As negociações de quase 190 países se encerram nesta sexta-feira em Marrakech na conferência climática da ONU, sem avanços expressivos, mas tendo reafirmado a sua determinação em aplicar o Acordo de Paris, apesar da incerteza criada pela eleição do "climatocético" Donald Trump.
"Os progressos não foram espetaculares (...) mas pelo menos não houve bloqueio", disse o representante de Granada, em nome dos pequenos Estados insulares.
"As discussões foram construtivas, mas também um pouco caóticas, e há muito a fazer", admitiu um negociador europeu. "O Acordo de Paris decidiu o que fazer, as discussões na COP22 têm-se centrado sobre a forma de fazê-lo", disse ele.
Como garantir que os 100 bilhões de dólares anuais prometidos aos países em desenvolvimento serão aplicados em 2020? Como preparar a cúpula de 2018, quando a primeira avaliação das ações dos países deve ser feita?
Quais informações os Estados terão de fornecer sobre a sua política de ação climática para tornar o processo o mais transparente possível?
No Acordo de Paris, assinado em 2015, a comunidade internacional estabeleceu uma meta de conter o aumento global dos termômetros "bem abaixo dos 2°C" e revisar para cima os compromissos dos países, atualmente insuficientes para atender este limite.
Os países desenvolvidos também se comprometeram a ajudar os países em desenvolvimento a limitarem as emissões de gases do efeito estufa e a se protegerem dos impactos do aquecimento (secas, inundações, elevação do nível do mar, entre outros).
O apoio, além de financeiro, abrangerá também a transferência de tecnologia e conhecimento.
Em Marrakech, além das questões processuais essenciais com mais de 190 países ao redor da mesa, o financiamento tem sido uma questão sensível.
"Cerca de 20 bilhões de dólares em 2020 para as ações de adaptação (sistemas de alerta meteorológico, irrigação, acesso a água potável, represas, etc.), é totalmente inadequado", comentou Liz Gallagher, da ONG 3G.
"Há um monte de projetos de adaptação que precisam de financiamento, e isso é um dos pontos de discussão nesta COP", concordou nesta sexta-feira Salaheddine Mezouar, o ministro das Relações Exteriores marroquino, que preside os debates. "Marrakech ajudou a fazer com que a questão seja tida em conta", acrescentou.
Ilhas Fiji à frente da COP23
Para defender sua causa, os países em desenvolvimento destacam a última avaliação do Programa Ambiental da ONU, que estima as necessidades para as ações de adaptação em entre 140 e 300 bilhões por ano até 2030.
Na "proclamação de Marrakech", publicada quinta-feira e aprovada por todos os Estados, figura um apelo para "aumentar o montante, os pagamentos e o acesso ao financiamento para projetos climáticos".
"Nós, chefes de Estado, de Governo e delegações reunidos em Marrakech (...) solicitamos um compromisso político máximo para a luta contra as mudanças climáticas", afirma o texto.
Esta declaração é também uma resposta à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, que chamou as mudanças climáticas de farsa durante sua campanha.
No momento em que as discussões técnicas acabavam de começar, a eleição de um presidente americano "climatocético" foi um choque para os negociadores, que queriam celebrar a entrada em vigor do Acordo de Paris, efetivo desde 4 de novembro.
Mas a ansiedade e uma vontade inabalável de seguir em frente superou os temores.
"A política da China permanece inalterada (...), a vontade da China de trabalhar com outros países continua, e eu acredito que um líder sábio vai seguir o caminho global e histórico" da luta contra o aquecimento global, declarou na quinta-feira Xie Zhenhua, O negociador chinês.
O Reino Unido ratificou o Acordo de Paris na quinta-feira, elevando o total de países que o fizeram para 111.
Nesta sexta, as Ilhas Fiji, particularmente expostas às mudanças climáticas, anunciaram que seriam os organizadores da COP23 no final de 2017.
No entanto, por razões logísticas, a cúpula será realizada excepcionalmente em Bona (Alemanha), que abriga a sede da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
Como "pequeno Estado insular do Pacífico, precisamos mostrar ao mundo os problemas que estamos enfrentando", disse o primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama.
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