Atentado suicida mata 41 pessoas e fere 239 no Aeroporto de Istambul

Três homens-bomba invadem terminal do Aeroporto Internacional de Ataturk, disparam os fuzis AK-47 contra policiais e turistas, e detonam a carga de explosivos. Suspeitas recaem sobre o Estado Islâmico

AFP
- Foto: Ozan Kose/AFP
Istambul, Turquia - Ao menos 41 pessoas, incluindo estrangeiros, morreram e 239 ficaram feridas na terça-feira (28/6) à noite em um atentado com três suicidas cometido no aeroporto internacional Ataturk, de Istambul, um ataque que parece levar a marca do grupo Estado Islâmico (EI).
Este foi o ataque mais violento na metrópole turca, que já havia sido atingida por outros três atentados este ano. “Segundo as últimas informações, 36 pessoas perderam a vida", anunciou o primeiro-ministro turco, Bimali Yildirim, no local do ataque.

O aeroporto Ataturk é o maior da Turquia e o 11º do mundo, com mais de 60 milhões de passageiros. "Os indícios apontam para o Daesh (acrônimo em árabe do Estado Islâmico)", afimou Yildrim. Nesta quarta-feira, quase 10 horas depois do atentado, nenhuma informação sobre as nacionalidades das vítimas ou dos criminosos havia sido divulgado.

Imagens e vídeos publicados nas redes sociais mostram uma grande bola de fogo na entrada do terminal e funcionários do serviço de segurança retirando os passageiros, que correm desesperados, em pânico. Um vídeo impactante mostra um dos homens-bomba no chão, depois de ter sido ferido por um policial, se esforçando para conseguir ativar o cinturão de explosivos.

Dezenas de ambulâncias foram enviadas para as proximidades do terminal, que foi isolado pela polícia - Foto: ILHAS NEWS AGENCY/AFP
De acordo com as autoridades, as explosões aconteceram na entrada do terminal de voos internacionais às 22h locais (16h de Brasília). Três homens abriram fogo com fuzis contra os passageiros e a polícia. Quando os agentes responderam, os criminosos detonaram as cargas explosivas.
"Três homens-bomba executaram o ataque", afirmou à imprensa o governador de Istambul, Vasip Sahin.

Na capital Ancara, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan fez um apelo à comunidade internacional por uma "luta conjunta". "Esse ataque, cometido no mês do Ramadã, mostra que o terrorismo golpeia sem consideração de fé ou de valores", acrescentou Erdogan. Um fotógrafo da AFP observou vários corpos cobertos com lençóis e ao lado de bagagens abandonadas. Centenas de bombeiros e policiais foram enviados ao local.

Oftah Mohamed Abdullha, uma somali, contou à AFP que viu um dos terroristas. "Tinha um cachecol rosa e uma jaqueta curta, debaixo da qual escondia um fuzil. Ele sacou a arma e começou a atirar, enquanto caminhava como um profeta", disse. Após a suspensão de todos os voos, o tráfego aéreo foi retomado a partir das 3h (21h de Brasília, terça-feira).
O atentado recorda o modo de atuação dos ataques de Paris em novembro (130 mortos) e em Bruxelas (32 mortos no aeroporto e no metrô) em março.

Familiares consolam mulher que perdeu um parente no atentado ao aeroporto Ataturk de Istambul - Foto: AFP / Bulent KILIC
Rebeldes curdos ou extremistas

O presidente francês, François Hollande, condenou "duramente" o que chamou de "ato abominável" e também fez um apelo por um reforço da cooperação internacional na luta contra os ataques. Washington condenou o "atroz" atentado e prometeu o "firme" apoio dos Estados Unidos à Turquia.

"O aeroporto internacional Ataturk, como o aeroporto de Bruxelas que foi atacado anteriormente este ano, é um símbolo das conexões internacionais e dos laços que nos unem", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest. Em nota, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, também "condenou o ataque terrorista" e expressou "sua profunda solidariedade e condolências" às famílias das vítimas e ao governo turco, ao mesmo tempo que ressaltou a "necessidade de intensificar os esforços regionais e internacionais de combater o terrorismo e o extremismo violento".

Nas redes sociais, os internautas criticaram a proximidade do regime conservador-islâmico do presidente Erdogan com o EI na vizinha Síria, acusações rejeitadas pelo governo turco. Istambul e Ancara foram alvos de vários atentados desde o ano passado, que deixaram quase 200 mortos, centenas de feridos e um clima de insegurança permanente.

Os alvos dos atentados na Turquia são as forças de segurança e os locais turísticos, o que provocou uma queda imediata do turismo. Os atentados são atribuídos ao EI - que nunca reivindicou nenhum ataque - ou aos rebeldes curdos, sobretudo ao grupo radical Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK), ligado ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Um ano de atentados na Turquia

A Turquia sofreu mais um ataque de uma longa série de ações. Veja a relação dos principais atentados dos últimos 12 meses na Turquia:

- 8 de junho de 2016: 6 mortos na explosão de um carro-bomba diante de uma delegacia de polícia em Midyat (sudeste), em ataque reivindicado pelos rebeldes curdos do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

- 7 de junho: 11 mortos, incluindo seis policiais, na explosão de um carro-bomba junto a um ônibus da polícia de choque em Beyazit, bairro histórico de Istambul. A ação foi reivindicada pelos Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK), grupo radical ligado ao PKK.

- 31 de março: 7 policiais mortos e outras 27 pessoas feridas na explosão de um carro-bomba em Diyarbakir, principal cidade do sudeste de maioria curda.
O ataque foi assumido pelo YPG, braço militar do PKK.

- 19 de março: 4 turistas mortos (3 israelenses e um iraniano) e outras 36 pessoas feridas em um ataque de um terrorista suicida que se explodiu na célebre avenida Istiklal, em Istambul, atribuído por Ancara ao grupo Estado Islâmico (EI).

- 13 de março: 35 mortos e mais de 120 feridos na explosão de um carro-bomba no centro de Ancara, reivindicado pelo TAK, grupo radical dissidente do PKK.

- 17 de fevereiro: 28 mortos e cerca de 80 feridos na explosão de um carro-bomba dirigido por um suicida em pleno coração de Ancara, em um ataque visando veículos militares e assumido pelo TAK.

- 14 de janeiro: 6 mortos - um policial e cinco civis - na explosão de um carro-bomba próximo a uma delegacia de Cina, 30 km de Diyarbakir, reivindicado pelo PKK, que se desculpou pela morte de civis.

- 12 de janeiro: 12 turistas alemães mortos em um ataque suicida em Sultanhamet, no coração histórico de Istambul. A ação, atribuída ao EI pelas autoridades, foi realizada sobre o antigo hipódromo, próximo à Basílica de Santa Sofia e à Mesquita Azul.

- 10 de outubro 2015: 103 mortos e mais de 500 feridos em um duplo atentado suicida diante da principal estação de Ancara. O ataque, o mais fatal já realizado em solo turco, foi atribuído pelas autoridades ao EI.

- 20 de julho 2015: 34 mortos e cerca de 100 feridos em um atentado em Suruç, próximo à fronteira síria, visando jovens militantes da causa curda. A ação foi atribuída ao EI..