A comunidade de Baton Rouge, capital da Louisiana, busca a reconciliação com missas e vígilas, realizadas nesta terça-feira (19), em homenagem aos três policiais mortos a tiros por um ex-marine negro.
Gavin Long, um veterano da guerra no Iraque, de 29 anos, abriu fogo contra policiais no domingo, em frente a um posto de gasolina próximo à sede da polícia de Baton Rouge. Três morreram, e outros três ficaram feridos.
Desde segunda-feira, no local do ataque, acumulam-se flores, balões e cartazes em homenagem às vítimas.
Sob um sol forte e com as roupas encharcadas de suor, os moradores de Baton Rouge se abraçaram para rezar em círculo pelos mortos.
Hoje, ao anoitecer, igrejas batistas farão missas pelos policiais mortos, enquanto o movimento de defesa dos direitos humanos NAACP (sigla em inglês) prepara uma vigília.
Na quarta-feira, universitários e representantes da comunidade planejam um grande encontro na Universidade Estadual da Louisiana.
"Os negros são exterminados impunemente, porque vivemos em uma sociedade que se nega a reconhecer nossa humanidade", denunciou uma das ativistas, Blair Imani, que convocou os presentes para a vigília de amanhã.
"Não serei cúmplice da negação da humanidade de ninguém, e isso inclui os oficiais", acrescentou essa muçulmana de 22 anos, que foi detida nos protestos de domingo (17) contra a violência policial.
"Precisamos nos unir", disse Denise Leblanc, de 63.
"Nunca teria pensado que isso poderia acontecer aqui", desabafou.
Ataques a policiais
Segundo as autoridades, Long planejou seu ataque e emboscou suas vítimas.
É o segundo ataque calculado contra as forças da ordem em dez dias, depois do massacre de cinco oficiais em Dallas cometido por outro jovem negro reservista do Exército.
Ainda não está claro se Gavin Long tinha as mesmas motivações que Micah Johnson, veterano da guerra no Afeganistão que atacou os agentes para vingar a morte de homens negros por policiais brancos.
"Não há dúvida de que esses oficiais foram assassinados intencionalmente", declarou ontem o coronel Mike Edmonson, da Polícia da Louisiana, em entrevista coletiva.
"Não ia parar ali", acrescentou o chefe de Polícia, Carl Dabadie.
"Não tenho dúvida de que se dirigia à nossa sede (perto do local do tiroteio) e que pretendia acabar com mais vidas", afirmou.
A tensão racial é evidente nessa cidade da Louisiana, sobretudo, desde que um policial branco executou à queima-roupa um homem negro, Alton Sterling, em 5 de julho.
"Sempre ocorreram tensões raciais em Baton Rouge", disse à AFP a professora Dawn Giran, de 47, que foi ao posto de gasolina prestar uma homenagem.
"Só que essas tensões agora vêm à tona pela violência policial contra homens negros", explicou.
A Polícia ainda não estabeleceu uma conexão entre a morte de Sterling e o ataque de domingo.
"Não descartamos nada", disse Edmonson.
"No entanto, claramente o cenário mudou desde Dallas", admitiu.
Cidade dividida
A recente série de episódios de mortes de cidadãos negros por policiais nos Estados Unidos colocou em evidência a profunda divisão racial na sociedade.
Os assassinatos de Sterling em Baton Rouge e de outro homem negro em Minnesota provocaram uma onda de protestos em todo o país contra os abusos policiais.
Cerca de 200 familiares, amigos e vizinhos de Matthew Gerald, um dos policiais abatidos, acenderam velas na noite de segunda-feira na igreja Healing Place.
"Quero que todos reconheçam que a pessoa que têm a seu lado é seu vizinho", pediu o pastor branco Jim Rentz.
Os fiéis, todos brancos, disseram "amém".
No outro extremo da cidade, Anthony Nelson, um ativista da comunidade negra, disse à AFP que "a população em Baton Rouge está dividida, mas tem a oportunidade agora de salvar essa brecha".
A comunidade prepara uma série de missas e de encontros comunitários ao longo desta semana, como uma caminhada inter-racial até o Capitólio e uma marcha de bicicleta até a sede do destacamento policial.
'Sem uniforme, sou uma ameaça'
O tiroteio de Baton Rouge começou na manhã de domingo, quando os agentes responderam a um alerta sobre um homem com um fuzil de assalto.
A Polícia divulgou imagens de vídeo, nas quais se via o agressor todo vestido de preto e com o rosto coberto.
Ele estava armado com um fuzil IWI SAR e com uma pistola Springfield. Em seu carro, um outro fuzil foi encontrado.
O homem foi identificado como Gavin Long, morador de Kansas City, que fica a mais de mil quilômetros de Baton Rouge.
Em 2015, Long mudou legalmente de nome, passando a se chamar Cosmo Ausar Setepenra, e declarou ser membro da Nação Washitaw, um grupo de afro-americanos que diz ser um povo autóctone dos Estados Unidos.
De acordo com o SITE, que monitora os movimentos extremistas on-line, Long "aderia a movimentos radicais e a teorias conspiratórias on-line e discordava dos protestos pacíficos".
Um dos policiais mortos por Long/Setepenra também era negro. Chamava-se Montrell Jackson e tinha 32 anos. As outras vítimas foram Matthew Gerald e Brad Garafola.
Recentemente, Jackson postou um desabafo em seu Facebook: "Juro por Deus que amo esta cidade, mas me pergunto se essa cidade me ama. Quando visto o uniforme, me olham com ódio, mas sem uniforme sou considerado uma ameaça".
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