O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, que insultou os imigrantes em situação ilegal e prometeu deportá-los, parece moderar suas posturas sobre imigração, ao mesmo tempo em que sua adversária, Hillary Clinton, faz nesta quinta um discurso sobre o gosto republicano por correntes racistas.
Apesar de ter relançado sua campanha na semana passada, Trump ainda envia mensagens contraditórias.
Por um lado, contratou como diretor-geral de sua equipe o chefe do conservador site Breitbart. Por outro - e cedendo às pressões da liderança republicana -, o candidato cedeu ao uso de um teleprompter para ler discursos mais estruturados do que antes.
Mais disciplinado, o magnata agora se concentra em lançar dardos contra a oponente democrata e repetir sem cessar as acusações de tráfico de influência por intermédio da Fundação Clinton, evitando polêmicas desnecessárias.
Além disso, tenta ampliar sua base eleitoral de homens, brancos e mais velhos, também sinalizando para os eleitores negros e latinos, tradicionalmente democratas. Hoje, o magnata se reuniu com líderes de ambas as comunidades na Trump Tower, em Nova York.
Acima de tudo, o candidato deu a entender que já não aprova a deportação em massa dos mais de 11 milhões de pessoas que vivem clandestinamente nos Estados Unidos, a maioria de origem latino-americana. Essa foi a pedra angular de sua candidatura durante toda a campanha pelas prévias.
"Certamente, pode ter um abrandamento, porque não estamos buscando ferir as pessoas", declarou ele à rede conservadora Fox News na terça-feira.
"Terão de pagar impostos, não é uma anistia", explicou, no dia seguinte, à mesma emissora. "Mas nós trabalharemos com eles", garantiu.
"Vamos anunciar uma decisão logo", prometeu.
A virada é gritante. As ideias que ele agora propõe - expulsar os imigrantes em situação ilegal "ruins" e deixar o restante ficar, depois de pagar multa e impostos - parecem se confundir com os diferentes projetos de reforma migratória propostos por republicanos moderados e por democratas durante anos. Até então, eram rejeitadas por Trump e pela direita conservadora.
Nesta quinta, a equipe de campanha de Trump correu para desmentir que havia uma mudança de postura. Enquanto isso, continua a expectativa com o discurso prometido pelo empresário para explicar exatamente do que se trata seu projeto migratório. Ele deve falar sobre o tema na próxima semana, em Phoenix, no Arizona.
'Mercador da intolerância'
Os democratas tentam desconstruir a tentativa de Trump de mudar sua imagem.
"É apenas um esforço desesperado para tentar chegar a um ponto, em que seus comentários não sejam tão devastadores para sua campanha como foram até agora", alfinetou Hillary, em entrevista por telefone à rede CNN na quarta-feira.
Em um bom momento, com uma confortável vantagem nas pesquisas, Hillary partiu para o contra-ataque, vinculando Donald Trump à "direita alternativa" (a chamada "alt right"), uma corrente de extrema-direita que propaga todo tipo de teoria conspiratória pela Internet, para deleite dos eleitores do empresário nova-iorquino.
"Donald Trump nos mostrou quem é, e temos de acreditar nele", insistiu Hillary, na CNN.
"Está tirando das sombras um movimento de ódio, divulgando-o em nossas comunidades e em nosso país", afirmou.
Breitbart é a "plataforma da direita alternativa", disse em julho seu presidente Steve Bannon, novo estrategista de Trump.
Nesta quinta, a chefe de campanha de Trump, Kellyanne Conway, negou, porém, qualquer relação da página com o candidato: "nunca discutimos isso".
Hillary Clinton também relembrou o papel de Trump na campanha que questionou a cidadania e a legitimidade do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, assim como outros comentários xenófobos, especialmente seus ataques contra um juiz, porque era de origem mexicana.
"É um mercador de intolerância, preconceito e paranoia", ressaltou.
Essas denúncias devem ser o centro do discurso da democrata nesta quinta, em Reno, no estado de Nevada).
De acordo com trechos antecipados por sua equipe, Hillary dirá que "uma facção radical" tomou conta do Partido Republicano.
Depois de divulgar um anúncio ligando Trump ao grupo Ku Klux Klan (KKK), Hillary usará o pronunciamento em Reno para defender que o magnata colocou o racismo na cena política.
"Desde o início, Donald Trump construiu sua campanha sobre o preconceito e a paranoia", vai dizer Hillary, ainda segundo trechos divulgados por sua equipe.
"Ele está tornando os grupos de ódio algo normal e ajudando uma facção radical a dominar um dos dois principais partidos políticos da América", advertirá.
Ontem, em um comício de Jackson, no Mississippi, Trump acusou Hillary de ser "sectária" e alguém para quem "as pessoas de cor são apenas votos".
Nesta quinta, Trump rebateu as acusações feitas contra ele e seus seguidores.
"Ela pinta americanos decentes como racistas", declarou a uma multidão em fúria.
A ex-secretária de Estado acusou - segundo Trump - "americanos decentes que apoiam essa campanha, a campanha de vocês, de ser racista, o que não somos", acrescentou.
"É um argumento cansativo, repulsivo", completou.