A província de Idleb, no noroeste da Síria, golpeada na terça-feira (4) por um suposto ataque químico letal, é uma das últimas regiões que resistem ao governo do presidente Bashar al-Assad, após seis anos de guerra no país.
Idleb na guerra
A província de Idleb tem uma importância estratégica, situada próximo à fronteira com a Turquia, país favorável aos rebeldes, e perto da província costeira de Latáquia, reduto do governo e berço da família do presidente Al-Assad.
Perto da estrada que une Aleppo e Damasco, a cidade de Idleb conta hoje com cerca de 200 mil habitantes.
Antes da guerra, a maioria dos habitantes da província trabalhava na agricultura, sobretudo, no cultivo de algodão e de cereais.
Em março de 2015, o Exército da Conquista (Jaish al-Fatah), uma coalizão composta por grupos rebeldes islamitas, como o Ahrar al-Sham, e extremistas, como a Frente al-Nosra (agora chamado Fateh al-Sham), apodera-se da cidade de Idleb. A população local é de maioria sunita.
Sua captura é um duro golpe para o governo, por se tratar da segunda capital provincial onde há resistência, depois de Raqa, transformada no reduto do grupo Estado Islâmico (EI).
Idleb e sua província serão repetidas vezes alvo de letais ataques aéreos da Aviação síria e de seu aliado russo, envolvido no conflito desde setembro de 2015.
Milhares de rebeldes e suas famílias foram transferidos para essa província, expelidos pela força de outros feudos insurgentes, especialmente na província de Damasco.
'Ataques químicos'
Antes do bombardeio de terça-feira sobre Khan Sheikhun, que deixou 86 mortos, entre eles 30 crianças, a província já havia sido vítima de outros "ataques químicos".
Em outubro de 2016, o Conselho de Segurança da ONU recebeu um informe confidencial, o qual concluía que o Exército sírio havia lançado um ataque com armas químicas, provavelmente cloro, em Qmenas, uma cidade da província, em março de 2015.
Em um informe precedente, a comissão de investigação concluiu que helicópteros militares expandiram gás de cloro sobre pelo menos duas localidades: em Talmenes, em 21 de abril de 2014; e em Sarmin, em 16 de março de 2015.
Fua e Kafraya, localidades pró-governo
As localidades xiitas de Fua e Kafraya estão sob controle do governo, mas cercadas pelos rebeldes islamitas.
Em virtude de um acordo firmado em 2015, seu destino sempre esteve ligado ao de Zabadani e Madaya, duas cidades sitiadas pelo governo na província de Damasco. Qualquer ajuda que chegar às localidades leais também deve ser entregue às duas cidades rebeldes.
Um novo acordo foi firmado no final de março para a evacuação da população dessas quatro localidades, mas sua aplicação foi adiada por tempo indeterminado.
'Guerra' dentro da rebelião
Desde o final de janeiro de 2017, a província de Idleb é palco de sangrentos combates entre o Fateh al-Sham (ex-filial síria da Al-Qaeda) e grupos rebeldes que até então eram seus aliados.
A rebelião se divide em dois: grupos insurgentes que rejeitam o processo de paz se fundiram ao Fateh al-Sham, sob o nome de Tahrir al-Sham, enquanto outros favoráveis às negociações se aliam com o grupo salafista Ahrar al-Sham.
Cidade de Ebla devastada
A antiga cidade de Ebla (Tall Mardij), na província de Idleb, erguida nos tempos de um dos reinos mais antigos da Síria, foi saqueada e devastada pelos combates. Suas tábuas de argila, que datam de 2.400 e 2.300 a.C. e foram descobertas em 1964, dão testemunho da invenção do primeiro alfabeto.