O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevedo, acredita que tanto a votação sobre o Brexit como a eleição de Donald Trump constituem uma forma de rejeição ao "establishment", apesar de a situação nos Estados Unidos ser "mais delicada".
Estes dois fenômenos, explicou em uma entrevista publicada neste sábado no jornal suíço Le Temps, "apesar de terem em comum uma forma de rejeição ao 'establishment', uma certa desconfiança em relação à globalização ou, inclusive, o comércio, têm uma origem que não é comparável".
"O Brexit responde a um desejo de sobernia e de autonomia regulamentar ante, em particular, uma migração percebida como prejudicial. Esta decisão não deriva, por exemplo, de uma vontade de limitar as importações", assinalo Azevedo, reeleito esta semana para um novo mandato à frente da OMC.
"No que diz respeito aos Estados Unidos, a situação é mais delicada", enfatizou.
A OMC foi novamente atacada esta semana pela administração Trump, que publicou um documento oficial que afirma que "os americanos não estão diretamente submetidos às decisões da OMC", apesar de serem membros da organização.
Mas, geralmente, o relatório publicado pelo Escritório de Representante do Comércio Exterior (USTR) confirma que os Estados Unidos privilegiarão os acordos bilaterais frente aos grandes tratados regionais, que lhes seriam menos favoráveis.
Indagado em várias ocasiões nas últimas semanas sobre o recuo econômico americano, o diretor-geral da OMC se limitou a dizer que os tempos são difíceis para o multilateralismo comercial e convidou os Estados Unidos a dialogar com ele.
"O mais importante não o que foi dito ou escrito por Washington sobre este tema e sim o que realizará ou poderá potencialmente realizar", explicou ao Le Temps.
"Não tenho por princípio fundamentar-me em intenção e sim em atos tangíveis, leis e políticas concretas", concluiu Azevedo.