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Estado de Minas

Rejeição de plano de paz gera mais perguntas que respostas na Colômbia


postado em 03/10/2016 14:31

A rejeição em um plebiscito ao acordo de paz alcançado pelo governo da Colômbia e a guerrilha das Farc, para pôr fim a 52 anos de conflito armado, gera mais perguntas do que respostas sobre o futuro deste país sul-americano.

"Incerteza total", "limbo jurídico", "salto no nada", foram as frases mais repetidas por analistas após a vitória do "Não" (com 50,21% dos votos) nas urnas, no domingo, ao acordo negociado pelo governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas) por quase quatro anos em Cuba.

A seguir, as principais perguntas surgidas:

- O que acontecerá com a negociação?

O presidente Santos e sua equipe de negociadores disseram antes da votação que o acordo com as Farc era o "melhor possível" e asseguraram que não havia "espaço para reabrir as negociações", como pediam os partidários do "Não", liderados pelo ex-presidente Álvaro Uribe.

Agora, entretanto, o analista para Colômbia do International Crisis Group, Kyle Johnson, assegurou à AFP que surgirão "três negociações".

"A primeira, entre a oposição e o governo, sobre a possibilidade de renegociarem alguns temas do acordo; a segunda é que o resultado dessa negociação terá que ser ajustado com as Farc; e a terceira é o acordo interno das Farc, que terão que tomar difíceis decisões e ver como as apresentarão aos seus guerrilheiros", disse Johnson.

Tanto Uribe como as Farc mostraram seu interesse em solicitarem uma Assembleia Constituinte para reprojetar a política colombiana. Ainda que Johnson tenha assegurado que essa opção não pode ser descartada, para ele o resultado do plebiscito pode deixar a guerrilha mal representada.

- O que ocorrerá em termos de segurança pública?

Como parte do acordo de paz, as Farc e o governo mantêm um cessar-fogo bilateral desde o dia 29 de agosto. Mesmo que Santos tenha dito que se o "Não" ganhasse a guerra voltaria, no domingo tanto o presidente como os líderes da guerrilha anunciaram sua intenção de manter as armas "em silêncio".

O cientista político Frédéric Massé, da Universidade Externado de Colômbia, destacou como positivo que ambas as partes tenham decidido resgatar a "principal conquista" do acordo, que é o cessar-fogo.

"O retorno à guerra parece improvável em um curto prazo porque as Farc disseram que não querem, os uribistas afirmaram sua vontade de renegociar e o governo quer seguir adiante. O que sei é que o cessar-fogo fica mais frágil", disse Massé.

Como a trégua era supervisionada pelas Nações Unidas, fica pendente ver se o organismo internacional continuará fiscalizando após o resultado eleitoral.

- Como fica a liderança de Santos e Uribe?

Para Jorge Restrepo, diretor do Centro de Recursos para a Análise de Conflitos (Cerac), Uribe sai "sem dúvidas como um vitorioso". Entretanto, o líder opositor "não tem como materializar esse poder político em médio prazo" e ainda que tenha "bloqueado o acordo quando lhe deram a oportunidade, não tem o poder para fazer um novo acordo", advertiu este analista.

Santos, no entanto, "terminará mal o seu mandato" em 2018, segundo Massé. "É muito habilidoso, mas é certo que agora a correlação de forças muda e Uribe irá cobrar isto", acrescentou o cientista político.

- Em que posição as Farc ficam?

Ainda que estejam decididas a deixar suas armas e se tornar um partido político, segundo disse o líder guerrilheiro Rodrigo Londoño (Timochenko) após o plebiscito, dentro das Farc "o resultado pode gerar debates ou inclusive a radicalização de alguns setores", segundo Massé.

No entanto, Restrepo apontou que "em um curto prazo as Farc ficam demasiadamente poderosas com o capital político que construíram no processo". "Conquistaram um acordo favorável para elas e também conseguiram demonstrar que têm o controle, que podem renunciar ao lucro do crime organizado, que podem pedir perdão", explicou.

- Qual é o impacto internacional do resultado eleitoral?

Comprometidos como garantidores do processo, como o caso de Cuba e Noruega, ou como acompanhantes, como Chile e Venezuela. Mesmo com o envio de fundos e de pessoal para supervisionar o acordado, como através da ONU, os países do mundo continuarão atentos a tudo o que acontece com a paz da Colômbia.

"A comunidade internacional estava fazendo planos para a implementação dos acordos e agora deverá ver como apoiará uma solução negociada que inclua, de alguma forma, a oposição, e como assegurará que o processo chegue a um acordo e que não voltem à guerra. Esse resultado não muda o posicionamento da comunidade internacional, mas sim sua aproximação do assunto", explicou Johnson.


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