
Vários estudos já revelaram que nos primeiros séculos do cristianismo existiam 'diaconisas" - questão abordada pelo próprio pontífice durante o encontro com as religiosas.
"Quem foram essas mulheres diáconos? Tinham ordenação? Isso não está muito claro. Qual foi o papel dessas 'diaconisas'?", questionou Francisco.
Durante o último Sínodo dos Bispos sobre a família, em outubro, o canadense Paul-André Durocher propôs que as mulheres possam ser diáconos, abrindo o debate e provocando aplausos dos presentes.
O papa Francisco já expressou em várias ocasiões o seu desejo de resolver a grande desigualdade existente entre homens e mulheres na Igreja, embora tenha tomado poucas medidas concretas para combater o problema.
"O papa sente que o tempo passa e que tem que tomar decisões corajosas mesmo que a maioria da hierarquia da Igreja não esteja pronta para essas mudanças", disse a AFP o especialista em assuntos do Vaticano Marco Politi, autor do livro "Francisco entre os lobos".
"É o método Bergoglio. Lança hipóteses, ideias, provocações e proposições. Sem romper, tratando de envolver todos", afirma o também vaticanista Iacopo Scaramuzzi.
"Acredito que dentro de um ano provavelmente conheceremos o resultado da comissão", diz Politi, que considera que o papa argentino não se limita a falar, senão que age.
O pontífice argentino já descartou claramente que as mulheres possam ser padres, explicando que seus antecessores, especialmente João Paulo II, já haviam discutido exaustivamente esta proposta antes de rejeitá-la.