Haia, Holanda - Os eurocéticos comemoraram nesta sexta-feira (24/6) a vitória do Brexit na Grã-Bretanha e pediram a realização de referendos em seus países sobre uma possível saída da União Europeia (UE), aumentando os temores sobre o futuro da unidade europeia. "Vitória da liberdade! Como eu tenho pedido há anos, é preciso que seja realizado o mesmo referendo na França e nos demais países da UE", declarou a presidente do partido de extrema-direta francês Frente Nacional (FN) Marine Le Pen em sua conta no Twitter.
De acordo com os resultados definitivos, os britânicos votaram na quinta-feira, por 51,9% votos, por deixar a UE, contra 48,1% pela permanência. "A elite eurófila foi derrotada. Os britânicos mostram à Europa o caminho para o futuro e a libertação", declarou, por sua vez, o deputado de extrema-direita holandês Geert Wilders.
Enquanto a Holanda está entre os seis países fundadores da União Europeia, como a França, esse deputado, conhecido por sua retórica anti-islã, exige um "referendo sobre um 'Nexit', uma saída holandesa da UE". A UE enfrenta profundas divisões sobre como lidar com a crise migratória, a mais severa enfrentada pelo continente desde a Segunda Guerra Mundial, mas também em relação aos problemas financeiros de vários Estados-membros, incluindo a Grécia.
Geert Wilders, cujo partido é invariavelmente apontado na liderança nas pesquisas, garante que haverá um referendo na Holanda se ele se tornar primeiro-ministro nas eleições de março: "Queremos ser responsáveis pelo nosso próprio país, a nossa própria moeda, nossas próprias fronteiras e com a nossa própria política de migração". Muitos são aqueles que temem um efeito dominó que leve outros Estados europeus a deixar a UE, segundo o exemplo da Grã-Bretanha, dando assim um golpe terrível ao projeto europeu.
"Retrocesso"
"A União Europeia deve ser mudada ou nós a deixaremos", declarou, por sua vez, o candidato da extrema-esquerda na eleição presidencial francesa Jean-Luc Mélenchon, revivendo seu apelo pelo "fim dos tratados europeus".
De acordo com o candidato da "França rebelde", que reúne de 10 a 15% das intenções de voto no primeiro turno nas pesquisas, o Brexit marca "o começo do fim de uma era". "Claro, a casta dos eurolátras irá ignorar o que aconteceu e continuará a castigar os 'extremos' e amor das pessoas por suas liberdades e dignidade social. Pior será a queda, concluiu em uma nota postada em sua conta no Facebook.
Na Itália, Matteo Salvini, líder do partido eurocético e anti-migração Liga do Norte, comemorou no Twitter a "coragem de cidadãos livres" frente as "mentiras, ameaças e chantagem": "obrigado Reino Unido, agora é a nossa vez". "É ótimo que os autores desta campanha de intimidação tenham sofrido um retrocesso", declarou o Partido Popular dinamarquês, partido de direita populista que exige um referendo sobre uma renegociação para obter "uma colaboração menos restritiva com a UE".
Apelos à renúncia
O presidente do Partido da Esquerda sueco Jonas Sjöstedt também pediu ao governo em Estocolmo para "renegociar" suas condições de adesão à União, a fim de "reduzir o poder da UE". Na Alemanha, Frauke Petry, chefe do partido populista de direita AfD, quer "uma Europa de Pátrias": "Se a UE não desistir (...) de sua experiência quase socialista de integração, os povos europeus vão recuperar a sua soberania à maneira britânica".
Os apelos à renúncia contra o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, também surgiram. "O povo foi questionado e decidiu. A UE falhou. Juncker e Schulz são responsáveis, eles devem renunciar", escreveu no Facebook outra líder da AfD, Beatrix von Storch.
O presidente do partido austríaco de extrema-direita FPO, Heinz Christian Strache, pediu a sua renúncia com "decência e também por respeito a um futuro melhor na Europa". Se a UE "persistir em rejeitar reformas, ou desejar integrar a Turquia, uma votação da Áustria sobre a sua adesão à União Europeia se tornaria um objetivo", acrescentou em um comunicado.