O cerco judicial na França em torno do conservador François Fillon apertou nesta quinta-feira, com uma batida policial na residência do candidato presidencial, enquanto seu adversário de centro, Emmanuel Macron, completava a apresentação de seu programa.
Fillon retomou a campanha eleitoral em mais uma tentativa de superar a enorme crise envolvendo os supostos cargos fantasmas ocupados por sua mulher e filhos, mas a polícia vasculhou nesta quinta sua residência em Paris, como parte da investigação.
A batida envolveu o apartamento de Fillon em um elegante bairro da capital, informou uma fonte ligada à campanha do candidato conservador.
Paralelamente, o Parlamento Europeu decidiu suspender a imunidade da candidata de extrema direita e líder da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, que está sendo investigada por outro juiz, por divulgar na Web imagens de execuções do grupo jihadista Estado Islâmico.
- Macron se distancia -
O candidato de centro, Emmanuel Macron, completou nesta quinta a apresentação de seu esperado programa, enquanto se firma como favorito para a eleição de abril.
As últimas pesquisas colocam Macron, de 39 anos, como o favorito para enfrentar e vencer em um segundo turno, em 7 de maio, a candidata de extrema-direita Marine Le Pen.
Macron, acusado de ser muito vago em suas propostas, detalhou nesta quinta-feira as medidas sociais e políticas que misturam propostas capazes de convencer os eleitores de todas as tendências, como havia feito com seu programa econômico, no qual mesclou rigor e investimentos.
"Reconciliamos com este projeto a liberdade e a proteção", afirmou Macron ao apresentar seu "contrato com os franceses" diante de mais de 300 jornalistas.
"A França é um país irreformável. Mas não propomos reformá-lo. Propomos uma transformação completa", disse.
Macron promete reformar o sistema de aposentadorias, para estabelecer regras idênticas para os funcionários públicos e privados. Mas seu projeto não modifica a idade mínima legal para a aposentadoria. Também propõe uma "discriminação positiva" para que os habitantes dos subúrbios pobres consigam ter acesso a empregos.
Em relação aos pedidos de seu novo aliado do centro, François Bayrou, o programa de Macron prevê a redação de uma "grande lei de moralização da vida pública" que proibiria os parlamentares de empregar parentes "para colocar fim ao nepotismo".
Um golpe direto contra Fillon, 62 anos, que começou em novembro sua campanha como o grande favorito para as próximas eleições e que agora se encontra no terceiro lugar devido ao escândalo dos cargos fantasmas.
O candidato conservador anunciou na quarta-feira que será convocado no dia 15 de março pela procuradoria financeira "para ser indiciado".
- Vitória impossível -
"Não cederei, não me renderei, não me retirarei, irei até o fim", disse Fillon na quarta-feira. Nesta quinta retomou sua campanha com uma viagem à região de Gard (sul), sensível ao discurso da extrema direita e que nas eleições de 2015 votou em 42,62% pela Frente Nacional.
Penelope, a esposa de Fillon, também deve ser convocada pela justiça para um eventual indiciamento.
Este anúncio provocou as primeiras renúncias entre os partidários do candidato conservador. O partido de centro-direita UDI anunciou a suspensão de sua participação na campanha, enquanto o ex-ministro Bruno Le Maire renunciou de seu cargo na equipe de campanha.
Catherine Vautrin, vice-presidente de direita na Assembleia Nacional, pediu inclusive "outro candidato".
"Gostaria de vencer estas eleições presidenciais que eram imperdíveis e que são cada vez mais impossíveis de vencer", ressaltou nesta quinta-feira o senador de Marselha (sul) do partido conservador Os Republicanos, Brunos Gilles.
Inversamente, seus colaboradores mais próximos anunciaram a organização de um grande comício de apoio no domingo em Paris.
A candidata de extrema-direita, Marine Le Pen, também na mira da justiça por diferentes casos financeiros, pelos quais foram indiciados vários de seus colaboradores, estimou, por sua vez, que o comportamento de Fillon é "incoerente".
"O comportamento de François Fillon é no mínimo incoerente desde o início deste caso. No começo, indicou que se fosse indiciado não seria candidato", disse nesta quinta-feira em uma entrevista.
Le Pen, cuja popularidade não foi impactada até o momento por seus problemas com a justiça, sempre disse que um indiciamento não mudaria em nada sua própria candidatura.
Por sua vez, apenas um em cada quatro franceses (25%) deseja que Fillon continue sua campanha, segundo uma pesquisa feita após sua declaração de quarta-feira e publicada nesta quinta. Fillon perde espaço entre os simpatizantes de seu partido, Os Republicanos. Um total de 53% ainda o apoiam, mas perdeu 14 pontos percentuais em comparação com uma pesquisa anterior do início de fevereiro.