Jornal Estado de Minas

Polícia Federal prende célula 'amadora' que planejava ataques nos Jogos do Rio

A Polícia Federal prendeu uma célula considerada amadora e desorganizada composta por 10 cidadãos brasileiros que planejavam ataques terroristas durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.

"Foram presos 10 indivíduos por realizar atos preparatórios para a realização de atentados terroristas" durante os Jogos Olímpicos de agosto, declarou o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, em uma coletiva de imprensa.

"Duas duplas se conheciam pessoalmente. Os 10 se comunicavam por Telegram ou WhatsApp (...) Alguns fizeram um juramento pela internet" à organização Estado Islâmico, "mas não houve nenhum contato pessoal" com o EI, explicou o ministro, que se referiu a uma "célula desorganizada" e "amadora".

Outros dois suspeitos ainda estão sendo "procurados", indicou à AFP um porta-voz da Polícia Federal em Brasília.

AK-47 e artes marciais

Os 10 detidos, todos de nacionalidade brasileira, eram investigados desde abril. Todos participavam de um grupo chamado Defensores da Sharia (lei islâmica) e planejavam adquirir armamento para cometer crimes no Brasil e até no exterior, detalhou o ministério da Justiça em um comunicado.

Ao menos um dos 10 suspeitos de terrorismo tentou comprar um fuzil AK-47 em um site que vende armas pela internet no Paraguai, o que constitui "um ato preparatório para cometer um crime", disse o ministro. Também contou que tinham a ideia de treinar artes marciais e o uso de armas.

"Nunca aprofundaram sobre como realizariam os atos (...) Em nenhum momento falaram de bombas. Comemoraram os atentados, principalmente de Orlando, que foi cometido com armas", indicou De Moraes, em alusão ao ataque de um lobo solitário, em junho, contra frequentadores de uma boate gay na cidade da Flórida (EUA).

A justiça de Curitiba, que emitiu as 12 ordens de prisão, indicou que os suspeitos "defendiam a intolerância racial, de gênero e religiosa, assim como o uso de armas e táticas de guerrilha para alcançar seus objetivos".

O juiz Marcos Josegrei da Silva, encarregado do caso em Curitiba, afirmou que os brasileiros presos têm entre 20 e 40 anos, se identificavam com nomes árabes, publicavam vídeos de execuções públicas e exaltavam atentados cometidos recentemente.

"Conseguiu-se identificar condutas que se enquadram nos crimes da nova lei de terrorismo. Basicamente, promover ou integrar uma organização terrorista e iniciar atos preparatórios com tendências a práticas de terrorismo", disse da Silva em coletiva de imprensa em Curitiba.

Agora, as autoridades tentarão estabelecer se há elementos que indiquem que esta comunidade virtual estava em condições para passar da apologia a ações concretas.

Probabilidade mínima

Apesar das prisões, o ministro disse que o risco de um ataque terrorista no Brasil durante as Olimpíadas não aumentou. "O risco continua sendo o mesmo. Há uma probabilidade mínima de que haja um ato terrorista nas Olimpíadas no Rio", que começam em apenas 15 dias.

"Mas obviamente que não podemos, nenhuma força de segurança, ignorar isso.

Só o fato de começarem atos preparatórios, não seria de bom senso aguardar para ver, e o melhor era decretar a prisão deles", completou.

"A intervenção da polícia se tornou necessária quando abandonaram aquela ideia de que o Brasil era um país neutro sem vinculação ao EI. Isso mudou pelas Olimpíadas porque o Brasil ia receber muitos estrangeiros", explicou o ministro da Justiça.

Outras duas pessoas foram conduzidas de maneira coercitiva a depor ante a polícia, mas não foram detidas, informou o ministério da Justiça em um comunicado.

A operação policial, chamada de "Operação Hashtag", foi realizada por 130 agentes em 10 estados: Paraná, Mato Grosso, Amazonas, Ceará, Paraíba, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Os 10 suspeitos de integrar uma organização criminal de alcance internacional, como uma célula do Estado Islâmico no país, foram detidos de maneira temporária por 30 dias, informou a justiça federal de Curitiba.

As prisões podem ser prorrogadas por mais 30 dias. Os nomes dos detidos não serão divulgados no momento.

O Brasil aumentou as medidas de segurança após o recente ataque com um caminhão na cidade francesa de Nice que deixou 84 mortos e dezenas de feridos. O grupo EI reivindicou o atentado.

As autoridades brasileiras planejam mobilizar a partir de 24 de julho um total de 85.000 militares e policiais para proteger os mais de 10.000 atletas e meio milhão de turistas que irão aos Jogos Olímpicos, o dobro em comparação com os Jogos de Londres-2012.

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