Ao menos 36 pessoas morreram, e 147 ficaram feridas, nesta terça-feira à noite, em um atentado com três suicidas cometido em um terminal do aeroporto internacional Ataturk, de Istambul, considerado o mais importante da Turquia.
"Segundo as últimas informações, 36 pessoas perderam a vida", revelou o primeiro-ministro turco, Bimali Yildirim, no local do ataque, destacando que "os indícios apontam para o Daesh [acrônimo em árabe do Estado Islâmico]". O ministro da Justiça, Bekir Bozdag, acrescentou que 147 pessoas ficaram feridas.
Por volta das 22h (16h, horário de Brasília), uma onda de pânico varreu o terminal de voos internacionais, quando duas violentas explosões seguidas de tiroteio foram ouvidas. "Foi muito forte. Todo mundo entrou em pânico e começou a correr em todas as direções", disse uma testemunha.
A televisão local divulgou imagens impressionantes, mostrando um policial que atira em um dos terroristas. Ferido, o indivíduo cai no chão e aciona sua carga explosiva. Fotos nas redes sociais mostram danos materiais significativos dentro do terminal, carrinhos de bagagem revirados e passageiros deitados no chão. Nos vídeos postados on-line, vê-se uma bola de fogo, após uma explosão, e os passageiros correm desesperados.
Oftah Mohammed Abdullah, uma mulher que preferiu não informar sua nacionalidade, disse à AFP que um dos agressores "tinha um cachecol rosa e uma jaqueta curta, debaixo da qual escondia um fuzil". Segundo Oftah, "ele sacou a arma e começou a atirar, enquanto caminhava como um profeta".
"Esperava meu voo para Tóquio e, de repente, vi que as pessoas começaram a correr. Ouvimos tiros e foi o pânico", contou à AFP a japonesa Yumi Koyi.
Todos os voos foram suspensos, e um grande efetivo policial estabeleceu um perímetro de segurança na área afetada, segundo imagens transmitidas pelas emissoras locais.
Os voos chegaram a ser cancelados, mas o tráfego aéreo foi retomado a partir das 3h locais (21h, horário de Brasília), informou Yildirim.
Localizado na parte europeia de Istambul, o aeroporto internacional de Ataturk é o 11º do mundo em fluxo de pessoas, registrando cerca de 60 milhões de passageiros no ano passado.
Reações
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, fez um apelo à "luta comum" no plano internacional após o triplo atentado. "Espero, sinceramente, que o ataque visando ao aeroporto Ataturk seja uma virada para a luta comum a travar, com os países ocidentais à frente, em todo o planeta contra as organizações terroristas", afirma Erdogan em um comunicado.
"Esse ataque, cometido no mês do Ramadã, mostra que o terrorismo golpeia sem consideração de fé ou de valores", acrescentou Erdogan.
O primeiro-ministro Yildirim deixou Ancara imediatamente com destino a Istambul, enquanto uma reunião de crise era organizada na capital com vários ministros.
Em entrevista coletiva no primeiro dia da cúpula europeia em Bruxelas, o presidente francês, François Hollande, condenou "duramente" o que chamou de "ato abominável". "Quero condenar duramente esse ataque", declarou Hollande, acrescentando que "esses atos terroristas que acontecem depois de outros têm como consequência deixar a situação ainda mais difícil na Turquia".
Segundo Hollande, trata-se, agora, trabalhar de modo "a conhecer exatamente os autores [do atentado] para que, juntos, possamos fazer tudo que for possível contra o terrorismo, sobretudo, nessa região".
"Temos de agir - é o que fazemos também pela Europa e pela França -, coordenar ainda mais nossos serviços e realizar, tanto quanto possível, as ações necessárias contra o terrorismo e os tráficos ilícitos", convocou.
O premiê francês, Manuel Valls, reagiu no mesmo tom."Horrorizado com o atentado bárbaro no aeroporto de #Istambul. A França com os turcos contra o terrorismo", tuitou.
Resposta dos EUA
Washington condenou o "atroz" atentado e prometeu seu "firme" apoio à Turquia. "O aeroporto internacional Ataturk, como o aeroporto de Bruxelas que foi atacado anteriormente este ano, é um símbolo das conexões internacionais e dos laços que nos unem", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, em uma nota.
O porta-voz do Departamento de Estado americano, Mark Toner, disse que "esses ataques apenas fortalecem nossa determinação de trabalhar com o governo da Turquia para enfrentar o terrorismo e apoiar, em toda a região, os que trabalham para promover a paz e a reconciliação".
"O mundo está horrorizado", afirmou o virtual candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, advertindo que "a ameaça terrorista nunca foi tão grande".
"Temos de adotar medidas agora para proteger a América dos terroristas e fazer tudo que estiver em nosso poder para melhorar nossa segurança para manter a América segura", afirmou, em uma declaração à imprensa.
A virtual candidata democrata, Hillary Clinton, avaliou que "todos os americanos devem se mostrar solidários com o povo turco diante dessa campanha de ódio e violência".
"Devemos aprofundar nossa cooperação com os aliados e sócios do Oriente Médio e da Europa para enfrentar esta ameaça", defendeu a ex-secretária de Estado.
"O ataque de hoje em Istambul apenas fortalece nossa resolução para defender as forças do terrorismo e jihadismo radical ao redor do mundo", frisou.
"E nos lembra de que os Estados Unidos não podem recuar", insistiu Hillary.
Em nota, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, "condenou o ataque terrorista" e expressou "sua profunda solidariedade e condolências" às famílias das vítimas e ao governo turco.
Ban "se coloca firmemente ao lado da Turquia, nesse momento em que se confronta essa ameaça, e ressalta a necessidade de intensificar os esforços regionais e internacionais de combater o terrorismo e o extremismo violento".
"O secretário-geral espera que os responsáveis por esse crime sejam identificados e levados à Justiça", completa a declaração.
Rebeldes curdos ou extremistas
Em 2015, a Turquia foi atingida por uma série de atentados letais, atribuídos a rebeldes curdos e ao grupo Estado Islâmico (EI).
O outro aeroporto de Istambul, o Sabiha Gokcen, foi atingido em dezembro passado por um atentado. Um funcionário morreu.
Istambul e a capital, Ancara, as duas maiores cidades do país, sofrem desde o ano passado com uma sequência de atentados que já deixaram quase 200 mortos e um grande número de feridos.
Esses ataques foram atribuídos ao EI - que não reivindicou nenhum deles -, ou aos rebeldes curdos, sobretudo, do TAK, um braço do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão.
O PKK retomou as armas há um ano contra o governo, após um cessar-fogo de dois anos.