A guerrilha das Farc da Colômbia, que implementa um acordo de paz com o governo para superar meio século de conflito, negou nesta segunda-feira ter recebido dinheiro da Odebrecht, construtora brasileira no centro do maior escândalo de corrupção da América Latina.
Alape, integrante do secretariado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), principal e mais antiga guerrilha do país, apontou que "a mesma empresa esclareceu que nenhuma situação semelhante aconteceu". De fato, no domingo, a construtora Odebrecht negou ter repassado dinheiro durante 20 anos às Farc para garantir a segurança de suas obras na Colômbia, como afirmou no sábado a revista Veja.
"A Odebrecht desmente e confirma que a afirmação da Veja, segundo a qual a empresa teria realizado pagamentos a um grupo guerrilheiro colombiano, é uma especulação", indicou a construtora em um comunicado enviado à AFP.
Segundo a Veja, dois executivos da empresa em depoimento admitiram os pagamentos, entre US$ 50 mil e US$ 100 mil por mês, em troca de "licenças" para a realização de obras nas áreas controladas pela guerrilha. A medida foi adotada nos anos 1990, depois que as Farc sequestraram dois executivos da Odebrecht.
Nos balanços da empresa, o chamado "imposto guerrilheiro" pago às Farc aparecia dentro das rubricas "custo operacional", ou "tributo territorial". Esse acordo permitiu à Odebrecht realizar, entre outros trabalhos, a Rota do Sol. Essa autoestrada de mais de 500 km une o centro da Colômbia à costa do Caribe.
Por casos de corrupção da Odebrecht, detectados em vários países da América Latina, foram presos na Colômbia o ex-vice-ministro dos Transporte Gabriel Garcia, o ex-senador Otto Bula e o engenheiro Andres Cardona por supostas propinas em obras em Bogotá.
Também está sendo investigada a participação da Odebrecht na campanha de reeleição do presidente Juan Manuel Santos, e de seu adversário, Oscar Ivan Zuluaga, em 2014.
As Farc assinaram em novembro um acordo de paz com o governo para acabar com um conflito de múltiplos atores (guerrilheiros, paramilitares, atores estatais), que deixou pelo menos 260.000 mortos, 60.000 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.
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