Um tribunal egípcio condenou o ex-presidente islamita Mohamed Mursi à prisão perpétua, neste sábado (18), em sua quarta condenação em casos diferentes.
Destituído em 2013 pelo Exército, o ex-presidente islamita foi considerado culpado de dirigir "uma organização ilegal".
Seu movimento, a Irmandade Muçulmana, é alvo de uma repressão orquestrada pelo regime do presidente Abdel Fatah al-Sissi, acusado, por sua vez, de instaurar um governo ultra-extremista".
A prisão perpétua aplicada a Mursi, que equivale a 25 anos de prisão no Egito, é por ter dirigido a Irmandade, classificada de "grupo terrorista" pelas autoridades egípcias. Ele foi absolvido, porém, da acusação de espionagem.
Primeiro presidente democraticamente eleito no Egito, Mursi já foi condenado à morte, à prisão perpétua e a 20 anos de prisão em três casos distintos desde sua destituição e prisão.
Neste sábado, ele compareceu perante a Justiça pelo suposto "roubo de documentos de Segurança Nacional" e por entregá-los ao Catar, segundo a acusação. Emirado do Golfo rico em petróleo, o Catar era um dos principais apoios de Mursi.
O ex-presidente foi absolvido da acusação de entrega de tais documentos, mas seis dos dez coacusados foram condenados à morte nesse processo, segundo um jornalista da AFP no local.
"Os acusados colocaram o país em grande perigo e, por isso, merecem nada menos do que a pena de morte", declarou o juiz Mohamed Cherine Fahmy antes de seu veredicto.
Mursi foi condenado a mais 15 anos de prisão por ter "subtraído documentos secretos relativos à Segurança do Estado", durante o seu curto mandato de um ano, entre 2012 e 2013, informou à AFP seu advogado Abdel Moneim Abdel Maqsud.
Esses documentos incluíam "relatórios altamente sensíveis sobre o Exército, o envio de tropas e armas", de acordo com os promotores.
Mursi e seu diretor de gabinete, Ahmed Abdel Atti, foram acusados de enviar esses papéis ao secretário pessoal de Mursi, Amine El-Serafi.
Este último teria repassado os documentos a um funcionário do canal de notícias do Catar, Al-Jazeera, e a um membro da Inteligência catariana, através de intermediários.
O Catar tem condenado com frequência a repressão do regime Al-Sissi contra os partidários de Mursi, principalmente por meio da Al-Jazeera.
Abdel Atti e Serafi foram condenados à prisão perpétua.
"Não há qualquer prova contra os acusados", indignou-se o advogado Abdel Maqsud, acrescentando que recorrerá do veredicto.
Em nota, o Catar condenou um veredicto "infundado, que vai contra a verdade e contém afirmações equivocadas".
"Para o Catar, a acusação por espionagem de um ex-presidente e de jornalistas é surpreendente e inaceitável", denunciou o diretor de Informação do Ministério catariano de Relações Exteriores, Ahmed Al-Rumaihi.
Em um comunicado, a rede Al-Jazeera "condenou o veredicto injusto e politizado", no âmbito de uma "campanha impiedosa (...) dirigida a calar a voz da imprensa livre". De acordo com a emissora, Hilal era um "ex-diretor de Informação".
Nas semanas que se seguiram à destituição de Mursi, mais de 1.400 manifestantes islâmicos foram mortos. Dezenas de milhares de pessoas foram presas, e centenas condenadas à morte em julgamentos denunciados pela ONU como "sem precedentes na história recente" do mundo.
"O sistema judiciário no Egito, totalmente corrompido, é agora nada mais do que uma ferramenta para a repressão das autoridades contra o que resta de oposição, ou de críticos", denunciou a Anistia Internacional em um comunicado, pedindo a anulação de sentenças de morte.