Autor da chacina em Orlando seria um 'lobo solitário' e frequentava a boate gay

AFP

A pista do "lobo solitário" estimulado por motivações jihadistas está sendo privilegiada pelas autoridades dos Estados Unidos para explicar as motivações do autor do massacre de Orlando, mas no passado complexo do atirador ainda há muitas sombras.

A tese de uma possível homossexualidade de Omar Mateen surgiu em vários jornais americanos e, sem dúvida, complicará o processo para compreender os impulsos psicológicos que o levaram a assassinar 49 pessoas, em sua maioria de origem latina.

O presidente Barack Obama viajará na quinta-feira a Orlando para expressar seus pêsames às famílias das vítimas e manifestar solidariedade.

O próprio presidente e as investigações do massacre privilegiam a tese de que Mateen, que teria se "radicalizado" com propaganda islamita, atuou sozinho, sem receber ordens do grupo Estado Islâmico (EI), apesar de inspirado pelos jihadistas.

"Parece que o agressor foi inspirado por várias fontes de informação extremistas na internet", declarou Obama depois de uma reunião no Salão Oval com o diretor do FBI, James Comey, e o secretário de Segurança Nacional, Jeh Johnson.

Na madrugada de domingo, Mateen, americano de origem afegã e funcionário de uma empresa de segurança, abriu fogo com um rifle e uma pistola na boate gay Pulse, que celebrava uma "noite latina" com apresentações de drag queens.

Orlando, cidade no estado da Flórida, é famosa por seus parques de diversões e recebe milhares de turistas.

Depois de matar vários clientes, o muçulmano praticante se trancou no banheiro e ligou para o serviço de emergência para reivindicar sua lealdade ao grupo Estado Islâmico (EI), antes da invasão do local pelos agentes de polícia.

Na segunda-feira, o EI reivindicou em sua rádio a autoria do massacre.

O presidente Obama destacou que não existe prova de que Mateen foi dirigido do exterior, nem que ele integrava um complô mais amplo".

- Um cliente da Pulse -

O jornal Orlando Sentinel entrevistou várias pessoas que afirmaram que Mateen era um frequentador regular da boate gay Pulse, o local do massacre.

Às vezes ele sentava em um canto para beber sozinho, outras vezes ficava tão bêbado que era barulhento e ofensivo", disse Ty Smith ao jornal.

Kevin West, outro frequentador regular da Pulse, disse ao jornal Los Angeles Times que trocou mensagens com Mateen em um aplicativo homossexual.

Outros clientes da casa noturna afirmaram à imprensa que Mateen havia utilizado aplicativos gays, como o Grindr, para estabelecer contatos.

A descrição representa uma contradição com as declarações dos parentes do criminoso, que o classificaram como um homem abusivo, violento, instável e homofóbico.

O FBI investigou Mateen em 2013 e 2014 "por eventuais vínculos com terroristas", mas as ações foram arquivadas por falta de provas.

A hipótese de uma pista homossexual, caso confirmada, poderia ajudar o FBI a sair de uma situação difícil, já que a Polícia Federal americana observou a radicalização de Mateen, mas não evitou que ele concretizasse o ataque.

Liberado pelo FBI e sem antecedentes judiciais, Mateen tinha duas licenças de porte de armas e adquiriu, de forma completamente legal e alguns dias do ataque, uma arma curta e outra maior.

"Se o FBI o vigila por suspeitas de ter vínculos com terroristas, (Mateen) não deveria estar em condições de comprar uma arma", criticou, de forma indignada, a candidata democrata à presidência Hillary Clinton, que defende o reforço dos controles sobre a posse de armas.

- Vigília -

O ataque, o mais violento nos Estados Unidos desde os atentados de 11 de setembro de 2001, provocou reações de horror e de solidariedade em todo o mundo.

Uma delas foi a do rei Salaman da Arábia Saudita, país onde a homossexualidade é crime: "Este ato criminoso vergonhoso é contrário às religiões e às normas e convenções internacionais", disse.

Uma vigília na segunda-feira à noite reuniu uma comunidade traumatizada no jardim de de um Centro de Artes em Orlando.

Um coro de homossexuais se apresentou, enquanto velas eram acesas, entre bandeiras com as cores do arco-íris, símbolo do movimento LGBT.

Muitas pessoas não conseguiram conter as lágrimas.

Os discursos foram feitos tanto em inglês como em espanhol, reflexo do elevado número de vítimas de origem latina.

Na vigília de Los Angeles, a cantora Lady Gaga discursou para milhares de pessoas, lutando para controlar o choro.

"É um ataque contra a humanidade em si, um ataque contra cada um de nós", afirmou.

Passeatas e vigílias também foram organizadas em outros países, como Holanda, França, Alemanha e Austrália.

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