A comunidade internacional pediu nesta sexta-feira ao presidente eleito Donald Trump que não rompa com os compromissos dos Estados Unidos contra as mudanças climáticas, no último dia da Conferência do Clima da ONU em Marrakech (COP22), na qual 196 países reafirmaram seus objetivos.
As negociações se prolongaram na sexta-feira na COP22, mas o espírito do histórico Acordo de Paris contra o aquecimento do planeta, assinado no ano passado, se mantém vivo, concordaram os participantes e observadores.
As mudanças climáticas são uma realidade científica, e a luta para combatê-las é "irreversível", além de ser uma oportunidade de negócios, afirmaram os participantes em uma proclamação solene.
Trump considera as mudanças climáticas uma farsa, e durante a campanha à Presidência dos Estados Unidos disse que estava disposto a retirar o país do Acordo de Paris.
O presidente das negociações da COP22, o chanceler marroquino Salaheddine Mezouar, optou por apelar ao "pragmatismo" de Trump, um homem de negócios bem-sucedido.
"Nós continuamos o nosso caminho, não temos nenhuma dúvida sobre o espírito de pragmatismo do presidente Donald Trump" e seu "senso de compromisso" disse.
Mas também está em jogo a "dignidade de milhões de pessoas" ameaçadas pelos aquecimento global, alertou o ministro marroquino.
Mais dramático foi o chamado do primeiro-ministro de Fiji, um arquipélago diretamente ameaçado pela subida do nível do Oceano Pacífico.
"Da mesma maneira que olhamos para os Estados Unidos durante os dias escuros da Segunda Guerra Mundial (...) digo ao povo americano: 'vocês nos salvaram então, agora é tempo de nos ajudar a nos salvarmos" das mudanças climáticas, disse o primeiro-ministro, Frank Bainimarama.
Nesta sexta, as Ilhas Fiji anunciaram que seriam os organizadores da COP23, no final de 2017.
No entanto, por razões logísticas, a cúpula será realizada excepcionalmente em Bona (Alemanha), que abriga a sede da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
Ritmo de negociação lento
Há um ano, a comunidade internacional aprovou em Paris o acordo mais firme alcançado até hoje contra as mudanças climáticas, e nesta Conferência de Marrakech começaram as complexas negociações para implementá-lo.
Esse acordo, que força as nações a monitorarem mutuamente seus esforços contra as mudanças climáticas, precisou de mais de uma década de negociações.
As discussões se dividem em numerosos capítulos, principalmente financiamento, transparência (controle mútuo) e transferência de tecnologia.
O ritmo de negociação é lento e aberto em todas as frentes, como ocorre normalmente nas grandes reuniões da ONU sobre o clima.
"Ninguém queria ir a confronto aqui, os debates foram construtivos mas também um tanto caóticos, e falta muito por fazer" explicou à AFP uma fonte europeia sob anonimato.
"Após um ciclo de negociações longo e difícil (...) não se podia esperar grandes resultados concretos aqui", reconheceu à AFP a ex-secretária de Meio Ambiente espanhola, Teresa Ribera, diretora do centro de análises Iddri.
"Se os governos são sérios sobre os objetivos de Paris, deverão comparecer bem preparados em 2017 e 2018 para revisar seu progresso, aumentar a ambição e ampliar os fundos", reagiu a aliança de organizações ambientais Climate Action Network.
No capítulo do financiamento, os países desenvolvidos tinham se comprometido a desembolsar 100 bilhões de dólares anualmente a partir de 2020.
Os países em desenvolvimento e principalmente os mais atrasados pedem que essas ajudas sejam concretizadas na adaptação às mudanças climáticas, o que significa infraestruturas, como diques ou canais para combater as inundações, ou planos de desenvolvimento agrícola contra as secas.
Os países ricos também afirmam que é necessário destinar fundos à chamada mitigação, ou seja, a extinção progressiva dos focos emissores de gases de efeito estufa.
Em relação à transparência, os países debatem a conveniência de criar uma plataforma que colete periodicamente as ações de luta contra as mudanças climáticas de cada país.
Segundo o Acordo de Paris, os países devem apresentar seus avanços a cada cinco anos, a partir de 2018 de forma voluntária ou de 2020 de forma obrigatória. Mas, antes, é preciso entrar em acordo sobre os critérios científicos universais.
Antes da conferência de Paris de 2015, um número recorde de países anunciou pela primeira vez na história seus compromissos de redução de gases de efeito estufa tendo o ano de 2030 como horizonte.