Os Estados Unidos lideraram nesta segunda-feira um grupo de países, entre eles Reino Unido e França, que se opõem a um tratado da ONU para proibir armas nucleares, ao considerar que este não leva em conta o atual panorama de crises mundiais.
"Não há nada que eu deseje mais para a minha família do que viver em um mundo sem armas nucleares", assegurou a embaixadora americana, Nikki Haley, no início das negociações sobre este tratado na Assembleia Geral das Nações Unidas, nas quais participam mais de 100 países.
"Mas é preciso ser realista", apontou.
Haley fez estas declarações rodeada pelos embaixadores de cerca de 20 aliados dos Estados Unidos, como Reino Unido, França e Coreia do Sul, vários países do leste da Europa membros da OTAN e Turquia.
Segundo ela, "cerca de 40 países" apoiam a decisão de não respaldar o tratado.
Rússia e China, que não apoiam as negociações, não acompanharam Haley em sua intervenção. Japão, o único país a sofrer um ataque nuclear, em 1945, também não as avaliza.
"Todos gostaríamos de que existisse a proibição às armas nucleares, mas hoje não podemos dizer que esta decisão protegeria nossos cidadãos", acrescentou a representante americana.
Haley reconheceu que os impulsores da medida agem de "boa fé", mas que "devem se perguntar se realmente entendem as ameaças que enfrentamos", ressaltou.
Os partidários das negociações afirmam que as potências nucleares não fizeram nada nos últimos anos para se desarmar, embora a embaixadora americana tenha rejeitado que seu país reduziu em 85% seu arsenal desde a entrada em vigor do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), em 1970.
O embaixador britânico, Matthew Rycroft, também assegurou que seu país está "totalmente comprometido em conseguir a longo prazo um mundo sem armas nucleares".
"Mas não acreditamos que estas negociações possam alcançar avanços reais em termos de desarmamento nuclear mundial", afirmou.
"A melhor forma de chegar a um desarmamento nuclear mundial é através de um desarmamento multilateral progressivo, negociado etapa por etapa no âmbito de acordos internacionais existentes", explicou.
Cenários imprevisíveis
A recusa das grandes potências nucleares não dissuadiu nações que defendem a iniciativa, como Brasil, Áustria, Irlanda, México, África do Sul e Suécia, nem centenas de ONGs, que estão convencidas de que o tratado reduzirá o risco de uma guerra atômica.
Diante da multiplicação de focos de tensão, das ameaças da Coreia do Norte e de um novo governo americano considerado imprevisível, decidiram tomar a frente, inspirados em movimentos que impulsaram a proibição de bombas de fragmentação (2008) e de minas antipessoais (1997).
"Isso levará tempo, não sejamos ingênuos", comentou a ministra sueca das Relações Exteriores, Margot Wallström.
"Mas é muito importante, principalmente neste momento em que assistimos a todo tipo de discurso de demonstração de força que inclui a ameaça de uso das armas nucleares", enfatizou.
Apesar dos compromissos adotados pelas grandes potências no TNP, nos últimos anos não foram registrados avanços em termos de desarmamento nuclear, lamentou Beatrice Fihn, diretora da coalizão internacional de ONGs Ican (International Campaign to Abolish Nuclear Weapons).
"Foram feitos muitos esforços desde o fim da Guerra Fria, e depois isso parou. (...) A administração de Obama decepcionou, fez promessas que não cumpriu. Agora os temores estão exacerbados com o novo presidente", Donald Trump, disse.
Baseando-se nas experiências com as bombas de fragmentação e as minas antipessoais, Fihn estimou que há "boas chances" de que um tratado seja adotado na primeira fase das negociações, que tem final previsto para 7 de julho.
Segundo ela, pouco importa que as potências nucleares não mostrem interesse nos debates, pois a adoção de um tratado as obrigará, cedo ou tarde, a revisar suas políticas, mesmo que atualmente estejam comprometidas com a modernização do seu armamento nuclear.
"Embora os principais fabricantes (de armas nucleares) não assinem, estes tratados têm um grande impacto", assegurou.