Um duplo atentado na cidade velha de Damasco fez neste sábado ao menos 59 mortos, em sua maioria peregrinos xiitas iraquianos.
"Houve pelo menos um homem-bomba que se explodiu" na cidade velha, localizada no sudeste de Damasco, indicou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Ele apresentou um balanço de pelo menos 59 mortos -47 peregrinos, a maioria xiitas iraquianos, e 12 combatentes pró-regime- e "dezenas de feridos, alguns graves" neste ataque, que não foi reivindicado.
O ministério iraquiano das Relações Exteriores informou que cerca de 40 de seus cidadãos morreram e mais de 100 ficaram feridos. "Os primeiros números indicam que cerca de 40 mártires iraquianos morreram e 120 ficaram feridos", declarou o porta-voz do ministério, Ahmed Jamal, denunciando uma "operação terrorista criminosa".
A televisão estatal síria relatou 40 mortos e 120 feridos, evocando a explosão de "duas bombas implantadas por terroristas", termo que usa para se referir aos inimigos do regime - rebeldes e extremistas islâmicos. A comunidade iraquiana acusou "grupos takfiris", as organizações extremistas sunistas. A televisão estatal síria exibiu imagens de vários ônibus destruídos, com janelas quebradas e alguns completamente queimados.
Trata-se de uma área onde há muitos mausoléus xiitas, considerados lugares de peregrinação, mas também mausoléus sunitas.
Nos últimos anos, vários ataques sangrentos tiveram como alvo um importante templo xiita perto de Damasco, Sayeda Zeinab. O mais sangrento ocorreu em 21 de fevereiro de 2016, quando 134 pessoas morreram, incluindo 97 civis. Foi reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), que controla vários territórios principalmente no leste do país.
O grupo, que havia conquistado vastos territórios no norte e no leste do país em 2014, tem perdido, desde então, muito de suas conquistas. Ele enfrenta atualmente três forças em torno de sua fortaleza de Raqa: tropas turcas e seus aliados rebeldes sírios, forças do governo sírio apoiadas pela Rússia e uma aliança entre árabes e curdos apoiada pelos Estados Unidos.
Recuo em Mossul
O atentado deste sábado também poderia levar o Iraque a realizar novos ataques na Síria, enquanto Bagdá já conduziu ofensivas na fronteira no mês passado. Neste contexto, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, assegurou que seu país "não hesitará" em atacar posições extremistas nos países vizinhos em caso de ameaça.
Desencadeada pela repressão dos protestos pró-democracia há quase seis anos, a guerra na Síria, que deixou mais de 310.000 mortos, tornou-se muito complexa, com o envolvimento de grupos jihadistas, forças regionais e potências internacionais, em um território muito fragmentado.
O EI também está presente no vizinho Iraque, onde é alvo de uma ofensiva das forças iraquianas em sua fortaleza de Mossul, a segunda maior cidade do país. As forças do governo lançaram uma ofensiva contra a cidade em 17 de outubro, tomando a zona leste da cidade no final de janeiro e avançam na reconquista da parte oeste. Na sexta-feira, as forças de combate ao terrorismo (CTS) recuperaram os bairros de al-Amil al-Oula e Al-Amil al-Thaniyah, de acordo com o Comando de Operações Conjuntas, que coordena a luta contra o EI no país.
O EI "perdeu muitos combatentes (...), o inimigo começa a afundar", declarou por sua vez à AFP o general Maan al-Saadi, comandante das CTS. Outro sinal de que o laço está apertando em Mossul, o líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi, "provavelmente deixou Mossul antes que a cidade e Tal Afar (mais a oeste) fossem isoladas pelas forças iraquianas", de acordo uma autoridade americana.
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