Caçada ou privada de seu habitat, a girafa, por muito tempo preservada, se junta à lista vermelha de espécies ameaçadas, assim como dezenas de espécies de aves que acabam de ser descobertas.
Ícone da África, o maior animal terrestre perdeu 40% de sua população nos últimos trinta anos, alerta nesta quinta-feira a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Em 2015, a sua população caiu abaixo de 100.000 (cerca de 97.500, contra 155.000 em 1985): "estes majestosos animais estão enfrentando uma extinção silenciosa", observa Julian Fennessy para a UICN, organização de referência responsável pelo monitoramento do estado das espécies no mundo.
As girafas, até então consideradas como pouco ameaçadas, entra na lista de animais "vulneráveis", primeiro nível que leva ao risco de extinção.
De nove subespécies presentes em 21 países, três estão bem, uma está estável, mas as outras cinco registraram um declínio acentuado de suas populações, indica o relatório divulgado no México, à margem da Conferência das Nações Unidas sobre a Biodiversidade.
As causas deste desastre: a caça ilegal e a perda de habitat, ameaçado pela agricultura e mineração, bem como surtos de instabilidade civil e social, diz a UICN, que atualizou seus dados, por ocasião da conferência em Cancún, que acontece até 17 de dezembro.
Segundo os cientistas, a Terra está vivendo uma nova extinção em massa, a 6ª em apenas 500 milhões de anos: hoje as espécies desaparecem numa razão de 1.000 a 10.000 vezes mais rápido que há um século ou dois.
Recém-descobertos, já ameaçados
A lista da UICN inclui até à data 85.604 espécies animais e vegetais (uma fração do total), dos quais 24.307 estão ameaçadas de extinção.
Nos últimos anos, 742 espécies de aves foram identificadas (11.121 no total). Mas 11% delas já são consideradas "em perigo".
Por exemplo, o Thryophilus sernai, uma ave da Colômbia, pode ver metade de sua população dizimada por um projeto da represa. O magnífica Cyanolanius madagascarinus de Comores tem visto seu habitat diminuir pela agricultura e plantas invasoras.
Treze destas espécies "novas" já desapareceram, especialmente nas ilhas colonizadas por plantas invasoras.
"Infelizmente, identificar 700 espécies 'novas' não significa que as aves do mundo estão em melhor situação", ressalta Ian Burfield, responsável por esta lista.
"Mais nossos conhecimento são aprofundados, mais as nossas preocupações são confirmadas: a agricultura insustentável, o desmatamento, espécies invasoras, comércio ilegal levam as espécies à extinção".
Assim, o papagaio jacó, muito popular por ser um dos melhores falantes, viu a sua situação se deteriorar.
Pequena luz no escuro, graças aos esforços de proteção, várias espécies endêmicas em algumas ilhas, como o priolo dos Açores e a batuíra-de-santa-helena, se recuperaram em parte.
Em outro ambiente, na água doce, o UICN monitora os habitantes - moluscos, caranguejos, peixes, mas também libélulas - do lago Victoria.
Mas essa riqueza está ameaçada por espécies colonizadoras, como o enorme perca-do-nilo, assim como pela sedimentação e poluição da água gerada pela agricultura (pesticidas).
"Muitas espécies estão desaparecendo antes mesmo de nós teve tempo para descrever", lamenta o diretor da UICN, Inger Andersen: "Esta atualização mostra que a extinção pode ser mais extensa do que imaginávamos ".
"Os Estados reunidos em Cancún devem aumentar seus esforços para proteger a biodiversidade do nosso planeta", acrescenta, "não apenas para a biodiversidade, mas também para os seres humanos, incluindo a segurança alimentar e o desenvolvimento durável".
O UICN também mantém uma lista de espécies silvestres de plantas, amplamente ameaçadas pela expansão agrícola.
De acordo com um estudo recente publicado na revista Nature, três quartos das espécies animais e vegetais ameaçadas ou quase ameaçadas são vítimas de superexploração (para o comércio, recreação, subsistência). Mais da metade têm o seu habitat natural convertido em plantações ou fazendas.
Além disso, 19% dessas espécies já estão ameaçadas pelas alterações climáticas.
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