O Egito anunciou nesta quinta-feira (15) ter encontrado restos de explosivos nos cadáveres das vítimas da catástrofe aérea de 19 de maio, quando um avião da companhia aérea EgyptAir que fazia a rota Paris-Cairo caiu sem causa específica.
O voo MS804 despencou no mar entre Creta e o norte do Egito após ter desaparecido dos radares com 66 pessoas a bordo - entre eles 40 egípcios e 15 franceses -, sem deixar sobreviventes.
O Egito, que sempre acreditou na possibilidade de atentado, indicou que a descoberta de rastros de explosivos nos restos mortais das vítimas foi comunicado ao procurador-geral.
Segundo a legislação do país, "se recorre à promotoria quando os investigadores têm sérias suspeitas sobre a origem criminal de um acidente".
Já os investigadores franceses consideram um possível incidente técnico como a causa mais provável da catástrofe.
Uma das duas caixas-pretas encontradas revelou que foram ativados detectores de fumaça a bordo, e captou a palavra "fogo" antes da queda do Airbus A320 da EgyptAir.
A ausência de reivindicação de um possível ataque também sugere a possibilidade de falha técnica. Em outubro de 2015, o grupo extremista Estado Islâmico reivindicou a autoria de um atentado a bomba contra um avião que decolou do balneário egípcio de Sham al Sheij. No ataque, 224 pessoas que estavam a bordo morreram, em sua maioria turistas russos.
É impossível tirar conclusões
Na França, o Escritório de Investigações e de Análises para a segurança da aviação civil (BEA) pediu sensatez após o anúncio das autoridades egípcias.
"Na falta de informações detalhadas sobre as condições em que foram obtidas as provas e as medidas que conduziram à detecção de explosivos, o BEA considera que nesse momento não é possível tirar conclusões sobre a origem do acidente", ressaltou um porta-voz à AFP.
A fabricante aérea reportou não ter sido informada sobre as investigações em curso e preferiu não fazer comentários.
Os investigadores egípcios tinham comentado no passado sobre a presença de explosivos em pedaços do avião recuperados no mar, segundo fonte próxima a investigação. Mas para os especialistas franceses, os restos podem ter sido contaminados pelos sacos nos quais foram colocados.
Se a tese do atentado se confirmar, questões de como uma bomba pôde ter sido colocada a bordo da aeronave no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, de onde decolou, afirmam especialistas egípcios.
Antes do voo Cairo-Paris-Cairo, o avião realizou escalas em Eritreia e Tunísia, como foi indicado na época.
A Federação Nacional de Vítimas de Atentados e Acidentes Coletivos (Fenvac) qualificou o anúncio do Cairo como "manipulação".
"Trata-se de uma chantagem das autoridades egípcias (...) para proteger a companhia Egyptair, colocando a responsabilidade em Paris", acusou Stéphane Gicquel, secretário-geral da federação.
No final de setembro, as famílias das vítimas se queixavam de que ainda não haviam recuperado os corpos de seus familiares mortos no acidente.