Donald Trump realizará nesta quarta-feira sua primeira coletiva de imprensa em quase seis meses, que estará centrada em sua relação com a Rússia e em uma série de controvérsias a poucos dias de sua posse como presidente dos Estados Unidos.
A coletiva de imprensa será realizada após a divulgação de um relatório da inteligência americana sobre a existência de informações pessoais e financeiras muito comprometedoras envolvendo Trump em poder dos russos, sobre as quais o presidente eleito foi informado na semana passada.
Citando "múltiplos" funcionários americanos não identificados com conhecimento direto da reunião, a rede CNN disse que os chefes de espionagem apresentaram a Trump uma sinopse de duas páginas com informações que podem colocá-lo em evidência.
Meios de comunicação americanos publicaram - sem confirmar sua autenticidade - o documento de 35 páginas no qual esta sinopse se basearia.
A Rússia, no entanto, negou nesta quarta-feira ter "informações comprometedoras" sobre o presidente eleito dos Estados Unidos.
"O Kremlin não tem informações comprometedoras sobre Trump", disse à imprensa o porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dimitry Peskov, que afirmou que estas alegações pretendem "minar as relações bilaterais" entre Washington e Moscou.
Nenhum outro presidente eleito americano esperou tanto tempo para se apresentar formalmente ante os meios de comunicação, um gesto considerado importante como forma de prestar contas ao público.
Mas Trump já demonstrou que descumpriria as normas.
O multimilionário nova-iorquino, que nunca ocupou um cargo público, optou pelos tuítes incendiários, por enfrentar a China e por desqualificar quem se atrever a criticá-lo, da atriz Meryl Streep ao líder sindicalista de Indiana.
Concedeu apenas algumas entrevistas cara a cara com meios de comunicação selecionados e respondeu a perguntas da imprensa em encontros informais.
Sua atuação desta quarta-feira será acompanhada com atenção, num momento em que as pesquisas mostram que sua já sombria taxa de aprovação se deteriora à medida que o dia 20 de janeiro, quando assumirá o poder, se aproxima.
- Trama com a Rússia -
Segundo uma pesquisa da Universidade de Quinnipiac, 52% de seus eleitores acreditam que Trump será um líder "não tão bom" ou "ruim", e 51% consideram que está fazendo um mau trabalho como presidente eleito.
O magnata, de 70 anos, cuja última coletiva de imprensa ocorreu no dia 27 de julho, planeja se apresentar ante as câmeras às 11h00 (14h00 de Brasília) na Torre Trump, o arranha-céu nova-iorquino no qual vive e onde se encontra a sede de sua Trump Organization.
Este é o mesmo edifício no qual, em 16 de junho de 2015, anunciou que entrava na disputa pela Casa Branca, e onde ocorre quase toda a transição presidencial desde sua vitória, em 8 de novembro.
A tensão entre Washington e Moscou será analisada também no Senado, onde o ex-presidente da ExxonMobil, Rex Tillerson, começa nesta quarta-feira sua audiência de confirmação como secretário de Estado de Trump.
Os opositores do presidente eleito consideram que o texano é próximo do presidente russo, Vladimir Putin.
A inteligência americana acusou o Kremlin de ter tentado favorecer Trump na eleição presidencial ao hackear os servidores do Partido Democrata.
Trump admitiu que Moscou pode ter realizado este ataque cibernético, mas negou categoricamente que tenha agido desta forma para favorecer sua vitória, e considerou "estúpido" quem se opuser a ter melhores relações com a Rússia.
- Questões éticas -
Também acusou os democratas dos ataques cibernéticos, ao considerar que incorreram em uma "negligência" em matéria de ciber-segurança.
Trump havia marcado uma coletiva de imprensa para o dia 15 de dezembro, na qual exporia seus planos para a Trump Organization enquanto estiver na presidência, mas cancelou o encontro e disse que seus filhos Donald Jr e Eric se encarregariam de seu negócio.
Seus críticos estão preocupados por uma série de conflitos de interesse envolvendo Trump e membros de sua família.
Também há dúvidas sobre seus planos de retirar a reforma da saúde do presidente em fim de mandato, Barack Obama; sobre as audiências de confirmação daqueles que designou para integrar seu gabinete; e sobre a nomeação de seu genro Jared Kushner como alto assessor da Casa Branca.
Várias das pessoas designadas para integrar seu governo não completaram as verificações éticas, e o acelerado calendário das audiências gerou críticas, especialmente levando-se em conta que há vários milionários ou multimilionários.
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